Pecuaristas investem em ‘camas’ para rebanho e aumentam produção de leite em até 40%

Sistema usado nos EUA desde 1980 ganhou adeptos no Brasil e tem contribuído para recuperar setor. Animais têm mais liberdade para locomoção e ficam protegidos de intempéries climáticas.
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Compost barn tem ganhado adeptos no Brasil e contribuído para aumento da produção leiteira — Foto: Divulgação

Compost barn tem ganhado adeptos no Brasil e contribuído para aumento da produção leiteira — Foto: Divulgação

Um divisor de águas para a pecuária leiteira. É dessa forma que criadores, médicos veterinários e empresários do setor na região de Ribeirão Preto veem o compost barn, um sistema que tem aumentado a produção em até 40% e pode contribuir para a recuperação da atividade. Nos últimos anos, ela sofreu com sucessivas crises por causa dos altos custos e dos baixos preços pagos pelo produto.

Traduzido do inglês como “celeiro de compostagem”, o sistema consiste em acomodar os animais sob um barracão de madeira ou de estruturas metálicas e disponibilizar a eles uma “cama” de material orgânico, que pode ser palha de café, cascas de amendoim, serragem, entre outros.

Uma solução autossustentável, já que, de seis meses a um ano, esse composto receberá dejetos – urina e fezes -, transformando-se em adubo para lavouras, como soja e milho, ou para a produção do capim que vai alimentar o próprio gado.

Implantado nos Estados Unidos na década de 1980, o sistema chegou ao Brasil em 2011 e, no estado de São Paulo, começou a ganhar força há três anos. É considerado um intermediário entre o confinamento free stall, em que os animais ficam em divisórias isoladas com pouco espaço, e os piquetes a pasto.

Rebanho fica acomodado em barracão com 'camas' de compostagem em propriedade em Cássia dos Coqueiros (SP) — Foto: Divulgação

Rebanho fica acomodado em barracão com ‘camas’ de compostagem em propriedade em Cássia dos Coqueiros (SP) — Foto: Divulgação

No novo sistema, não há divisórias, permitindo que os animais convivam no barracão, tenham maior liberdade para locomoção e sejam protegidos de intempéries climáticas e do barro que pode se formar no pasto, o que provoca problemas nos cascos.

Segundo o veterinário Alexandre José Aurak, a “cama” representa conforto, que é revertido em maior volume de leite produzido. Ele alerta, no entanto, para a necessidade de revolvê-la pelo menos duas vezes ao dia, para que não haja acúmulo de umidade e, consequentemente, aumento do risco de infecções pelas bactérias presentes no composto. Um sistema de ventiladores ajuda nesse processo. Aspersores também são instalados para controlar a temperatura do gado.

Além de prestar consultoria em sítios e fazendas da região de Ribeirão Preto, Aurak cuida do seu próprio rebanho, numa propriedade em Santo Antônio da Alegria (SP). São 95 animais, dos quais 70 vacas em lactação, entre holandesas puras e cruzamentos, que rendem uma produção de 1,7 mil litros por dia.

O lugar, que utiliza o compost barn há pouco mais de dois anos, foi arrendado há sete meses pelo veterinário e por dois sócios. De lá para cá, eles levaram para o barracão alguns animais que ainda eram mantidos no pasto, ampliaram a estrutura do sistema e já planejam novos investimentos.

Compost barn permite mais liberdade ao rebanho leiteiro e oferece proteção das intempéries climáticas — Foto: Divulgação

Compost barn permite mais liberdade ao rebanho leiteiro e oferece proteção das intempéries climáticas — Foto: Divulgação

Números

O Brasil produz cerca de 35 bilhões de litros de leite por ano. O maior volume é proveniente de Minas Gerais. Em São Paulo, que ocupa entre a quarta e a sexta posições dependendo do ano, a produção vem enfrentando dificuldades pelo menos desde o início dos anos 2000, em função dos altos custos e baixa remuneração dos produtores. O resultado foi a liquidação de grandes rebanhos e a perda de bacias leiteiras.

Dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA) dos últimos nove anos mostram que, em 2010, a produção paulista foi de R$ 1,9 bilhão de litros. Até 2017, foi diminuindo ano a ano até chegar a R$ 1,58 bilhão. Neste ano, cujo levantamento reúne informações apenas até junho, o volume já saltou para R$ 1,61 bilhão.

Na região de Ribeirão Preto, o movimento do mercado é parecido. No Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR), que tem sede em Ribeirão e engloba 18 municípios, a produção em 2010 foi pouco maior que 34 milhões de litros. Em 2017, estava em 27 milhões. Agora, em 2018, subiu para quase 30 milhões só até junho.

Sistema tem contribuído para melhorar produção leiteira — Foto: Reprodução/TV Rio SulSistema tem contribuído para melhorar produção leiteira — Foto: Reprodução/TV Rio Sul

Sistema tem contribuído para melhorar produção leiteira — Foto: Reprodução/TV Rio Sul

O empresário, consultor e criador Marcos Rodrigues Ramos atribui esse crescimento justamente ao compost barn. “Muitos que não eram produtores de leite estão entrando na atividade graças ao sistema. E muitos que já eram estão aumentando a chance de permanecer”, afirma.

Ramos tem 300 animais de gado holandês numa propriedade em Cássia dos Coqueiros (SP), dos quais 150 em lactação. Tira 4,6 mil litros por dia. Também é sócio de uma empresa em Ribeirão Preto que monta projetos de compost barn para toda a região.

Segundo ele, a empresa instalou, só nos últimos três anos, num raio de 200 quilômetros de Ribeirão Preto, 70 sistemas para fazendas que produzem, em média, três mil litros por dia. Quase todas estavam prestes a abandonar os negócios, mas retomaram o fôlego. “Está virando uma febre. Não tenho dúvidas de que esse sistema vai ser fundamental para alavancar a produção brasileira de leite.”

Camas para o rebanho leiteiro são feitas com material orgânico, que pode ser palha de café, cascas de amendoim, serragem, entre outros — Foto: DivulgaçãoCamas para o rebanho leiteiro são feitas com material orgânico, que pode ser palha de café, cascas de amendoim, serragem, entre outros — Foto: Divulgação

Camas para o rebanho leiteiro são feitas com material orgânico, que pode ser palha de café, cascas de amendoim, serragem, entre outros — Foto: Divulgação

Energia

O consultor veterinário Flair Henrique Vigna Goulart, da Cooperativa dos Produtores Rurais de Bebedouro (Coopercitrus), tem impressão parecida. Segundo eles, dos pecuaristas que estão decididos a se manter na atividade leiteira na área de atuação da cooperativa, 70% já aderiram ao sistema. Foram 20 novos projetos implantados de três anos para cá, no interior de São Paulo e no Sul de Minas Gerais.

Ele recomenda, porém, atenção aos custos de produção. Tanto com a questão da sanidade quanto com a energia elétrica, por causa dos ventiladores e aspersores. Para evitar problemas, uma das medidas, na visão dele, é substituir, aos poucos, animais com baixa produtividade.

Outra é buscar opções que reduzam os gastos com eletricidade, como placas fotovoltaicas, que produzem energia a partir da luz e da radiação solares. “A produção desse tipo de energia segue a linha da sustentabilidade e permite recuperar o investimento num prazo de cinco anos.”

Produção de leite — Foto: Reprodução/RBS TVProdução de leite — Foto: Reprodução/RBS TV

Produção de leite — Foto: Reprodução/RBS TV

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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