A média de produção de leite das vacas brasileiras é de 1.382 litros por ano, enquanto na Bahia, a média é de 561 litros.
O rebanho de bovinos da Bahia é a prova viva de que quantidade não é qualidade. Ao todo, o estado tem cerca de 11 milhões de cabeças de gado, o terceiro maior rebanho do Brasil. No entanto, no quesito produção de leite, as vacas baianas deixam a desejar.
Em média, cada uma delas produz apenas 561 litros de leite por ano, o terceiro pior resultado em todo o país. Para se ter uma ideia, a média do Brasil é de 1.382 litros por ano, e estados próximos como Alagoas e Pernambuco produzem anualmente 1.538 litros por animal. Some-se a isso o fator seca, que exterminou 700 mil cabeças de gado e levou outras 500 mil para outros estados, e dá para concluir que a situação da pecuária na Bahia não é das melhores.
Por possuir uma área bem maior que os outros estados produtores, a Bahia tem o maior rebanho do Nordeste. O que faz com que, mesmo produzindo pouco por cabeça, a produção de leite por aqui ainda seja a maior da região, responsável por cerca de 40% do total, segundo dados do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Leite (Sindileite). Justamente por isso, o potencial para crescer é enorme.
Vacas no município de Andorinhas sofrem com a seca; em toda a Bahia, foram perdidos 700 mil animais e outros 500 mil foram levados para fora do estado para não morrer
“O produtor de leite na Bahia é, na verdade, ‘tirador de leite’. Ele só tira o que a vaca dá, mas não tem nenhuma noção de nutrição do rebanho, reserva estratégica…â€, explica o vice-presidente de desenvolvimento agropecuário da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), Humberto Miranda de Oliveira. Reserva estratégica é quando o produtor guarda uma parte do alimento (feno e milho) para épocas de seca, quando há escassez nos pastos. “Se armazenar da forma correta, pode guardar por mais de um ano que não estragaâ€, garante ele.
“A produção aqui é feita de forma amadora. O pecuarista tem uma fazendinha de gado de corte, aí aproveita e tira leite tambémâ€, acrescenta o presidente do Sindileite, Paulo Cintra. O secretário da Agricultura do estado, Eduardo Salles, lembra ainda de outro fator que deixa a produção da Bahia em desvantagem. “O rebanho criado aqui é mestiço, um gado anelorado (proveniente da raça nelore), que é mais para carne, não tem genética própria para leiteâ€.
A raça mais apropriada para dar leite, explica Paulo Cintra, é a holandesa. “Mas como ela é de origem europeia, não se adapta í s altas temperaturas. Para o nosso clima, é preciso fazer um cruzamento com a gir, que é mais resistenteâ€, ensina. A raça proveniente deste cruzamento é a girolando, que é a mais comum entre os criadores especializados em gado leiteiro na Bahia.
Esse é um dos motivos dos estados do Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) estarem no topo do ranking da produtividade. “O clima de temperado a frio permite que eles criem as raças europeias, que são as que dão mais leite. Eles não precisam fazer mestiçagemâ€, explica o diretor-presidente da Laticínios Davaca, Lutz Viana Rodrigues Júnior, proprietário da fazenda Campo Grande, em Ibirapuã (Sul do estado).
seca No Sul do estado, os criadores também não precisam lidar com a seca, como a que ainda assola parte da Bahia, desde 2011. Atualmente, algumas regiões, como o município de Feira de Santana e o Recí´ncavo baiano, já registraram chuvas e saíram do sufoco. Outras, no Norte do estado continuam sofrendo com a estiagem.
“O momento agora é de recompor o rebanho e a pastagem. Isso ainda vai demorar um ano e meio, dois anosâ€, diz Paulo Cintra, do Sindileite. Segundo criadores, as vacas começam a dar leite, entre o 27º e o 30º de idade, e tíªm uma vida útil de dez anos. “Ainda estamos num período que chamamos de ‘seca verde’. Os pastos já estão verdes, mas ainda não tem capim para o rebanho. Estamos esperando as chuvas com trovoadas de outubroâ€, conta Humberto Oliveira, da Faeb.
Sem alimento disponível no pasto, o pequeno pecuarista, principalmente o que não se preparou, enfrenta problemas para manter seus animais. Os grandes geralmente levam o rebanho para fora do estado ou utilizam a reserva estratégica. Foi isso o que fez Lutz Viana, da fazenda Campo Grande, que tem 1,1 mil cabeças de gado. “A região de Ibirapuã foi afetada entre dezembro e março, mas nós utilizamos uma reserva estratégica de cana-de-açúcar. í‰ nutricionalmente mais pobre do que o capim, então nós corrigimos com uma ração balanceadaâ€, explica o empresário.
Vacas ‘top de linha’ conseguem produzir até 14 mil litros e por ano
Uma vaca ‘top’, isto é, com genética perfeita, nutrição e cuidados impecáveis, pode chegar a produzir até 14 mil litros de leite por ano, segundo o presidente do Sindileite, Paulo Cintra. A quantidade é 25 vezes maior que a média do estado (561 mil). “Mas aí são poucas vacas que conseguem isso, só os animais de campeonatoâ€, ressalva Cintra.
Ainda assim, com os cuidados necessários é possível obter médias muito boas, só que mais reais. í‰ o caso da fazenda Campo Grande, em Ibirapuã, no Sul baiano, responsável pela matéria-prima dos laticínios Davaca. A média da fazenda é de cinco mil a sete mil litros de leite por vaca/ano, segundo o diretor-presidente da empresa, Lutz Viana Rodrigues Júnior. “A produção diária é de 10,3 mil litros, temos 615 vacas em produçãoâ€, acrescenta o empresário – produtor.
Para o bom resultado da fazenda, ele ensina que é necessário ter atenção em tríªs vertentes. “A primeira é a saúde do rebanho. Ficar atento a todas as vacinas, exames, vermífugos, controle de mastite (doença que dá nas tetas). A vaca saudável vai produzir leite de qualidadeâ€, inicia, para em seguida falar do segundo item. “Toda vaca de alta produção é de rebanho selecionado. As melhores são as girolando (gir com holandesa) e guzolando (guzerá com holandesa) de primeira geração, isto é, as oriundas de duas raças purasâ€, continua.
Mas se engana quem pensa que as vacas da fazenda são geradas por meios naturais. Todos os animais são fíªmeas e passam por tratamentos de fertilização in vitro para que gerem bezerros perfeitos ou, de preferíªncia, bezerras. A última (mas não menos importante) vertente a ser considerada, segundo o criador, é a alimentação do rebanho. â€œí‰ preciso oferecer boas pastagens, aliadas a uma ração balanceadaâ€, finaliza.
Plano Leite apoia pequenos criadores do interior baiano
Já está funcionando, a título de teste, o Plano Leite Bahia, da Secretaria de Agricultura do Estado (Seagri), que dá assistíªncia técnica aos pequenos produtores do interior. “Temos um convíªnio com 100 municípios esse ano, mas o objetivo é atingir a totalidade das cidades baianasâ€, conta o secretário Eduardo Salles.
O programa está capacitando 200 técnicos das prefeituras para ensinar, cada um, 50 pequenos pecuaristas a cuidar do rebanho, dando noções de como evitar doenças, reserva estratégica de alimento, inseminação artificial e implantação de novas tecnologias, além da concessão de crédito para que os produtores familiares de leite incrementem a produção. Para o período de 2013-2016 estão previstas assistíªncia para 18.773 produtores, a instalação de 1.592 tanques para o resfriamento de leite e dez unidades de beneficiamento do leite.
http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/rebanho-da-bahia-e-o-terceiro-maior-do-pais-e-terceiro-pior-em-producao/?cHash=d3300baa85f84a1da20e8fa361d20ed2