Desfazendo o mito da revolta do leite de 1936 (I)

Share on twitter
Share on facebook
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

Desfazendo o mito da revolta do leite de 1936 (I)
Há partidos que defendem hoje aquilo que atacaram no passado. Ainda há pouco tempo, em plena campanha eleitoral para as legislativas regionais, um partido veio defender a Revolta do Leite de 1936, como um acto heroico do povo madeirense contra a tirania de Salazar, salientando a prisão e morte de muitos madeirenses. No dia da mulher (8 de Março), o mesmo partido dava ênfase à morte de uma mulher ocorrida nessa revolta popular.
Esta foi de facto uma revolta popular onde o povo foi manobrado pelos intermediários que funcionavam entre o camponês, o produtor de leite e o industrial. Com a instalação da Junta de Lacticínios e a constituição do monopólio do leite, essa situação terminava e os intermediários foram semeando ódio, injustiça e revolta que levou à morte de vários inocentes. Resta dizer que esta revolta foi despoletada, exactamente, por uma classe a que normalmente esse partido se opõe.
A imprensa da época silenciou estes acontecimentos. Apenas o porta-voz do Partido Comunista Português, o clandestino Avante, se referiu aos mesmos.
Para que a História não seja deturpada pela vontade dos partidos, vejamos os factos:
Em 1935, a indústria dos lacticínios encontrava-se num estado precário, em franca decadência, impondo-se a intervenção do Governo que se viu obrigado à regulamentação dos lacticínios da Madeira, evitando a ruína da maioria dos industriais.
A “guerra do leite”, como então se chamava à concorrência existente entre os industriais, consistia na angariação de fregueses para os postos de cada um deles, iria levar ao descalabro de uma indústria que teve o seu fulgor após a instalação da Junta dos Lacticínios, em 1936. As disputas eram grandes e os meios empregues para conquistar o maior número de litros de leite não eram os mais indicados, assentando em “venalidades, intrigas, ódios e desvarios” que, se não houvesse intervenção governamental, levariam ao descalabro da indústria de lacticínios com graves prejuízos para os produtores de leite.
O preço do produto era uma das armas empregues pelos intermediários, aumentando ou diminuindo o valor, em cada zona, conforme a necessidade de conservar ou conquistar maior número de fregueses. Os postos de desnatação eram também utilizados para este fim. Os industriais guerreavam-se mutuamente, estabelecendo postos nas zonas dos adversários. Os encarregados dos postos, fiscais, amigos ou interessados desempenhavam uma grande importância estratégica e económica, na angariação do maior número de litros de leite para os postos, recorrendo a todos os meios para atingir tais fins, aparecendo os primores ou gratificações em dinheiro e outra natureza, que eram oferecidos aos produtores para entregarem o leite a determinado fabricante. Os produtores naturalmente passavam a entregar o leite a quem melhor lhes pagava. Havia ainda outra modalidade de especulação – a das pessoas influentes angariadoras de leite – que se encarregavam de obter fregueses para os postos dos industriais, mediante certa remuneração, passando, deste modo, o comércio do leite ao comércio das influências. Os encarregados dos postos especulavam com o industrial nas gratificações, defraudando o produtor, viciando as medidas do leite em seu benefício. Tudo isto causou perturbações na economia dos lacticínios, que cresceram com a proliferação do número de postos de desnatação. O leite era pago aos produtores com 2 ou 3 meses de atraso, causando graves problemas ao seu orçamento familiar e criando ainda maior dependência para com os seus compradores, porque estes eram também os proprietários de mercearias, vendas, ou tabernas onde os camponeses se abasteciam. Os produtores sem dinheiro para o seu sustento recorriam ao crédito que lhes absorvia todo o produto do seu trabalho.
Além disto, o abastecimento de leite ao Funchal era feito em condições primitivas, pouco higiénicas e perigosas para a saúde pública. A falta de higiene na produção agravava-se nos diferentes ciclos de abastecimento, como resultado dos métodos utilizados no manejo do leite e nestas condições não surpreendia a má qualidade do leite entregue para consumo.

http://www.jornaldamadeira.pt/artigos/desfazendo-o-mito-da-revolta-do-leite-de-1936-i

Mirá También

Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

Te puede interesar

Notas
Relacionadas