Motivo de desconforto nas relações diplomáticas entre o Brasil e o Uruguai no ano passado, o comércio de leite entre os dois países teve novo episódio nesta semana: agora com os uruguaios reclamando da importação do produto brasileiro. Tudo começou quando uma carga de 300 mil litros de leite longa vida da marca Parmalat, embaladas em garrafas PET pela Lactalis no Estado, chegou ao país vizinho. Ontem, a federação uruguaia da indústria de laticínios criticou a compra do produto brasileiro, afirmando que a medida “é contra o modelo cooperativo e a indústria nacional”. A entidade prometeu levar a questão ao Ministério da Agricultura do país.
O caso também pipocou na imprensa uruguaia, que destacou o fato de a operação ser pouco comum – já que o país é um grande produtor e exportador de lácteos.
– Encontramos uma oportunidade para colocar no mercado uruguaio um produto diferenciado pela praticidade, o leite em embalagem plástica de uma marca conhecida mundialmente, a Parmalat – diz Guilherme Portella, diretor de Comunicação da Lactalis no Brasil.
A multinacional francesa tem duas fábricas instaladas no Uruguai, porém nenhuma de leite UHT em garrafa PET. Segundo o executivo, a exportação da produção brasileira para diversos países é um caminho necessário para equalizar o preço no mercado nacional.
O protesto no país vizinho ocorre quase um ano depois de o Brasil ter suspendido temporariamente as compras de leite em pó do Uruguai. Na época, dirigentes brasileiros tentaram estabelecer cotas de importação, alegando concorrência desleal com o produto vindo de fora – mesmo dentro do âmbito do comércio livre estabelecido aos membros do Mercosul.
– Agora, o jogo virou. O comércio internacional é uma via de duas mãos – disse Alexandre Guerra, presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados no Estado (Sindilat).
De janeiro a julho, as importações brasileiras de leite em pó do Uruguai somaram 22,12 mil toneladas – 47% a menos do que no mesmo período do ano passado, quando passaram de 40 mil toneladas. Entre os motivos para a queda nas compras está a variação cambial, pouco favorável à importação.