Diante disso, alguns criadores da raça zebu estão investindo em estudos que possam identificar os animais que produzam um tipo de leite não alergênico e oferecer ao mercado um produto garantido e de alto valor agregado.
Presente na 55ª Exposição Estadual Agropecuária, que terminou no último domingo, no Parque da Gameleira, em Belo Horizonte, o presidente da Associação Mineira dos Criadores de Gir Leiteiro (AMCGIL), Luciano de Araújo Ferraz, destacou as pesquisas realizadas pela Embrapa Gado de Leite, juntamente com a Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL), que revelam que o leite da raça gir contém proteína que não causa alergia aos humanos, sendo esse conhecido como leite A2.
Segundo ele, o melhoramento da raça gir leiteiro, aliado à exploração de sólidos – gordura e proteínas – e substâncias benéficas à saúde presentes no leite, é um dos principais focos dos pecuaristas.
Em sua fazenda, em Itapecerica, no Centro-Oeste mineiro, Luciano Ferraz cria 150 cabeças de gir leiteiro e já colhe os benefícios dos estudos divulgados. Ele afirma que, por ser um produto com melhor qualidade, os laticínios pagam mais pelo leite que fornece.
“Precisamos conseguir apoio governamental e de institutos de pesquisa em prol da política de valorização do leite e da qualidade que ele apresenta. Só com esses apoios conseguiremos dar continuidade aos estudos para, finalmente, colocarmos no mercado um leite com essas características e livre da proteína que causa a alergia”.
Guzerá
Luciano Ferraz revela que outras raças zebuínas, como o guzerá, apresentam leite de boa qualidade, mas que somente o gir tem estudos mais avançados.
“Já há consenso entre os pecuaristas que temos um produto com grande diferencial de mercado. Nosso desafio agora é produzir leite com animais puros A2A2, com alta frequência desse alelo A2”.
Sobre as características da raça, o presidente da AMCGIL destaca a versatilidade, que serve tanto para produção de leite quanto para comercialização de animais, frutos de cruzamento com gado europeu (holandês, jersey e pardo suíço). Ele explica que é um gado lucrativo e cita, como exemplo, a vida útil da vaca e o número de crias que o produtor consegue obter. “Não é incomum a vaca parir até os 17 anos”.
Segundo Luciano Ferraz, a média de preços por animal em leilões varia entre R$ 8 mil e R$ 15 mil. “Mas há animais que já foram comercializados por mais de R$ 1 milhão, como o touro Jaguar do Gavião e as vacas Profana de Brasília e Fécula Mutum”. A maior concentração da raça gir está em Arcos, no Centro-Oeste de Minas, e de guzerá nas cidades de Curvelo, Governador Valadares e Uberaba.
Melhoramento do gir ajudará a levar produto ao mercado
Leite para quem tem alergia
GUZERÁ – Assim como o gir, a raça também oferece leite com qualidade para quem tem intolerância à lactose (Fotos: Sérgio Amzalak/Especial para Força do Campo)
Para o coordenador do Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro (PNMGL), André Rabelo, a expectativa é a de que, nos próximos cinco anos, o Brasil já esteja comercializando o leite A2.
O programa, que está completando 30 anos, busca promover o melhoramento genético da raça gir por meio da identificação de seleção de touros geneticamente superiores.
Em maio foi apresentado o Sumário Brasileiro de Touros, onde foram divulgados os resultados do Teste de Progênie, a principal prova zootécnica do programa, que incluiu o genótipo para a caseína A2.
“Por enquanto, estamos apenas em fase de estudos, mas já há muitos produtores investindo no gado com projetos para comercialização do leite”, revelou André Rabelo. Um deles é o pecuarista e veterinário Eduardo Falcão, da Estância Silvânia, que está montando uma unidade de beneficiamento em Caçapava (SP).
Estudos em todo o mundo para identificar as proteínas
Pesquisadores de várias partes do mundo tentam, há anos, separar no leite as proteínas A1 e A2. Uma pesquisa da Unesp Jaboticabal, ABCGIL e Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (APTA) constatou que o gir leiteiro produz leite com praticamente 100% de beta caseína A2, a que não causa alergia.
O estudo foi realizado pelo médico veterinário Aníbal Eugênio Vercesi Filho, coordenador técnico da ABCGIL. Outra raça que produz leite A2 é a guernsey, que tem um rebanho muito pequeno no Brasil. As raças leiteiras europeias mais conhecidas, como a holandesa e a jersey, produzem leite com 50% e 75%, respectivamente, com proteína A2, sendo seu consumo contraindicado a quem tem alergia.
As caseínas respondem por 80% das proteínas do leite de vaca. A beta caseína tem sido muito estudada por ter um alelo (A1) associado a doenças em humanos, principalmente cardiovasculares e diabetes tipo 1. O alelo A1 é uma mutação do alelo A2.
A proteína que causa alergia, a beta caseína A1, passou a ser produzida após uma mutação genética ocorrida há 10 mil anos em vacas de origem europeia.
Leite para quem tem alergia
“Mesmo sendo consumido por quem não tem alergia, o leite A2 previne algumas doenças, como diabetes e arteriosclerose” André Rabelo – Coordenador do Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro (PNMGL)
“Ou as cooperativas e laticínios criam um linha de produção voltada para receber o leite A2 ou nós, criadores, vamos buscar uma forma de valorizar o leite do nosso animal” Luciano Ferraz – Presidente da Associação Mineira dos Criadores de Gir Leiteiro (AMCGIL)
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