Seca castiga São Fidélis
Quem passa pelas estradas de terra batida pode ver cabeças de gado mortas nas fazendas do quarto distrito de Colônia, em São Fidélis. O município de 38 mil habitantes foi o primeiro a decretar estado de emergência por causa da seca que castiga o estado. A situação ainda não foi reconhecida pelo governo federal, que ficou de dar um parecer esta semana sobre o processo, emperrado há 40 dias no Ministério da Integração Nacional. Com o reconhecimento, a cidade do Norte Fluminense pode receber uma ajuda de R$ 3 milhões para recompor as perdas. Um valor baixo, mas significativo perto do orçamento anual do município (R$ 68 milhões). O decreto foi assinado em 30 de setembro pelo prefeito Luiz Carlos Fernandes Fratani (PMDB), mas teve que ser refeito em 29 de outubro, a pedido da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil.
Na cidade, o Rio Paraíba do Sul baixou mais de três metros desde que a estiagem começou, há mais de cinco meses, causando prejuízos à pesca, à agricultura e à pecuária. A produção de leite, que era de 313 mil litros, caiu 80%, prejudicando 300 produtores. Cerca de 200 famílias que sobrevivem da pesca estão em dificuldades. As propriedades rurais viraram um grande cemitério de animais, enterrados com auxílio de retroescavadeiras. Pelo menos 1.100 cabeças de gado, das 84 mil do rebanho, já morreram.Cenário desolador onde vive o produtor rural Nadílson de Souza, de 69 anos. Seu prejuízo chega a quase R$ 50 mil.
“Já morreram oito vacas e nove bezerros. Restaram 42 animais, mas estou com medo de perdê-los. Eu vendia leite para a cooperativa, mas nem isso posso fazer mais, pois tenho que alimentar meu rebanho. O capim acabou todo. A situação é desesperadora”, contou.
Os produtores enfrentam outro problema: a falta de cana-de-açúcar para alimentar os animais. As cidades vizinhas buscam o produto em Campos dos Goytacazes, mas a dificuldade é cada vez maior. “Estou com o dinheiro de vários produtores para puxar a cana lá de Campos e não conseguimos nada. Torço para que a cana não acabe, porque aí tudo vai piorar”, disse o secretário de Agricultura de São Fidélis, Gilberto Hentzy.
Moradora de Boa Esperança, Grasiela de Souza, 21, foi pedir ajuda. “Minha família passa por essa situação há dois meses. Meu pai tinha 34 cabeças de gado que produziam leite para uma cooperativa daqui e conseguia o nosso sustento. Quatro morreram e, agora, o pouco leite que está sendo produzido é para alimentar os bezerros que estão muito fracos”, lamentou.
Cidade que mais produz cana no estado (1,8 milhão de toneladas/ano, 70% do total), Campos também vem sofrendo com a estiagem. A queda de produção ficou em 350 mil toneladas, mais da metade da região, que perdeu 500 mil toneladas, um prejuízo estimado em R$ 35 milhões. “Disponibilizamos 10% do produto para as outras cidades. Quanto menor a produção, maior o sofrimento para todos”, explicou o secretário de Agricultura, Luiz Eduardo Crespo.
Produtores contabilizam prejuízos
Os prejuízos doem no bolso dos produtores. Adilson Peixoto, 44, nascido e criado em São Fidélis, diz que nunca viu uma estiagem como essa e lamenta as perdas. “Há 90 dias compro cana de Campos. Gasto R$ 1.500 com a cana e o frete. De cinco em cinco dias faço isso. Minha perda é gigante porque a cada caminhão que eu peço, poderia estar investindo em uma cabeça de gado. Aqui tenho 35”, afirmou.
O Riacho São Benedito, que abastece os açudes da região e passa no meio da fazenda de Adílson, está praticamente seco. “Se não fosse o poço artesiano que construí, eu não teria água desde fevereiro. Estamos torcendo para que chegue a chuva e o vento seco pare, pois também prejudica essa estiagem.”
Morador de Ipuca, segundo distrito, Márcio Libório, 45, contabiliza seu déficit no orçamento. “Perdi jiló, abóbora, quiabo. Tinha 250 pés de jiló, mas tive que arrancá-los, pois apodreceram. O prejuízo chegou a uns R$ 1.500 só de jiló. Fora as cinco mil abóboras e pés de alface. Nenhum cresceu. É muito triste. Agora é rezar para Deus mandar chuva para a gente”, disse, com lágrimas nos olhos.
Salvação da lavoura vem de Brasília
Em junho, uma medida provisória que beneficiará cerca de cinco mil produtores de cana do estado foi sancionada pela presidenta Dilma Rousseff. A MP prevê a subvenção de R$ 12 por tonelada de cana. Na semana passada, o secretário de Agricultura de Campos esteve em Brasília com os ministérios da Agricultura e da Fazenda para saber quando será publicado o decreto presidencial e o regulamento de pagamento da subvenção. Só depois disso o benefício começará a ser liberado.
“Soube que esta semana a Dilma cuidará do assunto. Esta notícia é a salvação da lavoura para os produtores de cana, que vêm acumulando muitas perdas devido às condições climáticas. Uma usina de cana foi desativada por causa da seca. Já tivemos problemas com a falta de chuvas em outros anos, mas em 2014 as perdas se intensificaram demais”, comentou Crespo.
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