#“Estamos numa posição muito passiva”

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Jessica Ng, directora executiva da Associação de Farmácias de Macau, afirma que os estabelecimentos nada podem fazer para aumentar a oferta de leite em pó infantil face í  actual situação de escassez. A ruptura dos stocks de algumas das marcas preferidas dos clientes locais é atribuí­da ao aumento da procura pelos visitantes do Continente. Em entrevista ao PONTO FINAL, na qual quis reservar a sua imagem, a dirigente diz também que não compete í s farmácias fiscalizar eventuais situações de contrabando de produtos.

– Mais uma vez Macau enfrenta uma situação de escassez de leite em pó. A cadeia da oferta não parece estar a funcionar. Qual é, na opinião da Associação das Farmácias de Macau, a causa deste problema?

Jessica Ng – Há muito tempo que a razão para que tal aconteça é que , devido aos problemas verificados no leite em pó infantil de fabrico chiníªs, muitos visitantes do Continente se deslocam a Macau, Hong Kong e até outras regiões no exterior para adquirirem este produto e o levarem para a China Continental. Macau é uma cidade muito pequena. Há alguns anos tí­nhamos apenas entre dois mil a tríªs mil nascimentos por ano, um número muito limitado. Por isso, o mercado não pode subitamente suportar um aumento da procura tão grande. í‰ a razão principal.

– Mas o aumento da procura por leite em pó tem sido gradual ou houve um crescimento repentino que não permitiu í s farmácias prepararem-se para dar resposta?

J.N. – Acho que isto sucede há alguns anos, desde a crise do leite na China [2008]. Depois disso, as pessoas aderiram totalmente í s marcas estrangeiras, e foi a partir daí­ que começámos a sentir a falta do produto.

– As farmácias locais não foram capazes de adaptar-se a esta nova procura?

J.N. – As farmácias são apenas o retalhista na cadeia da oferta, estamos numa posição muito passiva. Apenas podemos aumentar as encomendas, e só podemos encomendar ao fornecedor, que depois faz a encomenda junto do fabricante. Da fábrica até nós, o processo demora uns dois meses. A maioria dos produtos vem de paí­ses como a Holanda ou a Nova Zelí¢ndia, que ficam distantes de Macau. O transporte das mercadorias demora algum tempo, assim como a própria produção. Precisamos de tempo. Se a procura aumenta subitamente, o fabricante demora o seu tempo a produzir. í‰ preciso tempo para acompanhar a procura.

– Durante este ano, desde a crise do leite, não foi possí­vel chegar a uma situação de oferta estável?

J.N. – Tanto quanto sei – porque contactamos com os diferentes fornecedores das várias marcas de leite em pó –, já foi aumentado o fornecimento. Ainda assim, as pessoas estão a par do ritmo de crescimento do número de visitantes de Macau. Não foi possí­vel ainda acompanhar a procura. Esse é o problema. Além disso, este é o Ano do Dragão. Os dados estatí­sticos de Macau que temos aqui indicam que o número de nascimentos, em Novembro último, por comparação com o mesmo míªs de 2001, cresceu 26,4 por cento. í‰ um dos factores que não são previsí­veis – pode prever-se algum aumento, mas não desta ordem. Se Macau regista um aumento destes, o mesmo acontece no Continente. As pessoas querem que os filhos nasçam no Ano do Dragão.

– Tem também dados quanto ao actual volume do fornecimento de leite em pó a Macau?

J.N. – Não tenho esses dados. Somos apenas vendedores a retalho. Os fornecedores, e até o Governo, devem ter os dados de importação.

– O número de farmácias de Macau, pelo menos, aumentou consideravelmente nos últimos anos.

J.N. – Não sei exactamente quanto. A nossa ocupação é o nosso negócio. Não somos funcionários de estatí­stica. Temos mais de uma centena de farmácias em Macau.

– Mas houve um grande salto neste sector?

J.N. – Não temos dados concretos, mas, sim, cresceu.

– Perguntava no sentido de saber se o aumento de procura por parte dos visitantes do Continente contribuiu para esta expansão do sector?

J.N. – Sim, podemos dizer isso. Mas julgo que as farmácias não são as únicas beneficiárias deste crescimento, naturalmente. Todos os sectores beneficiam disto.

– Diria que, actualmente, a actividade das farmácias está mais dependente da procura dos visitantes do que dos residentes?

J.N – Temos mais de uma centena de farmácias – não sei exactamente os dados, porque todos os dias surgem novas farmácias. Quanto í  localização das farmácias, estas estão dispersas por várias zonas de Macau. Algumas tíªm como cliente principal os visitantes, outras os residentes. Tíªm diferentes clientes-alvo.

– Referiu o problema do fornecimento í s farmácias, apesar das encomendas. O número de fornecedores tem-se mantido estável ou tem aumentado também?

J.N. – í‰ bastante estável, apesar de vez em quando surgirem alguns produtos novos, poucos. O número de fornecedores está relacionado com o número de marcas em leite em pó infantil no mercado. Há poucas marcas novas. Em geral, neste mercado, as pessoas preferem as marcas que já conhecem e que são usadas há bastante tempo. A maior parte dos pais quer as marcas mais conhecidas. Aquelas marcas que se estreiam no mercado são difí­ceis de aceitar. Demora algum tempo para que os clientes façam essa substituição.

– Do volume total de vendas das farmácias locais, que parte é ocupada pelas vendas de leite em pó? í‰ significativa no conjunto?

J.N. – Não tenho um cálculo exacto, mas o leite em pó para crianças não é um dos produtos principais. O que mais se vende são ainda os medicamentos e os produtos de saúde. Devido também á limitação no fornecimento, ainda que queiramos vender mais leite em pó, não o temos.

– Mas podia ser um bom negócio?

J.N. – Se falarmos apenas de Macau, é um mercado pequeno. Temos apenas entre cinco a seis mil novos nascimentos por ano nesta altura. Mas, devido í  crise de confiança na China, a questão coloca-se aqui.

– Algumas farmácias admitem tentar racionar as vendas dos produtos quando identificam o cliente como sendo da China Continental. As farmácias devem ter esta polí­tica?

J.N. – Entendo que é difí­cil para as farmácias adoptar esta medida. Estamos apenas a fazer o nosso negócio. í‰ difí­cil que as pessoas responsáveis pelas vendas atrás do balcão consigam distinguir quem é do interior da China e quem é de Macau – a menos que se tratem de clientes regulares de há muitos anos. Se o cliente entra, e se nós temos o produto, não podemos dizer que não o vamos vender. As quantidades é que podem ser limitadas, porque não temos suficiente oferta. De cada vez que encomendamos, não recebemos dez caixas, mas sim apenas uma ou duas – cada uma contendo dez ou 12 latas de leite em pó. Não podemos vender todas imediatamente. Se um cliente quiser comprar dez latas, não podemos vendíª-las – apenas uma ou duas. Acho que é uma forma bastante lógica de lidar com a questão.

– Em ambiente de mercado, pode haver uma medida comercial que discrimine clientes?

J.N. – í‰ muito difí­cil para nós estabelecer esse tipo de medida. Somos comerciantes. A menos que o Governo pondere algum tipo de regulamentação. Para nós, é difí­cil executar algo dessa natureza. O que sei é que algumas farmácias que tíªm clientes regulares, sabendo que estes tíªm crianças pequenas, ajudam esses clientes a encontrar o produto. Este é um serviço especial das farmácias aos seus clientes. Sei que isto acontece.

– A principal preocupação nesta matéria prende-se com eventuais casos de contrabando para especulação no Continente. As farmácias não estarão capacitadas para esta supervisão, mas antes a inspecção das Alfí¢ndegas.

J.N. – As farmácias nada podem fazer quanto a isso. Não somos a polí­cia, nem o Governo. O que podemos fazer, no máximo, é não vender todos os produtos a uma mesma pessoa. tentamos vender uma a duas latas. Também podemos tentar ajudar os clientes habituais.

– Alguns deputados, na última semana e na actual, tíªm levantado suspeitas de que as farmácias e os supermercados possam estar a conter a oferta dos produtos. Como comenta estas alegações?

J.N. – í‰ difí­cil que assim seja. Tal como disse, ainda que queiramos encomendar mais produtos, temos de cada vez apenas uma ou duas caixas. Não temos grandes quantidades. Como o poderí­amos fazer? Não há margem para uma situação como essa. Simplesmente, não temos o produto, não temos stock suficiente.

– As farmácias tíªm de recorrer sempre aos mesmos fornecedores para obter os produtos?

J.N. – Para cada marca somos abastecidos por um único fornecedor.

– Não é possí­vel encomendar directamente ao fabricante?

J.N. – Não, não é possí­vel. A importação exige um procedimento muito complicado, há várias inspecções.

– Para referíªncia, qual é actualmente o número de fornecedores?

J.N. – Não sei ao certo. Há que verificar quantas marcas estão í  venda.

– As equipas de inspecção dos Serviços de Economia do Governo deviam actuar neste tipo de situações de escassez para apurar as causas do problema?

J.N. – Julgo que o Governo já se deu conta disso. As pessoas estão a fazer bastante barulho por causa desta questão. Definitivamente, o Governo já estará a pensar no assunto. í‰ o que eu penso.

– Atendendo ao crescimento do número de farmácias, em que alguma estão mais devotadas ao mercado dos residentes e outras ao dos visitantes, faz sentido discriminar os estabelecimentos em termos do tipo de produtos que vendem: uns mais medicamentos, outros mais cosméticos e suplementos. Deve haver regulação que distinga diferentes tipos de farmácias em Macau?

J.N. – A lei de Macau é bastante clara quanto ao que pode ser vendido nas farmácias. A distinção entre os diferentes produtos também há normas. Por exemplo, os medicamentos tíªm de ser vendidos ao balcão. Todos os outros produtos estão em zonas diferentes do estabelecimento. í‰ mais ou menos assim que sucede. Cada farmácia tem depois diferentes disposições.

– Há alguns paí­ses que adoptam a polí­tica de distinguir entre farmácias e outro tipo de estabelecimentos que se dedicam í  venda de produtos sem receita médica obrigatória. Este tipo de polí­tica seria adequado a Macau?

J.N. – Claro que temos de manter o nosso profissionalismo. Mas, por outro lado, temos de pensar em termos da conveniíªncia do consumidor. Estes são objectivos comuns. Entendo que neste momento, temos um sistema bastante bom quanto a esse aspecto.

– Os deputados estão agora a concluir a discussão da Lei de Segurança Alimentar, que não abrangerá medicamentos. Quanto a estes, entende que as actuais normas para segurança dos medicamentos estão actualizadas?

J.N. – Entendo que sim. A actual regulamentação, as restrições existentes, assim como o sistema de licenciamento dos produtos, são bastante rigorosos. Há uma boa protecção aos residentes no seu conjunto.
“Estamos numa posição muito passiva”

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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