As constantes interrupções de energia na zona rural estão deixando um rastro de prejuízos nos quatro cantos do Estado. Apagões de até três dias, oscilações constantes e incapacidade técnica da Celg para atender as reparações e restabelecer fornecimento estão ocasionando perda de produção, principalmente das matérias-primas perecíveis, como laticínios, e comprometendo da safra de grãos.
A produtora de leite de Silvânia Zeni da Silva Alexandria diz que, no mês passado, com a intensificação das chuvas, o serviço de fornecimento falhou diariamente. O período mais crítico foi há 20 dias, quando sua propriedade rural ficou três dias consecutivos sem energia. Resultado: sem eletricidade para a refrigeração e ordenha mecânica do leite, 800 litros foram perdidos e acabaram sendo doados para criadores de porcos.
A suspensão do serviço já causou uma redução de 25% na renda de sua família no último mês. “Tem hora que desanima. Dá vontade de parar”, afirma a produtora, de 71 anos, que há 8 anos investe no mercado de laticínios. “A cooperativa passou um papel para os produtores acompanhar essas quedas. Toda vez que acabar a energia, vamos anotar para depois exigir.”
O proprietário de uma pequena indústria de requeijão de Orizona, Ramos Aparecido de Freitas, reclama que está difícil encontrar matéria-prima para a sua produção. Segundo ele, a produção está parada, num momento em que as vendas são, geralmente, aquecidas. Ele ainda não fez os cálculos, mas já estima que a renda deve minguar neste mês.
“Os produtores de leite estão perdendo produção inteira por aqui com as quedas de energia. Eu não consigo encontrar o produto em lugar nenhum para fabricar. Já tentei busca em outras cidades da região, mas o problema é geral. Todo mundo está tendo de jogar leite fora. A produção está parada”, afirma.
O veterinário e produtor de Cachoeira de Goiás, Geraldo Vieira Moraes, explica que a energia é essencial para a ordenha mecânica e para a manutenção da temperatura de até 3°C do produto em tanques. Se falta a energia, aumenta a temperatura e o leite acaba “azedando”, ficando impróprio para o consumo e, por isso, não é vendido.
Ele ainda diz que, sem a ordenha, que também precisa de energia, o leite acumula e pode inflamar as glândulas mamárias das vacas leiteiras. “Há edema, vermelhidão, dor local e o leite fica ralo ou apresenta grumos, pus e sangue. Não é possível retirar manualmente quando se tem um rebanho grande. A falta de energia causa um impacto grande na produção, maior do que o esperado”, diz.
CULTURAS
Mas não são só os produtores de leite que estão tendo prejuízo com as interrupções. O produtor de soja e milho em Rio Verde, Sadi Secco, destaca que a irrigação complementar das lavouras de grãos de sua propriedade ficou comprometida nos últimos dias por conta da falta de energia.
“Não conseguíamos ligar os equipamentos. Ficamos esperando a volta do fornecimento. Esse problema é maior agora do que antes”, descreve. “Outro detalhe é que não tem mais Centro de Reclamações em Rio Verde. Tudo está em Goiânia. Você liga no 0800 e demora bastante para ser atendido, porque o problema está ocorrendo em vários pontos da cidade.”
Calejado com as constantes interrupções ou oscilações de energia na zona rural de Cristalina, no Entorno do Distrito Federal, o produtor irrigante Luiz Carlos Figueiredo está usando um transformador e um motor de sua propriedade para resolver o problema. “Os estragos são tão frequentes que já trabalhamos com essa cautela”, afirma.
Produtor de diversas culturas, ele depende totalmente da energia para irrigar seus 3 mil hectares de terra. “Não temos como investir em mais áreas porque falta energia.” Os prejuízos, conta, estão longe de ser apenas materiais. Ele explica que a safra sofre com o estresse hídrico a cada interrupção de energia.
O presidente da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, endossa os depoimentos e diz que a falta de manutenção das redes atuais e da elevação de carga necessária resultam em constantes perda para o setor, deixam pivôs de irrigação parados, causam mortes de animais nas granjas e prejuízos na armazenagem em todo o Estado.
Com a chegada das chuvas, os problemas aumentam. Segundo José Mário, a falta de investimentos em novas linhas de transmissão e a capacidade limitada de carga também estão impedindo a instalação de novos pivôs centrais e a ampliação da área irrigada no Estado. “Conseguimos financiamento para armazenagem com juros de 3% ao ano e 15 anos de prazo, mas não temos energia para investir.”
http://www.radioriovermelho.com.br/site/noticia.php?id=6679