Com o consumo doméstico em baixa por causa da recessão, o interesse de empresas em conquistar mercados fora do território nacional tem crescido. Conforme levantamento feito pela Investe São Paulo, com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), o número de empresas estreantes nas exportações no Brasil teve alta de 149% em 2016 frente o ano anterior. Foram 4.843 empresas que começaram a vender para além das fronteiras do país. O resultado do ano passado foi bem maior que o crescimento de 2015, de 7,3%.
E a participação também cresceu. No ano passado, 43% de todas as exportadoras brasileiras fizeram esse tipo de operação pela primeira vez, contra 18% de 2015.
A NHD Foods – proprietária das marcas GoodSoy e BeLive –, sediada em Uberaba, na região do Triângulo Mineiro, começou a exportar em outubro do ano passado, segundo a gerente de novos negócios da empresa, Ana Ma Suss. “Nosso primeiro pedido foi para o Uruguai”, diz.
Ela conta que a empresa, que a atua no segmento de alimentos saudáveis, sem o uso de glúten, lactose e açúcar, conheceu o cliente estrangeiro numa feira no exterior. “Sempre que possível, buscamos participar de feiras e rodadas de negócio”, diz. Ela conta que a empresa está finalizando o processo de registro no Paraguai. Para ela, além da possibilidade de atuar em outros mercados, exportar acaba tornando a empresa mais competitiva também dentro do país.
A Seu Ninico Indústria e Comércio de Alimentos LTDA., com fábrica em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, nasceu com o objetivo de ser internacional, segundo o sócio da empresa, Felipe Dolabela. “Queremos divulgar o sabor do verdadeiro pão de queijo”, frisa.
Ele conta que, no ano passado, a indústria de alimento fez exportações sem valor comercial (envio de amostras) para Canadá, Estados Unidos e Emirados Árabes. “Nossa intenção é, até o fim do primeiro semestre, fazer nossa primeira operação comercial fora do país”, diz.
Dolabela ressalta que a preparação para atuar fora do país exige tempo. “Estamos nos preparando há três anos, já participamos de diversos programas e eventos voltados para a exportação de várias entidades”, frisa.
Ele alerta que a empresa que deseja exportar não deve focar apenas no câmbio, que oscila. “Outros mercados devem ser vistos como novas oportunidades. Além disso, ao se preparar para exportar, a empresa se torna mais forte para enfrentar a concorrência no mercado doméstico”, analisa.
A mineira Pif Paf Alimentos, que já exporta desde a década de 70, espera que em 2017, além da manutenção dos contratos fechados em 2016, a empresa avance as negociações com os europeus para a venda de pão de queijo. “Antes de vender o pão de queijo, durante três anos, participamos de diversas feiras”, diz o diretor comercial da empresa, Edvaldo Campos. Ele conta que a empresa começou a exportar frango congelado para o Oriente Médio. “Hoje, vendemos diversos produtos para mais de 20 países”, conta. As exportações são responsáveis por 8% do faturamento da empresa.
Entidades ajudam no planejamento
A conquista do mercado externo não deve ser encarada como estratégia de momento, alerta o superintendente de competitividade da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Tiago Terra. “É fato que as empresas que exportam também são mais competitivas no mercado doméstico”, observa.
Só que para se dar bem vendendo fora do país é necessário se preparar. “Hoje, há diversas instituições que podem ajudar espalhadas por todo o país. Além da Apex, em Minas, é possível conseguir apoio no Sebrae e também na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais”, diz.
A analista da unidade de mercado do Sebrae Minas Jussara Minelle diz que é muito comum ter um aumento na procura pela exportação apenas por uma questão cambial. “O dólar alto, por exemplo, não deve ser o foco. Além disso, é preciso ter preparo”, frisa.
Preparação
“Para atender clientes estrangeiros, é necessário buscar certificações. Acabamos melhorando nossos processos, ficamos mais competitivos.”
Ana Ma Suss
Gerente de novos negócios da NHD Foods
Governo quer criar cultura exportadora
O Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais (INDI) passou a atender também demandas de exportação com a incorporação da Exportaminas, explica a diretora-presidente do instituto, Cristiane Amaral Serpa. “Pretendemos difundir amplamente a cultura exportadora e intensificar essa atividade. Muitas ações estão em fase de planejamento”, diz. Ela destaca a missão técnica que exportadores mineiros do instituto, em parceria com Fiemg e outros parceiros, farão em maio à China.
http://www.otempo.com.br/capa/economia/debutantes-em-exportações-crescem-149-em-2016-1.1443819