Dentro da atividade agrícola do Brasil, a produção de soja e milho é hoje admirada pela quantidade produzida, pela melhoria gradativa nos índices de produtividade, pela contribuição í economia do País e por ser considerada fundamental para disponibilizar alimento para o mundo.
O Brasil, atualmente, é um exportador importante de grãos e oleaginosas porque a produção é suficientemente grande para garantir o abastecimento interno e gerar excedentes para o mercado internacional. Argumenta-se que as culturas são fonte importante de receita para superávit no comércio externo e que contribuem para a sedimentação da avicultura, suinocultura e produção de leite e carne com bovinos confinados.
Teve participação de destaque no desenvolvimento do setor de produção de máquinas agrícolas e caminhões, e também no crescimento do mercado de fertilizantes e insumos para a agricultura. Foi importante para o desenvolvimento de regiões remotas com geração de renda e criação de postos de trabalho. Tudo isso aconteceu porque a produção cresceu em volume e em produtividade e passou a ser competitiva no mercado internacional por preços e qualidade.
O bom desempenho da atividade deve ser atribuído ao uso de tecnologia universal para a agricultura avançada, empregando conceitos científicos de fertilidade e conservação de solos, sementes selecionadas de variedades produtivas, controle efetivo de pragas e doenças, mecanização eficiente e, quando viável, irrigação.
Por outro lado, a produção de leite se destaca pelo crescimento contínuo, emprego de mão de obra e contribuição para a formação da renda bruta da agricultura, mas não tem participação destacada em exportação pelo fato de que a produção é relativamente pequena para a população brasileira e, reconhecidamente, existem problemas de qualidade de matéria-prima.
Os excedentes eventuais acontecem por consumo baixo de produtos lácteos. A estrutura de produção de leite no País não cria condições para que o setor seja competitivo, trazendo como consequíªncia produtos lácteos caros para a renda per capita média e concorríªncia continua de outros países.
Análise de outubro último relata que o preço médio do queijo mussarela importado foi 30% mais barato e para o leite em pó integral a diferença para o nacional foi de 32%. No período, o preço do leite pago ao produtor no Brasil esteve entre 20% e 30% acima dos praticados na Argentina e Uruguai, favorecendo as importações que desestabilizam o setor produtivo, como tem sido apontado pela mídia.
Para efeito de comparação, os preços líquidos recebidos em setembro de 2012 pelos produtores da Califórnia, o principal estado produtor norte-americano, foi de R$ 0,765 / litro (considerando dólar a R$ 2,00) e, em Minas Gerais, o principal estado produtor do Brasil, o valor médio foi de R$ 0,820/litro, de acordo com o Cepea-Esalq/USP.
A falta de competitividade do leite brasileiro e os problemas de qualidade média do produto produzido aparentemente não são motivo de preocupação para o setor, que permanece muito mais focado em mecanismos de restrição í importação e obtenção de preços maiores aos produtores. Talvez, esta postura seja devido ao fato de o País não ter participação efetiva no mercado internacional, produzindo quase que exclusivamente para o mercado interno.
No que diz respeito í situação da pecuária leiteira, íªnfase muito grande é direcionada í s taxas altas de crescimento que colocam o País entre os maiores produtores mundiais, sem considerar que o incremento tem sido causado pela abertura de novas áreas de produção em território tradicional de gado de corte, e que o rebanho de vacas passou de 19 milhões de cabeças em 1990 para 23,5 milhões atualmente.
Nas análises sobre o setor, se procura demonstrar ganhos de produtividade, mesmo com um aumento muito pequeno de somente 27,8 kg de leite por vaca do rebanho ano nos últimos 20 anos. Não se discute o fato de o rebanho leiteiro ser provavelmente constituído por 67 milhões de cabeças, considerando a hipótese de que as vacas perfazem somente 35% do rebanho, fato que exigiria um capital muito grande empatado em terras e animais para produção de pouco leite, e gastos consideráveis com equipamentos e insumos.
O problema é agravado pela probabilidade de somente 25% do rebanho produzir leite efetivamente durante o ano, ficando o restante na fazenda sem gerar renda, mas elevando os custos.
De maneira contrária í observada para o cultivo de grãos, a pecuária leiteira média não emprega conceitos universais de produção tecnificada, e os índices de produtividade indicam características de exploração extrativista, sem gerenciamento do processo produtivo.
Se a realidade for analisada sem ufanismos, medidas efetivas poderão ser preconizadas para mudar a situação, pois não é difícil a obtenção de valores de produtividade e economicidade comparáveis aos de regiões avançadas, e o leite brasileiro poderá ser, quem sabe, competitivo.
Fonte: Revista Balde Branco