A Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP) sustenta que os supermercados e hipermercados podem ser «a solução» para a crise do sector se deixarem de «lavar as mãos como Pilatos» e aproveitarem «esta época de Páscoa como uma passagem para uma atitude de compromisso, concreta», deixando de «importar as sobras da Europa» e comprometendo-se a comprar mais leite e produtos lácteos de origem nacional e a um preço sustentável.
«Está nas mãos dos associados da APED (Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição) escolher se passamos para uma nova fase ou se vão continuar a afirmar que apoiam a produção nacional enquanto enchem as suas prateleiras de produtos importados, que continuaremos a denunciar», avisou o presidente da APROLEP, Carlos Neves.
As críticas dos produtores de leite surgem em reacção à entrevista da directora-geral da APED publicada no Expresso na passada sexta-feira, 25 de Março, em que a directora-geral, Ana Isabel Trigo de Morais, contraria as críticas deixadas ao sector na recente mega manifestação de agricultores, redirecciona algumas queixas para o plano político e sustenta que «há sectores em crise por não anteciparem tendências», apontando que «defende há muito que se faça uma campanha para a promoção do consumo de leite».
«Mas a APED apresentou ao Governo, à indústria ou aos produtores alguma proposta concreta dessa campanha? Várias cadeias de distribuição editam as suas revistas, porque não utilizaram esse espaço para convidar médicos ou nutricionistas de modo a esclarecer os consumidores? (…) Estão a APED e seus associados disponíveis para avançar nesta matéria ou esta proposta é apenas uma arma de defesa para situações de aperto?», questionou Carlos Neves.
Na mesma carta aberta divulgada esta segunda-feira, 28 de Março, o líder dos produtores critica ainda a porta-voz da distribuição por dizer que só 17% do leite disponível no mercado português é importado. Contrapõe que, se deixarem de comprar no exterior alguns desses milhões de litros de leite, «poderão evitar a falência de muitas explorações e o abate de muitos animais», e contesta a «estratégia» de não contabilizar também os queijos e iogurtes estrangeiros, lembrando que a importação de produtos lácteos ascende a 300 milhões de euros.
«Lamentavelmente, apesar de reconhecer que ‘há um problema crítico nos sectores de produção de carne de porco e de leite’, em nenhuma parte da entrevista é aberta uma perspectiva de mudança dos operadores que a APED representa, uma promessa de comprar mais um litro de leite ou um quilo de queijo, face ao problema que reconhecem», conclui o presidente da associação dos produtores portugueses.
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