Desfazendo o mito da revolta do leite de 1936 (II)

O leite da ordenha da tarde era guardado no próprio estábulo e muitas vezes depois de aquecido era junto ao leite da ordenha da manhã. Às primeiras horas da madrugada, os leiteiros iniciavam a sua faina de recolha pelos diferentes estábulos e locais de concentração da zona abastecedora, descendo em seguida à cidade para efectuarem a distribuição.
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O leite da ordenha da tarde era guardado no próprio estábulo e muitas vezes depois de aquecido era junto ao leite da ordenha da manhã. Às primeiras horas da madrugada, os leiteiros iniciavam a sua faina de recolha pelos diferentes estábulos e locais de concentração da zona abastecedora, descendo em seguida à cidade para efectuarem a distribuição. Algum desse leite distribuído destinava-se a ser consumido apenas no dia imediato, o que vinha acentuar mais as dificuldades apontadas.
As vasilhas em que era transportado o leite para distribuição porta a porta serviam quase sempre para, no regresso a casa, transportar os mais diversos produtos. O leiteiro dispunha de uma liberdade de actuação que a sua ignorância utilizava sem conhecimento dos males que poderia provocar à saúde do consumidor. Os serviços de fiscalização eram impotentes para acabar com este estado de coisas.
A manteiga tendia para uma inferior qualidade, dadas as péssimas condições de aquisição do leite e das natas. O industrial estava dependente do produtor e do encarregado dos postos, não podendo alterar este esquema, além do receio de perder os fregueses fazia vista grossa sobre as irregularidades e abusos cometidos, o que prenunciava o caminho da falência desta importante indústria, sofrendo os produtores as sanções mais graves. Impunha-se, assim, a regulamentação da indústria dos lacticínios da Madeira como uma medida de moralização dessa economia.
A 4 de Junho de 1936, o Governo ponha fim a esta organização caótica, com a publicação do decreto-lei nº 26.655 que criava a Junta Nacional dos Lacticínios da Madeira, funcionando como organismo de coordenação económica da produção e comercialização do leite e indústrias de lacticínios, tentando corrigir os abusos e os desmandos de industriais e produtores.
Nessa época, a Madeira dependia economicamente do sector primário, sendo a pecuária a sua principal actividade e a fonte de maior rendimento do Arquipélago, bastante superior à produção do vinho, banana e açúcar, atingindo a sua exportação cerca de 450 toneladas de manteiga, com rendimentos na ordem dos 7.500 contos, montante bastante significativo para a época.
Com a publicação do decreto e da instalação da Junta dos Laticínios da Madeira, os postos de desnatação foram reduzidos ao seu número essencial à economia da Madeira, limitados à sua função restrita e atribuídos aos industriais, de acordo com a localização das respectivas fábricas. Foram encerrados 741 postos de desnatação, ficando a funcionar apenas 320. A Junta dos Lacticínios passou a controlar a higiene dos estábulos, a selecção e o cruzamento das espécies bovinas, a qualidade do leite e o transporte dos produtos. A Junta, no entanto, acabou por criar um grupo de empresas monopolistas, nomeadamente a “Fábrica Burnay” e “Martins e Rebelo” e passando a determinar o preço a pagar aos produtores, a administrar os postos de desnatação e a ratear como queria e entendia as natas destinadas às fábricas de manteiga, controlando e manipulando os produtores de leite e os pequenos e médios industriais de lacticínios.
Esta conjuntura foi aproveitada pelos intermediários que, sem escrúpulos, incitaram os populares à revolta que atingiu o auge em finais de Julho e princípios de Agosto desse ano, tornando-se por vezes violenta e estendendo-se a várias freguesias da Madeira.
A verdade é que foi a regulamentação da indústria dos lacticínios e a criação da Junta que salvou esta economia. Além de disciplinar e organizar responsabilizando-se por toda a indústria na Madeira, foi ela que conseguiu manter os fluxos de mercado para o produto principal oriundo do leite – a Manteiga, e com essa política salvar uma economia tão importante para a Região durante quase todo o Estado Novo.

http://www.jornaldamadeira.pt/artigos/desfazendo-o-mito-da-revolta-do-leite-de-1936-ii

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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