Após acumular alta de 50% entre janeiro e agosto, o preço do leite recebido pelo produtor em setembro (referente à captação de agosto) recuou 4,6% (ou 7 centavos), fechando a “Média Brasil” líquida em R$ 1,4748/litro. A inversão da tendência nas cotações esteve atrelada ao enfraquecimento da demanda, prejudicada pelo cenário de estagnação econômica e pela diminuição do poder de compra do brasileiro.
De acordo com pesquisas realizadas pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq USP), a necessidade de se realizar promoções para assegurar a liquidez tem pressionado as cotações dos lácteos, em especial do leite UHT – o derivado mais consumido no Brasil e importante termômetro do setor.
Na negociação entre indústrias e atacado de São Paulo, o preço do UHT registrou queda real de 6,6% de agosto para setembro, chegando a R$ 2,6057/litro (valor deflacionado pelo IPCA de setembro/18). E o movimento de desvalorização persistiu em outubro, com recuo de 1,6% na primeira quinzena do mês. Assim, desde agosto, o UHT acumula queda de 20%.
Nesse cenário, a produção tem sido desestimulada e os estoques estavam considerados abaixo da média por agentes consultados pelo Cepea. Por outro lado, o mercado de queijo muçarela tem se mostrado mais firme que o de leite fluido, com menor volatilidade de preços.
Apesar da retração de 3,6% nos valores de agosto para setembro, na primeira
quinzena de outubro, houve elevação de 1,8% no preço do muçarela. Por esse motivo, colaboradores relataram que o processamento do queijo aumentou no último mês, assim como a formação de estoques.
Como reflexo do desaquecimento da demanda, as cotações do leite spot (leite cru negociado entre as indústrias) também recuaram da primeira para a segunda quinzena de outubro. Houve redução de 4,4% em Minas Gerais, de 1,7% em São Paulo, de 5,8% no Paraná e de 1,5% em Goiás. Segundo agentes de mercado, os volumes negociados de leite spot continuaram estáveis, indicando que a oferta entre as empresas ainda segue enxuta. Isso porque a captação de leite no campo também tem se mantido estável, devido ao atraso do retorno das chuvas no Sudeste e Centro-Oeste e à alta no preço dos grãos.
Para agentes do setor, a perspectiva é de que o movimento de desvalorização continue nos próximos meses. No entanto, a competição entre as empresas para garantir o fornecimento da matéria-prima deve limitar a possível queda no preço do leite ao produtor em outubro (referente ao leite captado em setembro). O aumento da oferta deve pesar mais no processo de formação do valor a partir de novembro (captação de outubro), com a consolidação do período de chuvas e melhoria das pastagens.