Os preços recordes alcançados pela mandioca, no ano passado, levaram a um aumento da área de plantio na atual safra e, consequentemente, maior disponibilidade da raiz em todo o País. O resultado foi uma forte queda dos preços, que já se aproximam do custo de produção.
O Paraná, como segundo maior produtor brasileiro, atrás apenas do Pará, é um dos Estados mais afetados pela retração dos preços, sobretudo porque muitos proprietários rurais desistiram de outras culturas para iniciar-se no cultivo da mandioca. Outros já destinavam parte da propriedade à raiz e decidiram ampliar a área.
De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria Estadual da Agricultura, a área sofreu incremento de 13%, em comparação com a safra passada, saltando de 156,7 mil hectares para 177,1 mil hectares. Em relação à produção, a previsão é de aumento de 8%, chegando a 4 milhões de toneladas, contra 3,77 milhões, na safra passada.
«Já fazia uns três ou quatro anos que a mandioca estava lucrativa, mas, no ano passado, realmente os preços ficaram bem atraentes e, como outras atividades em minha propriedade não iam bem, optei por aumentar a área, mas agora vejo que não fiz um bom negócio», diz o produtor Aldo Hashimoto, da região de Paranacity. Ele já plantava três alqueires com mandioca, mas decidiu acabar com o pasto, porque o preço do leite mal cobria o custo de produção, e o laranjal, atingido pelo greening, e nesta safra plantou 25 alqueires com a raiz.
Horizonte
«Não posso dizer que me arrependo, mas não vejo perspectiva de melhora por tão cedo», diz o produtor. «A sorte é que a mandioca é o tipo do produto que permite ao agricultor esperar mais uns quatro ou cinco meses para vender. Vou esperar mais um pouco para ver se melhora», destaca.
Mas, Hashimoto não foi o único, em Paranacity, a ser atraído pelos preços recordes do ano passado. Teve quem acabasse com a pastagem, urucum ou laranja e ocupou 100% da propriedade com mandioca.
Segundo o engenheiro agrônomo Marcelo Hussar Manfiolli, da Emater, de 500 hectares plantados com mandioca, no ano passado, houve um salto para 1,1 mil neste ano. «Quando terminamos o levantamento, levamos um susto», diz o técnico. «Não é normal uma cultura aumentar tanto em apenas um ano», ressalta.
Segundo o Deral, a mandioca é uma das melhores opções para as terras da região do arenito, onde está a maioria dos espaços destinados à cultura e é explorada, principalmente, pela agricultura familiar, embora estejam também no arenito os grandes produtores. Mas o incremento na área de plantio foi resultado da seca que atingiu o Nordeste brasileiro no ano passado, levando as farinheiras da região a comprar a raiz no Paraná e outros Estados produtores. Com isto, os preços subiram, chegando à marca histórica de R$ 562, a tonelada, em dezembro de 2013, duas vezes e meia o preço atual. Ontem o valor médio pago ao produtor nas regiões de Paranavaí, Campo Mourão e Maringá girou em torno de R$ 224, a tonelada, valor praticamente igual ao custo de produção.
BALANÇO
70% da mandioca produzida, no Paraná, é destinada para ser industrializada.
71% de toda fécula fabricada, no Brasil, é produzida por empresas paranaenses.
JOÃO GARCIA APOSTA NA RECUPERAÇÃO DO SETOR
A queda nos preços da mandioca, desde maio deste ano, nem de longe assusta o produtor João Garcia, que cultiva 45 alqueires com a raiz e planeja aumentar a área para 75 alqueires, na próxima safra.
Na fazenda que mantém com o filho agrônomo André Garcia, na Estrada Jussara, em Mandaguaçu, ele tem também gado, soja, milho e outras culturas em menor quantidade. Quando um produto não vai bem de preço, outro garante o lucro da propriedade. Nesta semana, ele ofereceu serviço a cerca de 20 braçais, com máquina fofadora, trator e outros equipamentos, para arrancar cerca de 15 alqueires da raiz, cerca de 1,7 mil toneladas, e entregou à indústria de fécula a R$ 250.
«A mandioca é assim mesmo. Um ano vai bem, daí muita gente planta e os preços caem, daí muitos desistem, falta matéria-prima para a indústria e os preços voltam a subir», diz.