Programa facilita a compra tourinhos de raça pura por pequeno produtor

 Um programa que reúne criadores de animais selecionados, técnicos de extensão rural e criadores familiares começa a mudar as caras dos rebanhos nas pequenas proprierades. O repórter José Hamilton Ribeiro foi conferir essa experiência em Minas Gerais, estado onde o projeto começou.
Share on twitter
Share on facebook
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

Um programa que reúne criadores de animais selecionados, técnicos de extensão rural e criadores familiares começa a mudar as caras dos rebanhos nas pequenas proprierades. O repórter José Hamilton Ribeiro foi conferir essa experiência em Minas Gerais, estado onde o projeto começou. Localizada no Triângulo Mineiro, perto de Araxá e Uberaba, a cidade de Perdizes-MG tem um ar de progresso e uma agricultura forte nas grandes fazendas, mas também centenas de pequenos pecuaristas, na agricultura familiar. O sonho de muitos deles é investir em um touro de raça pura, um Puro de Origem, registrado, mas muitas barreiras dificultam o alcance desse obejtivo. A forma de pagamento é uma delas. Outro problema é a garantia: como saber que o touro que que vai comprar será, de fato, um melhorador da produção? O pequeno produtor de leite Gilmar Ferreira e sua família acabam de realizar esse sonho e receberam no curral um touro zebu puro-sangue. O objetivo é aumentar a produção, até mesmo vendendo a cria do touro P.O., gerando recursos para comprar mais vacas: «Eu pus uma nelore, porque cresce mais rápido, bem melhor de vender. Então eu vendo dois bezerros, dá pra eu comprar uma ‘novilhotinha’, então pra mim é mais futuro». Gilmar fez o caminho que todo pequeno ou médio produtor deve fazer para entrar no programa da Pró-Genética. Quem o ajudou foi Roberto Carlos, da Emater local, que já viabilizou a compra de 94 touros Puro de Origem. «Nós fizemos reuniões com todas as comunidades, explicamos as normas, o funcionamento, e a partir daí os produtores começaram a organizar documentação e hoje, praticamente quase todos os pequenos produtores do município de Perdizes têm PRONAF”, diz Roberto. O Pró-Genética foi criado em 2006. Em Minas Gerais ele funciona assim: o agente da Emater indica os pequenos produtores interessados. Enquanto isso, os criadores de tourinhos zebu cadastrados preparam os animais Puros de Origem. A comercialização acontece nas feiras do programa, onde o negócio sai sem intermediário. Se for necessário, o técnico da Emater providencia documentos necessários para que o pequeno produtor consiga um financiamento, que é feito pelo Banco do Brasil e outros bancos. O Globo Rural visitou a fazenda do criador campeão de vendas do Pró-Genética, Luciano Delecave. A Fazenda Mutum, de propriedade dele, fica em Ipiaçu, distante 200km de Uberlândia. Luciano foi o criador de Puro de Origem que mais vendeu tourinhos pelo Pró-Genética em 2015, que teve a participação de 181 criadores. Filho de italianos, arquiteto de profissão, nascido e criado no Rio de Janeiro, Luciano Declave optou pela vida agropecuária há cerca de 30 anos e não se arrepende. O arquiteto carioca se deu muito bem no criame de zebu. Em sua fazenda, de 1.700 hectares de terra boa, ele mantém um plantel de 2.100 cabeças e produz tourinhos P.O. Nelore, para corte, e Gir para leite. Trabalha com cria, recria e acabamento. Ele conta que o processo de formação de um tourinho P.O. precisa seguir um padrão de qualidade: “Pra fazer um animal diferente, a gente tem que ter uma vaca boa, que tem pedigree e é uma vaca diferenciada”. A reprodução na fazenda de Luciano é feita através da Inseminação Artificial com Tempo Fixo, a IATF. Com a técnica, o criador tem conseguido bons resultados: está com 250 tourinhos prontos para venda. Todos eles têm exames negativos de tuberculose e brucelose. Os animais recebem todas as vacinas e passam por avaliações de sua capacidade reprodutiva. Somente depois de todo esse processo, Luciano leva os animais para o comércio, com idades variando entre 18 meses a 3 anos e meio, pesando cerca de 500 Kg. Segundo Luciano, alguns compradores ficam muito ansiosos, acham que o touro chegará na fazenda e já entrarão no processo de reprodução e acabam pedindo para trocar o animal. “Às vezes o touro demora um pouco para subir. Eu peço para esperar um pouco, o touro vai subir. Quando realmente o touro não sobe, a gente troca”. Lauro Fraga, gerente do Pró-Genética há seis anos, fala sobre o processo de classificação dos touros de raça pura: “Vamos falar do símbolo da ABCZ, que é o carangueijo. No bezerro, do nascimento até a desmama, tem uma vistoria do técnico que coloca [marca] o carangueijo na cara do animal. Depois, quando o animal atinge a idade reprodutiva, uma nova vistoria do técnico da ABCZ é feita para ver se não tem nenhum defeito desclassificante, se ele se encaixa no padrão racial, e então ele recebe o carangueijo na perna. É a garantia da ABCZ, que tem a certidão de nascimento e tem o registro definitivo. Então esse animal está apto a participar das feiras do Pró-Genética”. Periodicamente e variando de lugar, o programa Pró-Genética realiza feiras de tourinhos puros de origem, o P.O., com o objetivo de aproximar o pequeno produtor de criadores selecionados e seus produtos. A pechincha é livre, mas há uma orientação para o preço variar entre 40 a 60 arrobas de boi. No ano passado, a média foi de 43 arrobas. Seis anos atrás, Denivaldo Moreira da Silva comprou seu primeiro touro P.O., mas acha que está na hora de trocar, porque o animal ficou velho. Ele analisa o gado, escolhe e negocia. O preço está alto, mas para o criador, compensa. Em sua fazenda, localizada no Distrito de Desemboque, em Sacramento-MG, ele mostra os bezerros de um touro comum e um dos lotes que está tirando de seu primeiro puro-sangue. «Os bezerros do touro comum estão menores, e o outro lote, da Pró-Genética estão bem maiores, e têm a mesma idade. O touro se paga. Tira aí cinco bezerros e se paga o touro. Pra ter uma ideia, desse touro aí [o P.O.] eu tirei uns 100 bezerros dele, e ainda vou vender ele. Acho que dá pra repor o [novo] touro com ele mesmo». O gerente regional da Emater de MG, Gustavo de Deus, conta que 80% dos pequenos pecuaristas da região trabalham com touro sem procedência, o que diminui a rentabilidade do produtor. «O trabalho de seleção propicia que esse animal tenha uma resposta genética que vai trazer retorno econômico para a atividade» Na sede da ABCZ, em Uberaba, o diretor Rivaldo Machado Borges diz que o Pró-Genética já distribuiu 7 mil touros para pequenos proprietários de 14 estados. O programa começou em Minas Gerais e o objetivo é alcançar os 27 estados brasileiros. De acordo com o diretor, o perfil de comprador interessado em raças puras, é daquele produtor que quer crescer. «É aquele pequeno pecuarista que quer alavancar sua economia, que quer ter maior produção de leite e de carne na sua propriedade. Porque o touro transmite rapidamente essa genealogia para o animal que ali nasce. Então, os resultados são imediatos. O pequeno pecuarista que procura esse animal é aquele que quer alavancar sua estrutura, para ter uma rentabilidade melhor, evitando até o êxodo rural». Na maioria dos casos, o touro puro-sangue é o primeiro passo de um pequeno criador no sentido de melhorar sua condição. E então, vendo o resultado, ele passa a planejar melhor seu negócio e acaba influenciando os milhões de agricultores familiares que ainda trabalham com uma pecuária bem primitiva.

Fonte: http://g1.globo.com/economia/agronegocios/globo-rural/noticia/2016/08/programa-facilita-compra-tourinhos-de-raca-pura-por-pequeno-produtor.html

Mirá También

Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

Te puede interesar

Notas
Relacionadas