Vindas de onde as águas do açude Castanhão hoje imperam, 132 famílias tíªm uma nova oportunidade, em terra firme, de produzir e sustentar-se. Após quase 12 anos de espera, o Assentamento Mandacaru, no município de Jaguaribara, um dos projetos produtivos no perímetro irrigado do Complexo Castanhão, já tem sistema hídrico construído, plano de manejo definido, pasto com capim Tanzí¢nia e estrutura de ordenha. A perspectiva é de que torne-se um dos grandes polos de leite do Ceará.
Quando da construção do açude sob o Rio Jaguaribe, finalizada em 2002, tríªs perímetros irrigados foram criados para execução de projetos produtivos: Alagamar, Curupati e Mandacaru, formando o Distrito de Irrigação DIMAC, com 1.254 hectares. Os dois primeiros são dedicados í fruticultura, com cultivo de acerola, goiaba e maracujá. O perímetro do Mandacaru é composto por 172 famílias, com 40 que também desenvolverão a fruticultura e 132 que explorarão a pecuária de leite, resgatando a tradicional atividade e o forte vínculo histórico da venda de subprodutos do leite.
Em 2004, as famílias, oriundas de 20 localidades, chegaram ao assentamento de 390 hectares e passaram por um processo de seleção, de acordo com o patrimí´nio possuído por cada uma. Um ano depois, foram apresentadas alternativas de projeto, sendo desenvolvido o modelo de pecuária por pastagem irrigada por aspersão, com utilização de fertilização química e orgí¢nica e uma área de reserva constituída de Capim elefante ou Cana-de-açúcar. A pastagem será dividida, em sub-áreas (piquetes), com a utilização de cerca elétrica e a produção estimada é de 31,6 mil litros de leite por dia. A Empresa de Assistíªncia Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) e o Instituto Agropolos são responsáveis por oferecer assistíªncia técnica para a comunidade.
MATRIZES E ESTRUTURA
O projeto já sofreu modificações e vem sendo acompanhado desde sua concepção, lidando com fatores temporais que influenciam nas formas de manejo e na adequação da família ao sistema produtivo. Cada produtor criará 16 animais de início, com estabilização em 18 animais adultos no 6º ano de execução do projeto e alimentação baseada numa área de 2,6 ha, contando com uma área de reserva de 0,3 ha de Capineira de capim Elefante ou Cana-de-açúcar e suplementação concentrada. “A análise de 2005 previa 13 animais por família, porém, um novo estudo, em 2007, mostrou o novo cenário de custo e vimos que era preciso aumentar a produção por área e equilibrar a taxa de lotaçãoâ€, explicou o técnico do Agropolos, Allysandro Soares Herculano Barroso.
A produção diária de leite nos anos iniciais será de aproximadamente 160 litros, com estabilização por volta de 240 l no 6º ano, com matrizes a serem adquiridas no Estado de Minas Gerais. Os animais, que preferencialmente serão novilhas prenhas, da raça Girolando, serão do grupo genético ¾ e potencial médio de lactação de quatro mil litros por lactação. De acordo com o técnico, em outubro de 2011, houve visita em Uberaba, considerada cidade berço da raça leiteira. “Serão trazidos animais que colaborem com a melhoria genética do rebanho do Estadoâ€, destacou.
O projeto do assentamento Mandacaru, pensado de acordo com os conceitos já aplicados através do Pasto Verde (2000 – 2006), hoje já exibe 95% do pasto irrigado implantado, com capim Tanzí¢nia, além de 74 unidades de ordenha. “Duas famílias usarão a mesma unidade de ordenha, mas de forma independente. Há, ainda, dentro da unidade, dois espaços para depósito, seis cocheiras, banheiro e salas de retirada do leiteâ€, detalhou Alyssandro.
A estrutura de apoio í produção já conta com plataforma para recebimento de leite, com um pequeno laboratório para análise, escritório e galpão para armazenamento de ração. A comercialização da produção de leite do perímetro será feita com laticínios existentes no Ceará. De cada família, 30 litros/dia serão destinados í venda ao Programa Leite Fome Zero, ficando o excedente comercializado entre produtor e laticínio.
SISTEMA DE PRODUí‡íƒO
Vale ressaltar que o sistema de produção foi projetado utilizando números abaixo do que se pode alcançar em sistema de produção a pasto irrigado no Estado do Ceará. Devido í limitação de área e respeitando as limitações de algumas famílias envolvidas no projeto, a variável homem e pecuarista tradicional, foi um limitante para a utilização de índices baixos de produção.
Prospecções foram feitas com o prazo de quatro anos e concluiu-se que o total de vacas até 2016, para cada produtor, será de 18 e o total de animais somará 34. O crescimento total do rebanho terá, em seu primeiro ano, aumento de 27%, porém, em 2016 essa margem cairá para 2%. O número de partos de novilhas totalizará sete no sexto ano de execução, enquanto o de parto de vacas será de 11.
Entre as ações já iniciadas, destacam-se o corte de terra e incorporação de calcário e a produção de feno, que hoje conta com a produção de 12 fardos (de 350 kg) por hectare. “Transformando em fardos de 14 quilos, que é mais fácil de comercializar no mercado, teremos uma produtividade de 300 fardos por hectareâ€, explicou Alyssandro.
IRRIGAí‡íƒO
Já em fase avançada de implantação, a infraestrutura de irrigação, fundamental ao desenvolvimento da atividade leiteira planejada para o projeto, terá seis casas de bomba irrigando, em média, 22 lotes. A canalização é formada por 2.500 metros e possui seis estações de bombeamento secundárias.
Além do manejo do pasto, os produtores recebem orientação para produção de silagem de milho. Conforme Alyssandro, serão 2 hectares destinados í vacaria (cria e recria de animais em produção) e meio hectare para reserva de alimentos. Com a seca de 2012, enquanto as vacas não chegam, foi incentivado que os produtores fizessem o feno do capim Tanzí¢nia, como oportunidade de renda própria para as famílias.
“Outro meio hectare será para cultura de subsistíªncia para o primeiro ano do projetoâ€, completou o técnico do Agropolos. Serão tríªs anos de implementação total do projeto, o primeiro para implantação e os seguintes para acompanhamento.
FINANCIAMENTO
O custo de implantação do projeto produtivo do perímetro irrigado do Mandacaru custará, para cada família, R$ 98.070,00 sendo 77% (R$ 75.320,00) custeado pelo Governo do Estado e 23% (R$ 22.750,00) a cargo dos produtores das 132 famílias. As fontes de recursos utilizadas pelo Governo são do Fundo de Combate í Pobreza (Fecop) e do Banco Nacional de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (BNDES), enquanto do produtor será através do PRONAF A.
O valor final de desembolso com a implantação de todo o projeto será de R$ 22 milhões, sendo cerca de R$ 170 mil por família e R$ 56 mil por hectare. O desembolso financeiro seguirá sete etapas: implantação do sistema de irrigação on e off farme, estábulos, unidade de apoio í produção, implantação de pastagem, implantação de cerca elétrica, subsídio e máquinas e equipamentos.
Resolvendo a pendíªncia da titulação da terra, que o DNOCS promete resolver nos próximos meses, o financiamento para os produtores deve sair, possibilitando a aquisição das matrizes e colocando em produção deste importante projeto na região Jaguaribana.
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