A preocupação com a disparada no preço dos grãos no Brasil, influenciada pela quebra na safra dos Estados Unidos, maior produtor mundial, já tira o sono dos produtores potiguares. Sem bagaço de cana disponível para volumoso há muito tempo, com milho começando a faltar nos armazéns da Conab e o período de seca batendo na porta, os produtores estão prevendo dias sombrios pela frente.
Com uma nova rodada de reuniões com o Governo do Estado marcado para esta segunda-feira, í s 16 horas, os produtores já sinalizam uma normalização nas entregas ao programa do leite, que até duas semanas exibia um déficit de 55% na cota de 145 mil litros/dia. A boa notícia é que a captação pelas usinas se aproxima rapidamente dos 125 mil litros/dia.
Isso acontece apesar da Emater, gestora do programa do leite, não ter repassado ainda um único centavo prometido há quase dois meses pela governadora Rosalba Ciarlini. Dos R$ 0,80 pagos anteriormente, a governadora prometeu reajustar para R$ 0,83 e depois, diante das pressões, R$ 0,93. Até agora, nem um e nem outro.
“Tentamos agora convencer o governo a liberar R$ 1,00 para o litro. Esses R$ 0,07 de diferença representam apenas R$ 7 mil por dia, R$ 210 mil por míªsâ€, disse hoje o presidente da Federação da Agricultura do RN, José ílvares Vieira.
“Não queremos entrar numa queda de braço com o governo, até porque somos historicamente parceiros, mas é preciso que se entenda o momento já difícil promete piorar muito nos próximos mesesâ€, acrescentou Vieira, referindo-se í tempestade armada no horizonte com a disparada nos preços dos grãos e os reflexos disso.
Ele acha que ainda tem tempo do Governo desistir de comprar leite em pó para suprir faltas dentro do programa do leite. “Existe uma resistíªncia, nós sabemos, em se conceder o R$ 1,00 pelo litro pedido pelos produtores, mas se trata de um investimento miserável perto dos ganhos ou da minimização das perdas que um repasse desses pode provocarâ€, afirmou.
Enquanto isso, o programa do leite continua desassistido. Segundo Vieira, os “pronafianosâ€, protegidos pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar e que forneciam para o programa, praticamente debandaram. “Eles não resistiram aos crí´nicos atrasos de pagamento que vem desde o governo passadoâ€, lembrou José Vieira.
Esta semana, a expectativa é que os R$ 0,93 comecem a ser pagos aos produtores. Mas, como se trata de uma promessa recorrente, não se tem mais certeza de nada. O Diretor Geral do Instituto de Assistíªncia Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte (Emater-RN), gestor do programa, Ronaldo Cruz, já anunciou por duas vezes a liberação desses créditos no último míªs.
Entre os produtores existe a impressão de que a compra emergencial de leite em pó foi usada como uma arma de dissuasão, ou seja, um artifício para que os produtores voltassem rapidinho a fornecer para o programa. Inicialmente, a estratégia não deu certo, provocando reações enérgicas do setor. Aos poucos, porém, diante de uma crise maior que se anuncia pela frente, eles estariam voltando, baixando o tom das declarações.
Um bom exemplo disso é o próprio presidente da Anorc, Júnior Teixeira. Na semana passada, em entrevista a’o Jornal de Hoje, ele foi cauteloso nas críticas ao governo Rosalba, preferindo um tom mais conciliador. “Estamos abertos para trabalhar juntosâ€, afirmou.
No sábado (28), fontes ligadas ao agronegócio disseram que não é a governadora o maior entrave ao pagamento de R$ 1,00 pelo litro captado pelo programa do leite. Há um entendimento corrente de que as dificuldades estão mais no próprio secretário Betinho Rosado e no diretor-geral da Emater Ronaldo Cruz.
Estaria com eles a maior dificuldade para extrair os R$ 0,07 dentro de um programa criado para ajudar o produtor familiar, mas que no RN se transformou numa alternativa importante para a sobrevivíªncia da bacia leiteira.
Fonte: O Jornal de Hoje
http://www.cenariomt.com.br/noticia.asp?cod=219872&codDep=6