Faltam #leites especiais

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Mães de crianças alérgicas à proteína do leite afirmam que, há meses, Prefeitura de Aparecida de Goiânia não fornece, com regularidade, o único alimento que seus filhos podem ingerir
Moradoras de Aparecida de Goiânia, mães de crianças que possuem alergias alimentares múltiplas e dependem do Neocate (bebida hipoalergênica que substitui o leite) para se alimentar, denunciam que desde o final do ano passado a divisão de medicamentos da Secretaria Municipal de Saúde não tem fornecido, com regularidade, o leite artificial, que custa, em média, R$ 180 nas farmácias.

Maria Ester

Cristiana Soares, 31, é mãe de Maria Ester, que tem alergia grave a leite de vaca, soja, trigo, batata, laranja e chuchu. Ela, que é confeiteira, expõe que não consegue mais trabalhar porque a delicadeza da saúde da filha consome o seu tempo: «Eu vou à emergência praticamente toda semana. Ela já chegou a ser internada quatro vezes em um mês», relata.

Cristiana conta que, desde o final do mês de maio deste ano, sua filha Maria Ester – à época com três meses e meio – se alimenta com Neocate. «A médica receitou oito latas do leite por mês para a Maria Ester na época. Em junho a gente conseguiu pegar toda a quantidade necessária do leite, mas em julho fomos na farmácia da prefeitura e nos disseram que não tinha mais o leite. Naquele mês meu marido gastou quase um terço do salário dele para comprar metade do leite, e o irmão dele ajudou com a outra metade», diz. Ela admite que para fazer o alimento durar mais, ela amamentava a filha com menos leite: «Como a quantidade era menor, eu deixava a Maria Ester chorando de fome.»

Em agosto, Cristiana conseguiu pegar as oito latas de Neocate na prefeitura, porém em setembro, foram entregues apenas três latas de leite. «Agora que minha filha cresceu um pouco, ela já está precisando de 11 latas de Neocate por mês. Meu marido conseguiu comprar mais quatro latas, e eu comecei a fazer uma rifa com os tapetes que minha mãe faz para juntar dinheiro e comprar as outras quatro latas de leite», esclarece.

Cristiana revela que tem gasto financeiro muito alto também com outros medicamentos que Maria Ester usa: «A prefeitura deveria fornecer o Losec (omeprazol), mas eles sempre dizem que não têm. Eu gasto quase R$ 300 por mês só com esse remédio», aponta. Ela indica que para conseguir comprar esses produtos tão caros, conta com o socorro de amigos para lhes ajudar com a cesta básica, mas mesmo assim as contas acabam ficando atrasadas por alguns meses.

«Cadê o leite que eles dizem que têm, mas não entregam? O que eles estão fazendo as latas de Neocate que ainda estão no estoque?», questiona. «Isso é uma falta de respeito com a vida dessas crianças!»

Laysa

Lorrany Cordeiro Neto, 19, é mãe da Laysa, que tem alergia à proteína do leite de vaca, refluxo grave e esôfago estreito. «Minha filha é cardiopata e tem Síndrome de Down, e eu não tenho condições financeiras de pagar por uma babá para ela. Por isso parei de trabalhar quando ela nasceu, há dois anos e três meses», expõe. Aos sábados ela presta serviço de manicure, que lhe rende até R$ 60 por semana.

Durante a semana, Lorrany leva Laysa à Apae: «São três horas de ônibus do Madre Germana – onde eu moro – até o Setor Coimbra – onde fica a unidade da Apae que a Laysa estuda.» A mãe conta que a filha permanece no local por pouco menos de três horas diárias, «mas a gente só chega em casa no meio da tarde. Quase não sobra tempo para mais nada no dia», revela.

Laysa ficou internada no hospital desde que nasceu até quase ter cinco meses. «Quando ela estava na UTI, ela tinha dieta zero. Desde que ela saiu os médicos vem trocando o leite que a Laysa toma, procurando ver qual ela se adapta, mas ela só tem piorado», lamenta. Até o mês de agosto a criança estava se alimentando com Isomil de soja, porém semanas atrás a pequena Laysa começou a manifestar reações alérgicas também a esse leite artificial. Neste contexto a médica lhe receitou o Neocate.

«Quando eu cheguei com a receita do Neocate da divisão de medicamentos da prefeitura, eles marcaram para quase 15 dias depois a perícia para verificar a necessidade da Laysa para esse alimento. Quanto eu finalmente fiz a perícia, eles disseram que não tinham sequer uma lata para me adiantar. Eu mostrei a barriga dela que estava enorme por causa do outro leite e ela chorando de dor, mas me falaram que não depende deles, e que em 15 dias chegaria mais latas de Neocate. Mas até agora, nada», relata.

Lorrany afirma que desde então liga várias vezes por semana para a farmácia da prefeitura de Aparecida de Goiânia, mas simplesmente ouve que não há o leite em estoque. «Sexta-feira da semana passada eu ganhei duas latas. As mães do grupo Mais 21 (formado por pais que tem filhos com Síndrome de Down) fizeram uma ‘vaquinha’ e me deram uma lata de Neocate e uma mãe que conheci enquanto eu aguardava a perícia da divisão de medicamentos me deu outra lata», conta.

Ela comenta que a última lata já está acabando e que ainda não sabe o que vai fazer para continuar a alimentar a filha: «Eu já tenho que comprar o Losec, que desde novembro do ano passado não tem nas farmácias da prefeitura», aponta. Lorrany revela que seu marido é armador de ferragem e ganha por volta de R$ 1.300, o que não lhes permite arcar integralmente com todos os custos da saúde da filha.

Atualmente o estado clínico de saúde da Laysa é considerado grave. Essa semana ela fez transfusão de sangue porque estava com anemia grave devido ao leite de soja que estava tomando.

Miguel

Sara Márcia Pereira, 35 anos, conta que o filho Miguel mamou no peito menos de uma semana e já apresentou sinais de alergia alimentar. Com um mês de idade, ele foi diagnosticado com alergia a lactose e posteriormente a frutose, soja e glicose. Ele já foi internado por pneumonia decorrente do refluxo, que ele também possui.

Atualmente Miguel – que tem dois anos e três meses – se alimenta todos os dias apenas com Neocate e papinha de arroz e peito de frango. Sara comenta que ele já ficou internado por causa de uma forte crise de diarreia quando ela tentou introduzir outros alimentos à dieta do seu filho.

Ela é professora da rede municipal de Goiânia, mas está de licença não remunerada, há quatro meses, para tratar de interesses particulares. Sara revela que convive diariamente com a angústia da incerteza, se terá ou não o único leite com o qual seu filho pode se alimentar: «Toda vez que nós vamos à divisão de medicamentos, o Miguel pergunta ‘mamãe, tem leite hoje'», comenta.

Ela garante que desde o final do ano passado o fornecimento do Neocate pela prefeitura de Aparecida de Goiânia é inconstante: «Em dezembro eu já não consegui pegar. Em abril como eles disseram que não tinham de novo, tive que ir ao Ministério Público para que eles, através de um mandato de segurança, me entregassem as latas que Neocate», relata.

Sara assegura que em julho também não conseguiu pegar o leite especial na prefeitura e teve de buscar doações em igrejas, ganhou algumas latas de outros pais e teve apoio financeiro de parentes para conseguir completar a quantidade de leite que o filho precisa. Em agosto, ela conseguiu pegar todas as onze latas de leite para o período de um mês, mas em setembro obteve apenas oito latas: «nós tivemos que comprar o restante, e cada lata de Neocate dura praticamente dois dias», aponta.

Ela reclama que os exames para a elaboração dos laudos que comprovam a necessidade de dieta à base de Neocate são muito invasivos – como colonoscopia, endoscopia e vários exames de sangue frequentes. Sara também declara que muitas vezes é necessário se deslocar até o Centro de Aparecida de Goiânia para saber se o leite já está disponível. «Para conseguir falar por telefone com eles é preciso insistir muito, por vários dias, porque normalmente eles não atendem ao telefone», informa.

Ana Beatriz

Ana Luíza Martins, 36, é administradora e conta que não pode trabalhar porque sua filha Ana Beatriz requer muitos cuidados. Ana Beatriz tem cinco meses, e já foi diagnosticada com alergia à lactose. Durante seus dois primeiros meses ela experimentou vários tipos de leites especiais substitutivos – época na qual chegou a ser internada por pneumonia -, mas só se adaptou ao Neocate.

Ana Luíza relata que em junho conseguiu pegar as oito latas receitadas para sua filha, mas em julho – quando voltou à divisão de medicamentos da prefeitura de Aparecida de Goiânia – foi informada que não tinha mais o alimento. Da mesma forma, em agosto Ana Luíza ganhou o leite, mas esse mês de setembro só conseguiu pegar metade. «Normalmente já temos que comprar mais três latas de Neocate para a Ana Beatriz mamar bem. Fica pesado financeiramente quando precisamos comprar ainda mais», afirma.

Há aproximadamente um mês Ana Beatriz se recusou uma vez a beber o Neocate e a mãe lhe ofereceu o leite Nan – que a filha já tinha mamado quando mais nova –, porém ela teve de ser levada imediatamente ao pronto-socorro: «logo que a Ana Beatriz começou a tomar o Nan ela manifestou sinais de sufocamento e ficou toda empolada», comenta.

Bruna

Michelle Borges, 33, conta que sua filha Bruna, que tem um ano e quatro meses, foi diagnosticada com alergia à proteína do leite de vaca e refluxo forte quando ela tinha um mês de vida. «Com 10 dias, ela começou a manifestar sufocamento ao amamentar no meu peito. Eu tive que fazer dieta específica para conseguir amamentar a Bruna até ela fazer oito meses», relata.

Bruna começou a tomar o leite Pregomin Pepti com um mês de nascida. Michelle conta que na primeira vez que foi buscar as latas do leite especial na divisão de medicamentos da Prefeitura de Aparecida de Goiânia – em maio do ano passado – conseguiu pegar todas as latas que precisava, contudo no mês seguinte já foi informada que o leite estava em falta.

Em julho daquele ano Michelle conseguiu ganhar o leite, mas em agosto teve de procurar o Ministério Público porque faltou novamente. «Uma vez, quando obtive um mandato de segurança, a prefeitura me entregou uma caixa fechada com latas de Pregomin Pepti que faltava uma semana para vencer. Para mim, isso demonstra claramente que aqueles produtos já estavam lá há muito tempo», analisa.

Ela conta que a distribuição desses alimentos para a população nunca foi constante.

Secretaria

de Saúde

Michelle Vilela, Coordenadora da Farmácia Distrital de Aparecida de Goiânia, explica que é necessário um processo licitatório para toda aquisição feita por órgãos públicos. «Foi aberta uma licitação no começo do ano para as dietas especiais, mas até hoje esse processo licitatório ainda não foi concluído – embora as licitações tenham de findar em até 120 dias após a abertura – porque a maioria das empresas entra com recursos nesses casos de produtos muito caros, tornando o trâmite grande e burocrático. Já foi pedida prioridade nesse processo», se defende.

Ela menciona que foi feita uma dispensa de licitação para fazer uma compra emergencial: «Durante este intervalo adquirimos uma quantidade para três meses enquanto a gente aguarda o fim da licitação. A informação que eu tenho é que nós ainda temos algumas latas do leite; o estoque está bem reduzido e há poucas latas, mas ainda estamos entregando à população, está normalmente», acredita.

Michelle Vilela informa que já estão sendo colhidas as assinaturas dos ganhadores do pregão eletrônico para as atas: «Agora não demora tanto assim mais, mas é difícil estimar um tempo certo», constata.

http://www.dm.com.br/texto/192247-faltam-leites-especiais

 

 

 

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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