Com cinco dias de nascida, uma cabrita já apresentava aumento das mamas e secreção de leite.
com 20 dias, a produção de leite está maior e o estado de saúde do animal é avaliado como normal. As mamas cheias de leite chegaram a ser confundidas pelo seu criador com um caroço.
Com apenas cinco dias de nascida, a cabrita da raça saanen já produzia leite. Agora, com 20 dias, a produção aumentou, o que obriga o criador a fazer retiradas diárias, a fim de que as tetas não venham a ser acometidas por alguma enfermidade
Trata-se de um caprino da raça saanen, de origem suíça e eminentemente leiteira, e que está sendo criada pelo produtor rural Antí´nio Cí¢ndido Sobrinho, que se identifica como pequeno criador, em Mucunã, na zona rural de Maracanaú.
A estranheza com o bicho, que nasceu de parto normal, foi acompanhada de apreensão por Antí´nio Cí¢ndido, que logo procurou especialistas, a fim de saber se poderia criar com saúde ou se havia algum risco de vida. Atualmente está com mais e 20 dias e pesando 6,730 kg.
«Minha preocupação tinha fundamento, porque não vi algo parecido e a produção de leite constante poderia levar ao enfraquecimento do animal», disse o produto rural.
A cabrita faz parte de um pequeno rebanho de dez cabras. «Quando vi o bichinho, pensei que fosse uma doença. Antí´nio Cí¢ndido informou que, depois da retirada de uma boa quantidade, ainda resta uma xícara e 50ml. Há comprovação por especialistas de que se trata realmente de leite caprino.
«Por enquanto, o animal somente mama na mãe, mas estamos tentando introduzir algum tipo de ração para que não fique enfraquecido. Também retiramos leite todos os dias, a fim de que as tetas não fiquem endurecidas», afirmou o produtor.
Raridade
O fato é raro, como atesta o professor do Departamento de Zootecnia, da Universidade Federal do Ceará (UFC), veterinário Airton Alencar de Araújo, e há apenas dois casos registrados em todo o País. O primeiro aconteceu em Pernambuco.
Professor Airton ressaltou que, em caprinos, é o primeiro caso relatado no Ceará. Porém em bovinos, já houve casos de animais pré-púberes apresentarem desenvolvimento precoce da mama e produção de leite fora do período pós-parto ou de lactação, o que é denominado de galactorreia. «Encontrei um caso de uma cabrita em Pernambuco que apresentou um caso parecido também aos 14 dias de vida», afirmou o especialista. Ele explica que é difícil explicar como esse fení´meno acontece, pois na literatura sobre a fisiologia da glí¢ndula mamária este caso foge a regra. «A Biologia não é uma ciíªncia exata; e fení´menos como este ocorrem em várias áreas de estudo a Biologia», disse.
A complexidade para se chegar a um entendimento vai mais além. Airton observa que o desenvolvimento mamário depende da ação de vários hormí´nios que são secretados durante as fases de desenvolvimento da fíªmea, isto é, na pré-puberdade, puberdade, durante o ciclo estral, gestação e pós-parto, sendo a secreção de leite ocorrendo em uma mama desenvolvida nestas etapas. Assim, a ocorríªncia de uma mama infantil em lactação, isto é, que não passou por todas estas fases de desenvolvimento, é algo muito intrigante.
«Uma hipótese é que este fení´meno seja devido í ação de prolactina produzida pela hipófise da cabrita, que pode ocorrer em caso de tumor das células produtoras deste hormí´nio», disse.
O professor indicou que será necessário um estudo mais aprofundado, como dosagem de vários hormí´nios, para conhecer seus níveis, como também uma análise da composição deste leite, para verificar sua semelhança com o leite secretado normalmente por uma fíªmea adulta em estado de lactação.
Para o professor, a retirada de leite não prejudica o bem-estar do animal, mesmo sendo ainda um filhote. «Por enquanto, vamos ver a possibilidade de uma interrupção da produção de leite. Isto é, vamos elaborar um programa e secagem gradativa da mama. Na minha opinião, como mostra uma glí¢ndula mamária bem desenvolvida, e produzindo boa quantidade, acho que por enquanto o criador deve tirar. Mas eu vou acompanhar o caso e ver a possibilidade de secar a mama», prometeu.
O produtor Antí´nio Cí¢ndido reforça que o que quer é a garantia de que a cabrita vai sobreviver e que, por um fení´meno pouco estudado, não viesse a sofrer por não ter uma atividade normal como outros animais. «Felizmente fui muito bem atendido pelo professor», asseverou.
MARCUS PEIXOTO
REPí“RTER
Fonte: Diário do Nordeste