Para especialistas em comércio internacional, o impasse que envolve a circulação de produtos agropecuários no Mercosul está longe de ser resolvido em definitivo por meio de restrições aos demais países-membros. As alternativas, na avaliação deles, passam por reforçar a competitividade dos produtos brasileiros frente aos parceiros comerciais.
«A saída para esse processo é mais ganhos de produtividade», defende o professor Marco Antonio Montoya, coordenador do curso de Ciências Econômicas da Universidade de Passo Fundo (UPF). Na avaliação dele, as medidas de barreiras protecionistas são transitórias e costumam ser adotadas em momentos de crise. Montoya toma como exemplo a cadeia do leite no Rio Grande do Sul. Em algumas regiões, a produtividade é alta e o setor tem condições de competitividade. Mas, na média estadual, percebe-se que ainda há muito por fazer. «O que é preocupante é que não exista uma política concreta de qualificação do leite, que busque incorporar o produto permanentemente na merenda escolar, por exemplo, já que ele tem um componente social nas cadeias produtivas», lamenta Montoya.
Segundo o professor Charles Pennaforte, do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o embate deve-se a uma questão estrutural de um bloco econômico onde todos os países são exportadores de produtos agrícolas. Com seus 207 milhões de habitantes, o Brasil é visto como um «gigante» pelos seus vizinhos, que tentam comercializar seus produtos neste mercado. «Para o Uruguai, o que justifica estar no Mercosul é justamente o acesso aos mercados brasileiro e argentino. Essa troca de produtos sempre vai existir», detalha Pennaforte. Um dos fatores que mais prejudicam a competitividade brasileira é a carga tributária, que, segundo ele, deveria ser readequada.
Fonte: Correio do Povo.