Leite: Concentrados ameaçam rentabilidade

A alta nos preços do leite iniciam uma fase de estabilidade. O problema, no entanto, é o custo da alimentação com sucessivos aumentos
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A alta nos preços do leite iniciam uma fase de estabilidade. O problema, no entanto, é o custo da alimentação com sucessivos aumentos
No pagamento de setembro, a alta nos preços do leite perdeu um pouco da força, iniciando uma fase de estabilidade, que geralmente ocorre nessa época do ano. Em algumas regiões, o leite ainda se manteve em alta, enquanto em outras houve registros de queda. A região sul, por exemplo, foi a que mais concentrou recuos nos pagamentos de setembro.

Dados preliminares da Agroconsult indicam que, na média nacional, os preços de setembro avançam cerca de meio centavo, ou quase 0,5%. Até o fechamento da edição, o Cepea-Centro de Estudos e Pesquisa em Economia Aplicada ainda não havia divulgado os preços do mês, portanto a análise é preliminar.

Na média acumulada, o preço real do leite – corrigindo a inflação pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) – na média nacional atinge R$ 1,00/litro. Em nove anos, o preço de 2015 é apenas melhor que dos anos de 2009 e 2010 e empata com 2008. Sem dúvida, é um ano ruim de preços.

O mercado do leite longa vida continuou perdendo força no atacado. Com as cotações recuando 3,5% em setembro, o valor negociado voltou para a faixa dos R$ 2,14/litro em São Paulo, praticamente os mesmos valores médios de maio. Ao consumidor, o preço do longa vida continua amigável, contribuindo para reduzir o ritmo de aumento na inflação. O preço preliminar de varejo em setembro é o mesmo registrado em setembro de 2014.

No entanto, quando se analisa o valor médio acumulado de 2015, a alta ao consumidor é 1,8%, aumento bem inferior ao índice de inflação no período. E mais baixo ainda quando comparado com a carne bovina, outro produto da pecuária. Na mesma análise de janeiro a setembro, o aumento do preço da carne ao consumidor é de 16%.

Assim como o leite longa vida, os queijos mais consumidos – prato e tipo mussarela, também apresentaram comportamento amigável aos consumidores. No acumulado de janeiro a setembro, os preços médios de 2015 são 1,53% maiores que os do mesmo período de 2014. No entanto, na comparação de setembro/14 a setembro/15, os preços do mês passado estão 8,9% ao consumidor. É preciso um pouco de cautela para não confundir as análises.
Cresce o custo dos alimentos

Se o setor lácteo tem sido importante para frear o aumento na inflação ao consumidor, o mesmo não pode ser dito para os custos de produção aos produtores. Até o momento, apesar dos preços reais abaixo da média dos anos anteriores, a expectativa era de resultados favoráveis para o produtor, em termos de lucro. Essa conclusão, evidentemente, depende de níveis mínimos de tecnologia na produção.

SojaOs resultados estavam sendo favorecidos pela relação de troca favorável e pelos preços dos animais, especialmente machos e fêmeas que podem ser direcionados ao corte. Os preços dos bezerros recuaram na maior parte do país, mas ainda permanecem em patamares favoráveis.

O problema, no entanto, é o custo da alimentação. A soma dos alimentos proteicos, energéticos e núcleo mineral (e suplementos) representam 42% dos custos operacionais de produção. Nos últimos dois meses, os três principais produtos que representam cada um dos grupos aumentaram, respectivamente, 21% (farelo de soja), 16% (milho) e 22% fosfato bicálcico.

Se ainda não aumentaram em algumas regiões, estão para aumentar, especialmente no caso do fosfato, cuja cotação é diretamente atrelada ao dólar. O fostato, no entanto, compõe parte de um produto que entra em apenas 0,5% no custo operacional de produção de leite. As altas do farelo e do milho já foram confirmadas no mercado. Representam praticamente a totalidade daqueles 42% comentado anteriormente.

Economia sem controle preocupa

E a tendência não é animadora. A conjuntura econômica do país, com indicadores cada vez piores, provocou a perda do grau de investimento de uma das principais agências internacionais. O rebaixamento da classificação do Brasil por outras agências é questão de tempo, segundo especialistas. Isso porque os critérios são praticamente os mesmos.

Embora defensores da política econômica desastrada, implementada desde o início do segundo mandato do ex-presidente Lula, se esforcem em minimizar o impacto dessas agências, o mercado não esconde a realidade. Perda de confiança significa perda de dólares. Na prática, essa perda de dólares provocou uma rápida ascensão nas cotações da moeda americana.

Na média mensal, setembro já fecha com a maior cotação do dólar ao longo de todo o período pós Plano Real. Em 2002, com o temor do mercado com a chegada do Lula à presidência, o país enfrentou o mesmo processo de fuga dos dólares, num momento em que a economia brasileira como um todo ainda era mais frágil que a atual.

Treze anos depois, ironicamente, o dólar volta aos mesmos patamares. Se em 2002 o movimento era especulativo, apenas pelo temor do mercado, em 2015 o movimento é baseado em fatos concretos: o governo está perdendo o controle sobre a economia. Cada vez mais, as soluções se mostram mais complicadas.

Vale lembrar que a análise correta da evolução do dólar deveria considerar as inflações brasileiras e americanas, o que tornaria a cotação de 2002 ainda superior à atual. Mas a intenção não é analisar a economia brasileira, mas sim o impacto do dólar no agronegócio. Por que que diabos a produção leiteira não exportadora seria impactada pelo dólar? Não seria até favorável por reduzir as importações?

Bom, com relação às importações e exportações, voltaremos ao tema na próxima edição. No momento o objetivo é analisar o impacto nos custos de produção.

Dolar em alta

Dólar pode minar margens

Diferentemente da pecuária de corte e, principalmente, da pecuária leiteira, a formação de preços no mercado de grãos é altamente relacionado com o mercado internacional e, consequentemente, com os movimentos da taxa de câmbio. Principalmente a soja, que segue as cotações internacionais e, a partir daí, é precificada no mercado interno. O milho, com o Brasil se tornando um player cada vez maior no mercado, segue a mesma lógica. Junto com os dois, acompanham os preços dos alimentos em geral.

Problemas logísticos, excesso ou falta de oferta podem alterar momentaneamente a relação entre os preços internos e a cotação do dólar, mas no geral, a relação é direta. Nesses dois meses de alta, a capacidade de compra de um concentrado padrão para vacas em lactação recuou 14% para o produtor.

O câmbio não impacta apenas a compra de alimentos. A produção de volumosos, dependente de fertilizantes e defensivos, também é atrelada ao dólar. Portanto, os últimos meses do ano, contando de agosto em diante, tendem a minar as margens. Se o cenário econômico não se reverter até o final do ano, o produtor vai ter que se preparar para fechar o ano com um resultado bem aquém do que era esperado.

A boa notícia é que, com o risco de queda na oferta de leite, é possível que a indústria se antecipe e reinicie o movimento de alta mais cedo, buscando estimular a oferta nos próximos anos. Nesse cenário, a importação de lácteos, mesmo que necessária, não será um negócio confortável.

Fonte: Revista Balde Branco

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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