Manejo de vacas recém-paridas

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Após a parição, as vacas e sua nutrição devem ser acompanhadas de perto

Todo produtor de leite quer que suas vacas produzam o máximo de leite possível. Mas alcançar esse objetivo é uma tarefa muito mais difícil do que parece. Isso ocorre, em grande parte, por erros simples de manejo, especialmente no chamado período de transição, que compreende as três semanas antes do parto e as três a quatro semanas após o parto. É muito mais frequente as fazendas fazerem um bom trabalho no período pré-parto, mas no pós-parto as coisas nem sempre vão bem.

O parto é o momento mais estressante de uma vaca. São muito impactantes as alterações fisiológicas que os animais enfrentam na preparação para o parto e no início de uma nova lactação. E, quanto mais produtiva for a vaca, mais complicado é esse processo, pois a necessidade de nutrientes para a síntese de colostro e leite é enorme. Toda vaca leiteira passa por um período de balanço energético negativo no início da lactação, que tem um grande impacto sobre o seu desempenho produtivo e sanidade.

Em função disso, no período imediatamente após o parto o objetivo maior do produtor deve ser garantir à vaca as melhores condições para que ela possa se recuperar adequadamente do parto, focando na prevenção da ocorrência de distúrbios metabólicos, para que ela possa desempenhar bem no período subsequente.

Para mim, impor às vacas um ritmo acelerado de produção nesse período inicial da lactação é uma estratégia perigosa, pois pode ser um desafio ainda maior do que o que elas já têm por causa do balanço energético negativo. É sabido que a produção total de uma vaca leiteira numa lactação depende diretamente de o quanto essa vaca produz no pico de lactação, e maximizar a produção no pico é o objetivo de toda fazenda, mas será que devemos perseguir isso a todo custo? Até porque se a vaca sofrer com algum distúrbio metabólico nesse período, o pico de lactação certamente será bastante comprometido.

Entendo que a melhor estratégia nas primeiras três semanas pós-parto é focar na recuperação hormonal e na saúde das vacas. Se dermos a elas as condições para se recuperar adequadamente do stress do parto, buscando a maximização do consumo de alimentos (CMS), com menor stress metabólico, num segundo momento poderão expressar todo o seu potencial produtivo e possivelmente a ocorrência de distúrbios metabólicos será muito menor. Além disso, muito provavelmente retornarão mais cedo à atividade estral, o que contribuirá decisivamente para a melhoria da eficiência reprodutiva.

Com a proximidade do parto o metabolismo da vaca passa a sofrer uma série de alterações hormonais, com o objetivo de preparar o animal para o parto. Junto a essas alterações hormonais ocorre uma redução na ingestão voluntária de alimentos, o que caracteriza o problema mais crítico das vacas nessa fase, e um dos aspectos mais importantes do manejo de vacas em transição.

Essa queda no consumo, associada ao aumento nas exigências energéticas para atender à demanda do feto, e posteriormente da síntese de colostro que se inicia nos dias que antecedem o parto, coloca as vacas na condição de balanço energético negativo (BEN), onde a demanda energética passa a ser maior que o suprimento disponível. Essa condição permanece no início da lactação, o que complica bastante o manejo das vacas nessa fase. Acredita-se que a queda na ingestão de alimentos tenha relação direta com as alterações hormonais que ocorrem nessa fase, e também ao próprio crescimento do feto, que passa a ocupar mais espaço na cavidade abdominal, comprimindo o aparelho digestivo.

Essas mudanças fisiológicas que ocorrem no período de transição resultam em grandes dificuldades para a vaca, de forma que o manejo dos animais representa um grande desafio. Além do aumento no tamanho do feto, nos dias que antecedem o parto a vaca começa o processo de síntese do colostro, o que determina um grande aumento na demanda por glicose, aminoácidos e outros nutrientes.

O grande problema é que esse aumento na demanda não é compensado por um aumento no consumo de alimentos, muito pelo contrário. Com isso, a vaca entra em balanço energético negativo e fica muito mais suscetível aos distúrbios metabólicos no início da lactação. Para que as vacas iniciem bem a nova lactação, um aspecto muito importante do manejo pré-parto é tentar minimizar os efeitos da redução de consumo. A ideia é compensar de alguma forma essa queda na ingestão de alimentos de forma que a ingestão de nutrientes, especialmente energia, não seja tão prejudicada.

Uma série de problemas decorre da baixa ingestão de matéria seca, dentre os quais três são considerados fatores de risco elevado:

•  Leva à mobilização de gordura, que, se for em grande quantidade, pode levar à síndrome do fígado gorduroso, com subsequente desenvolvimento de cetose, resultando em prejuízo ao funcionamento do fígado;

•  Prejudica o sistema imunológico, o que aumenta o risco de mastites e metrites;

•  Faz com que o rúmen fique esvaziado, o que aumenta muito o risco de deslocamento de abomaso.

Uma coisa importante é que vacas têm requerimentos por quantidade de nutrientes, e não por porcentagens. Tem pouca utilidade saber qual o teor de energia ou proteína bruta da dieta. O que importa é quantas calorias ou quilos de proteína metabolizável foram ofertados pelo total de matéria seca ingerida.

Uma vez que o consumo de matéria seca ainda é reduzido no período de transição, uma estratégia lógica é aumentar a oferta de concentrados no pré-parto, especialmente fontes de carboidratos não fibrosos, como milho, sorgo, polpa cítrica, etc.

Mas o ideal é oferecer volumosos de altíssima qualidade, com alta digestibilidade, de forma que a ingestão de energia seja elevada. Aumentar um pouco a oferta de carboidratos não-fibrosos junto com um volumoso de alta digestibilidade é a melhor alternativa. O objetivo nas últimas três semanas de gestação é manter o teor de energia da dieta das vacas entre 1,45 e 1,60 Mcal por quilo de matéria seca, sem que o teor total de amido da dieta passe de 18%.

Após a parição o objetivo é acompanhar de perto as vacas. Todo esforço despendido no sentido de monitorar as vacas recém-paridas é importante. Nessa fase, em que estão altamente suscetíveis aos distúrbios metabólicos, as vacas estão com o sistema imune deprimido, não conseguem comer tudo o que necessitam, precisam mobilizar reservas gordurosas para atender à demanda energética, enfim, estão em situação estressante. Se juntarmos as vacas recém-paridas num lote específico, podemos monitorar a sua rotina com mais cuidado, podendo identificar problemas antes que o prejuízo seja grande.

O foco do manejo das vacas nos primeiros 20 a 30 dias de lactação deve ser no conforto e na sanidade. Não importa o sistema de produção – pasto ou confinamento – as vacas recém-paridas precisam receber cuidados especiais.

O conforto nas instalações onde vão ficar é fundamental. Manter a saúde do rúmen também, de forma que as dietas dessas vacas devem ser menos agressivas do que as do lote de alta produção.

Costumo recomendar o uso de pelo menos 28% de FDN na dieta (em base matéria seca) dessa categoria, prestando muita atenção à fibra fisicamente efetivo da dieta, que nunca deve ficar abaixo de 24% da matéria seca total no período. Se o volumoso for silagem de milho, é altamente recomendável inserir alguma fonte de fibra longa – feno, bagaço de cana, etc. – para estimular a mastigação, pois a fração fibrosa da silagem de milho pode ser de alta digestibilidade, com pouca efetividade física para estimular a mastigação. Como sabemos, a produção de saliva é totalmente dependente da atividade de mastigação, e a saliva é o principal agente controlador do pH ruminal.

Como regra geral, é prudente acrescentar de 0,5 a 1 kg de matéria seca de uma boa fonte de fibra longa nas dietas à base de silagem de milho. Nesse período costumo recomendar teores de amido bem conservadores, em torno de 20% da matéria seca total da dieta.

Outro ponto de interesse é o uso de gordura suplementar, como forma de fornecer mais energia. Entendo que é uma estratégia interessante, mas alguns cuidados devem ser tomados, pois gordura em excesso pode deprimir o consumo. Se o teor total de gordura na dieta não for maior do que 5,5% (teor de energia na matéria seca total) não haverá riscos. Se a fonte de gordura suplementar for inerte, é possível usar um pouco mais, mas é preciso monitorar muito bem o consumo desse lote.

Fontes de gordura insaturada normalmente interferem muito mais com o consumo, de forma que o uso de grãos de oleaginosas, como a soja ou algodão, deve ser analisado com muito cuidado, respeitando os limites de inclusão recomendados. De maneira geral, as vacas precisam de 1,1 Mcal de energia metabolizável por quilo de leite, fora a mantença, esse valor deve ser usado como parâmetro de referência para a formulação das dietas.

Com relação à nutrição proteica, tenho defendido a redução nos níveis de proteína bruta das dietas, e nesse caso não é diferente. Isso não significa dar menos proteína para as vacas, mas sim fazer um balanceamento mais rigoroso das dietas.

Excessos devem ser evitados, mas é preciso atender corretamente os requerimentos das vacas. A grande questão é que esses requerimentos não são por proteína bruta, mas sim por proteína metabolizável. O foco na manutenção da saúde ruminal está totalmente alinhado com o foco na maximização da síntese de Proteína Microbiana (PMic), que é a principal componente da fração PM.

Para tal, como eu sempre falo em meus artigos e palestras, a produção de PMic depende diretamente do balanço entre a disponibilidade de proteína de degradável e carboidratos fermentáveis, para garantir ótimas condições de crescimento para os microrganismos ruminais. De maneira geral, as vacas leiteiras precisam de 45 gramas de PM por quilo de leite produzido, fora os requerimentos de mantença. Esse valor também pode ser usado como parâmetro para formular adequadamente as dietas das vacas.

Alexandre M. Pedroso é Consultor em Nutrição e Manejo de Bovinos Leiteiros Cowtech Consultoria e Planejamento.

*Matéria originalmente publicada na Edição 76 da Revista Mundo do Leite, em dez2015/jan2016.
Fonte: Revista Mundo do Leite

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