Foto: Bento Viana/Senar

Um item discutido há algum tempo e com interesse na atualidade relaciona-se aos efeitos do estresse pelo calor sobre a produção das vacas leiteiras. A respeito deste tema, as noções do que seja a vaca adaptada e o ambiente confortável para ela são fundamentais. Isto, pois, “toda vez que uma vaca tem que se adaptar às adversidades do calor haverá gasto extra de energia impedindo que ela manifeste seu potencial produtivo e reprodutivo”.

Além disso, quanto maior a produtividade da vaca, maior será a sua produção interna de calor, o que aumentará a difícil tarefa de ela manter o seu equilíbrio térmico corporal (pense na vaca leiteira produtiva como um motor de alta potência). Toda vez que ela aciona essa potência para produzir mais, é inevitável que haja maior perda de energia sob a forma de calor, aumentando o aquecimento do seu corpo. Portanto, espera-se que quanto mais produtiva seja a vaca leiteira mais ela manifeste sintomas de estresse térmico. Mas será que o raciocínio é assim tão simples? Como explicar o fato de algumas vacas especializadas conviverem melhor do que outras em um ambiente quente? Quais seriam as condições ideais para o conforto térmico da vaca? O que a vaca precisaria para ser mais tolerante e adaptada ao calor? Sim. As perguntas são muitas e não podem ser respondidas com valores únicos.

De fato, para questões relacionadas à termorregulação e ao conforto térmico sempre haverá divergências e complexidade nas respostas, o que poderá causar dúvida na hora de planejar o ambiente ou de selecionar as vacas. Então, vamos a algumas poucas referências para tentar entender melhor isso.

A temperatura corporal normal dos bovinos é em torno de 38,5 a 39,5C. Para que essa seja mantida sem gasto adicional de energia pela vaca é importante que as condições do ambiente estejam próximas da sua “zona termoneutra”, o que para os bovinos leiteiros especializados situa-se entre aproximadamente 5o C (temperatura crítica inferior) e 26°C (temperatura crítica superior). Estas não acontecem com frequência na maioria das regiões brasileiras. Mas vamos com calma! As condições descritas acima dependem de uma série de fatores, dentre eles: condições gerais do ambiente, idade e tamanho do animal, consumo alimentar, nível de aclimatação, nível de produção, isolamento por meio da pelagem e da constituição corporal, dentre outros.

Além disso, a condição de conforto térmico ambiental não deve ser representada apenas pela temperatura do ar, mas por um conjunto de variáveis climáticas que traduzam de forma mais aproximada a percepção do ambiente confortável pela vaca. Com este propósito, um índice que tem sido utilizado é o ITGU (“Índice de Temperatura do Globo Negro e Umidade”), baseado na temperatura de termômetro com um globo negro em sua extremidade, sensível não somente à temperatura do ar, mas também às variações da intensidade de luz e à influência dos ventos, bem como às características de umidade do ar. Para quem assistiu aos jogos da copa do mundo, o “WBGT” (“Wet-bulb Globe Temperature” ou, “Temperatura de globo bulbo úmido”), que avalia as condições para o desempenho dos jogadores durante o jogo, segue o mesmo princípio do ITGU. Fazendo uma analogia, as vacas mais craques do rebanho, sendo bem manejadas e em boas condições de ITGU, manifestarão o melhor do seu potencial leiteiro.

Outra questão importante, paralelamente ao monitoramento do ambiente, deverá ser a avaliação do grau de estresse das vacas, por meio de observações nos seus padrões de comportamento e nas condições que elas apresentam em consequência do estresse por calor. As vacas quando estão sob efeito do estresse, ficam de cabeça baixa, se abrigam do sol, procuram água ou terrenos úmidos para se espojarem, reduzem o consumo de alimentos, aumentam a temperatura corporal e frequência respiratória, condições que podem ser monitoradas paralelamente ao acompanhamento das condições ambientais.

Neste ponto, você já deve ter percebido que o objetivo aqui não é mostrar referências numéricas que indiquem o estresse térmico das vacas. Isto porque elas podem ser variadas, dependendo das condições nas propriedades, bem como das vacas. O importante é chamar atenção para práticas simples e importantes de monitoramento do ambiente e dos animais, fazendo com que o produtor e o técnico avaliem os seus próprios números. Afinal de contas: Aquilo que não se controla, torna-se difícil de ser planejado e melhorado…

Ambiente térmico e seus efeitos sobre vacas leiteiras