Prepare o bolso: leite deve continuar caro nos próximos meses

Clima desfavorável e o aumento de custo da ração animal prejudicaram a pecuária leiteira e provocam disparada nos preços
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A alta de preços dos principais produtos que fazem parte da alimentação do brasileiro está surpreendendo muitos consumidores. Após a crise de abastecimento do feijão, cujo preço subiu 41,78% de maio a junho deste ano, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), agora é a vez do leite pesar no orçamento do brasileiro. No mês passado, o litro do leite longa vida ficou 10,16% mais caro, de acordo com o IPCA. Atualmente o produto é vendido por mais de R$ 4 reais no varejo.

De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), é possível que o leite fique ainda mais caro e não há previsão de retorno para o patamar de preços que o brasileiro conhece, em torno de R$ 2 por litro. “Quando a oferta de leite aumentar por causa das chuvas, em setembro ou outubro, o preço do produto no varejo pode cair, mas ainda deve continuar em patamares altos, principalmente se comparado com os valores do ano passado”, diz Natalia Salaro Grigol, analista de mercados do Cepea.

Os motivos para o encarecimento do leite e de seus derivados estão no campo. As razões são basicamente o clima desfavorável e o aumento de custo da ração animal, que provocaram queda na oferta de leite. Com a crise econômica e a redução de poder de compra do consumidor, a demanda também deve ser pressionada. “Como o leite está muito caro, existe o movimento de consumidores comprando leite em pó, que tem um rendimento maior. O consumidor vai procurar alternativas para não pagar pelo leite longa vida”, diz Natália.
Leite brasileiro

A produção brasileira de leite recuou. Segundo o IBGE, no 1º trimestre de 2016 a aquisição de leite cru feita pelos laticínios foi de um total de 5,86 bilhões de litros. Esse número representa um recuo de 6,8% em relação ao quatro trimestre do ano passado e queda de 4,5% se comparado com o 1º trimestre de 2015.

Com a redução da oferta de leite, o preço pago ao produtor avançou. A cotação registrou recorde de R$ 1,2165 por litro em junho de 2016, alta de 5,14% em relação ao preço de maio e 18% maior que a cotação registrada em junho de 2015. Mesmo assim, a margem de lucro do produtor não avançou devido ao encarecimento da alimentação animal. “Como 2015 foi muito difícil, com o custo de produção já elevado e baixo preço pago pela matéria-prima, os produtores tiveram um rombo no orçamento”, diz a analista do Cepea. “Muita gente que poderia estar lucrando está se refazendo ou tapando o buraco do ano passado.”
Por que a produção de leite caiu?

O ano de 2015 foi de crise para a pecuária leiteira então muitos produtores migraram da produção de leite para outros negócios, com redução do número de vacas leiteiras e investimento em gado de corte, para a produção de carne bovina, ou investimento na agricultura. Com isso, a produção de leite está recuando. “Essa transição para a bovinocultura de corte impacta a produção leiteira”, diz Natália. “E tem um movimento atual de abate de vacas que pode refletir na próxima safra [de leite].”

Além disso, o clima foi um vilão para a pecuária leiteira. Muitas regiões produtoras sofreram com uma seca severa que prejudicou as pastagens. Com isso, os animais tiveram a alimentação comprometida e consequentemente registraram menor produção de leite. Além de pastar, as vacas também se alimentam de ração, que tem como principais ingredientes a soja e o milho. O problema é que a seca também prejudicou as lavouras desses grãos, a produção caiu e os preços da soja e do milho também estão caros. Esse cenário dificultou a vida do pecuarista, que teve que gastar mais para alimentar as vacas leiteiras. “Muito provavelmente os grãos vão continuar valorizados”, afirma Natália. “A queda na produção do milho ainda vai impactar na produção de leite.”
Derivados do leite

O mercado de produtos derivados, como queijos e iogurtes, também sofrem com a redução da oferta de leite. Segundo o Cepea, o quilo da muçarela no atacado subiu cerca de 30% no acumulado deste ano e chegou a R$ 18,32. “Para produzir um quilo de muçarela, a indústria precisa de 8 a 10 litros de leite. Com um leite sem qualidade, a indústria vai precisar de 15 litros”, diz Natália.

Segundo o IPCA de junho, todos os produtos derivados do leite registraram alta. A manteiga encareceu 6,35%, o preço do leite condensado subiu 3,08%, o do leite em pó 2,60% e o queijo está 1,85% mais caro, enquanto o creme de leite, iogurte e bebidas lácteas tiveram uma valorização abaixo de 1%. “Se o preço estiver acessível, os consumidores vão comprar manteiga. Se eles perdem o poder de compra, vão comprar margarina. O setor de lácteos tem uma demanda não fidelizada, então o poder de compra do brasileiro vai decidir o crescimento da cadeia”, afirma Natália.
Produção brasileira e o mercado internacional

O Brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial de produção de leite. Porém, o setor leiteiro sofre com a falta de investimentos, baixa produtividade e problemas de qualidade da matéria-prima. O Brasil tem uma produtividade média de 4,5 litros de leite por vaca por dia. Na Argentina e no Uruguai, por exemplo, a média diária é de 12 litros por vaca. Na Europa, esses números chegam a 18 litros por vaca por dia. “Os índices zootécnicos são tão baixos porque em muitas regiões os pecuaristas não têm conhecimento sobre manejo de pastagem, cultivo de forrageira, genética do rebanho e produção especializada”, diz a analista.

Historicamente, o Brasil é um País importador de leite e exporta pouco. Segundo a analista do Cepea, é possível crescer na cadeia de lácteos, mas será necessário melhorar muito a qualidade do leite. “Atualmente, a qualidade é um entrave para o Brasil passar para a condição de exportador”, afirma Natália.

Para Marcelo Martins, diretor executivo da Viva Lácteos (Associação Brasileira de Laticínios), o setor lácteo brasileiro vive um momento de baixa oferta e consequente queda no volume de exportações. Porém, ele acredita que a abertura do mercado externo é a aposta do setor para recuperar o déficit da balança comercial. “Há a necessidade de se manter o trabalho de promoção dos lácteos para quando as condições externas estiverem favoráveis e o setor não encontrar impeditivos para as exportações”, diz Martins.

Em 2016, o foco da Viva Lácteos está no trabalho de acesso à mercados e a promoção comercial para a exportação. Segundo Martins, alguns resultados já foram observados em 2015. “O mercado Russo está se consolidando e há a expectativa de habilitação de empresas para a China. Este país representa 9% das importações mundiais de manteiga; 3% de queijo e 21% de leite em pó”, afirma o diretor-executivo. O México também poderá ser uma importante oportunidade para este ano, dependendo do andamento das negociações tarifárias constantes no Acordo de Complementação Econômica (ACE 53).

http://sfagro.uol.com.br/leite-caro/

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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