Quando uma onda de aquisições chegou ao setor de lácteos nos já distantes anos 2007 e 2008, os irmãos César e Marcos Helou, donos do goiano Laticínios Bela Vista decidiram que precisavam traçar um plano de crescimento para a empresa, fundada em 1955, na cidade de Piracanjuba (GO). Era isso ou virar alvo. «Decidimos fazer um plano de crescimento, tomando três atitudes: deixar de fazer marca própria [para terceiros], focar na nossa marca e fazer uma nova profissionalização da empresa», conta Cesar Helou, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
Essa estratégia de crescimento incluía, segundo ele, ter fábricas no Sul e no Estado de Minas Gerais, principal bacia leiteira do país, e «quem sabe» no Nordeste. Quase oito anos depois, o Bela Vista, dono da marca Piracanjuba, tem hoje, além da unidade em Bela Vista de Goiás, a principal da empresa, fábricas em Maravilha (SC) e em Governador Valadares (MG). A fábrica no Nordeste não está mais nos planos.
Com os investimentos nessas novas unidades, que somaram R$ 150 milhões nos últimos quatro anos, o Laticínios Bela Vista foi uma das empresas que mais ampliaram a captação de leite para processamento no país em 2014. De acordo com a Leite Brasil, a companhia ficou em quarto lugar no ranking dos 13 maiores laticínios do país no ano passado, com 1,032 bilhão de litros de leite adquiridos, 24,6% acima dos 828,6 milhões de 2013. A previsão para este ano, segundo Helou, é de um aumento mais modesto na captação, na casa dos 5%.
Capacidade instalada para ser utilizada a companhia tem, mas o gargalo é a oferta de leite, que deve ser menor este ano nas regiões de Minas Gerais e Goiás, onde estão duas das fábricas da empresa, por conta da seca que afetou as pastagens. «Quando fizemos o orçamento em 2014, achávamos que o crescimento seria de 20%, mas com a seca refizemos a previsão», lamenta.
Helou afirma que a captação da matéria-prima pela empresa cresceu nos últimos anos para atender o aumento expressivo da capacidade de produção por conta das duas novas fábricas inauguradas em 2011 (Maravilha) e 2014 (Governador Valadares). A empresa também investiu em produtos de maior valor agregado, como leite sem lactose lançado em 2013. Com as três fábricas, a capacidade de processamento do Bela Vista hoje é de 4,310 milhões de litros de leite por dia, mas a produção média está em 2,827 milhões de litros diários, reflexo da oferta ajustada de matéria-prima por causa do clima. Desde 2010, o laticínio mais do que dobrou a capacidade de processamento, que era de 2,050 milhões de litros por dia quando apenas a unidade goiana existia.
A maior produção e a aposta em itens como leite sem lactose garantiram um crescimento importante na receita da companhia nos últimos anos, segundo Helou. O faturamento avançou 60% de 2012 para 2013 e mais 20% no ano passado, quando alcançou R$ 2,090 bilhões líquidos, informa. A previsão é de novo aumento este ano, entre 20% e 25%. «O crescimento na receita deve ser maior que o da captação principalmente por causa dos produtos de maior valor agregado», avalia.
Com 30% da receita da empresa proveniente de leite longa vida, Helou considera que mesmo com as incertezas na economia brasileira é possível atingir o incremento de até 25%, uma vez que todo o restante do faturamento da Piracanjuba é de produtos de maior valor agregado. Conforme Helou, o Bela Vista tem atualmente uma fatia de 40% do mercado de leite sem lactose, que é de 100 milhões de litros no país. «O consumidor procurava por produtos sem lactose», diz, para justificar a aposta.
Neste ano, a empresa fez seis lançamentos na linha de produtos sem lactose, entre os quais doce de leite, creme de leite e leite condensado. O Laticínios Bela Vista também está relançando a marca Leitbom no mercado. O ativo foi adquirido no ano passado da LBR Lácteos Brasil, que está em recuperação judicial.
De acordo com Cesar Helou, o Laticínios Bela Vista deve investir outros R$ 80 milhões este ano. Os recursos serão utilizados na instalação de estruturas para o tratamento de efluentes, na construção de um novo escritório central e em equipamentos.
Fonte: Jornal Valor Econômico.