Os Estados Unidos foram para a quarta rodada de negociações comerciais do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) com uma proposta bombástica para desmantelar o setor de lácteos do Canadá. O país governado por Trump acrescentou uma lista de demandas que seus parceiros comerciais dizem que seria impossível aceitar – à medida que as negociações se tornam mais tensas.
A proposta – entregue no último domingo (15) – efetivamente mataria o chamado sistema de gerenciamento da oferta do Canadá, eliminando completamente as tarifas em alguns produtos com oferta gerenciada. Os fundamentos da proposta foram posteriormente confirmados por funcionários dos EUA. O gerenciamento da oferta é um sistema de cotas e tarifas para o leite e outros produtos que as autoridades canadenses argumentam que evita o excesso de oferta e garante preços e produção estáveis. O presidente Donald Trump chamou o sistema de «injusto» para os produtores dos EUA, à medida que ele ameaça se afastar do NAFTA.
A proposta vem como aviso de que os Estados Unidos terão que reduzir as demandas – sobre questões automotivas, painéis de disputas, contratos governamentais e uma cláusula de caducidade – se quiserem um acordo. Enquanto isso, o Canadá se tornou mais pessimista na semana passada, à medida que a frustração cresce e a o reflexo começa a atingir o México, outro alvo público de Trump. Não se pode mais falar sobre simples «ajustes» do NAFTA.
“As exigências dos EUA parecem extremas. É preciso perguntar se o presidente Trump quer continuar com o NAFTA», disse John Weekes, o primeiro negociador canadense do acordo original. Ele agora é um consultor de negócios sênior no escritório de advocacia Bennett Jones LLP. «Ou ele está procurando uma desculpa para sair?»
O governo do Canadá descartou claramente a proposta de lácteos dos EUA, enquanto a Dairy Farmers of Canada chamou a proposta de «ultrajante». O representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, a ministra canadense Chrystia Freeland e o ministro mexicano da Economia, Ildefonso Guajardo, se reunirão em Washington essa semana e deverão falar publicamente depois.
John Melle, o principal negociador do NAFTA nos Estados Unidos, confirmou em uma declaração por e-mail, que os EUA pediram maior acesso ao mercado canadense de produtos lácteos, aves e ovos, «com o objetivo de expandir as oportunidades de exportação para os produtores norte-americanos». Os canadenses vêm rejeitando há muito tempo mudanças no gerenciamento da oferta, com o ministro da Agricultura, Lawrence MacAulay, novamente apoiando o status quo na segunda-feira. «É um modelo para o mundo, e na verdade, é onde estamos. Precisamos de um acordo ‘certo’ e não vamos assinar nada”.
O ministro canadense do Comércio, Francois-Philippe Champagne, chamou a proposta de «obviamente inaceitável» para o Canadá. «Eu não sei se eles vão mudar de ideia, mas posso dizer que nós não mudaremos», disse ele. O México não aceitará as propostas contenciosas dos EUA, a menos que sejam diluídas, disse Antonio Ortiz Mena, ex-chefe de assuntos econômicos da embaixada dos EUA no México.
«Eu não acredito que eles vão aceitar o NAFTA a qualquer preço, por isso seria muito perigoso se envolver nessa tática de diplomacia arriscada», disse Ortiz-Mena, que agora é vice-presidente sênior do Albright Stonebridge Group. «Os Estados Unidos terão de decidir se tornarão suas posições mais flexíveis ou se retirarão».
As informações são do Bloomberg, traduzidas pela Equipe MilkPoint.