Leite: crédito sem assistência técnica não adianta nada

Ronei Volpi, presidente da Comissão Técnica de Pecuária de leite da Federação da Agricultura do Paraná, fala ao Portal DBO
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assistência técnica Ronei Volpi, presidente da Comissão Técnica de Pecuária de leite da Federação da Agricultura do Paraná, fala ao Portal DBO
Em entrevista ao Portal DBO, o presidente da Comissão Técnica de Pecuária de leite da Federação da Agricultura do Paraná, Ronei Volpi fala sobre os desafios da produção e a sobrevivência dos pequenos. Confira:
Portal DBO: Que problemas ou desafios o senhor identifica na produção de leite?
Vamos começar pela infraestrutura, que é uma dificuldade comum em todo o país. Nós temos grande dificuldade com energia elétrica, energia de qualidade que chegue à propriedade rural. As estradas vicinais são outro problema, porque nem sempre são trafegáveis o ano inteiro. Na questão sanitária, o Brasil parece que em vez de ir pra frente vai para trás – nós somos muito bons para fazer leis, mas muito ruins para cumprir a lei. A própria IN 62, que foi uma grande evolução na gestão da qualidade, ainda não está implantada integralmente, tem regiões que nem dão bola pra isso.
Os programas sanitários como por exemplo de brucelose e tuberculose andam a passo de tartaruga, deviam ser implantados com muito mais efetividade. Nós ficamos aí se debatendo com a aftosa, que faz dez anos que não tem mais e nós continuamos brigando, não é? Esse é o tipo de coisa que nos atrapalha.
A quem o produtor de leite pode apelar quando o preço cai muito? Os produtores de milho de Mato Grosso, por exemplo, estão nesse momento contanto com contratos de opção, Pepro e Pep para fazer frente à queda de preços do grão…
O leite tem um preço mínimo também, mas é bem abaixo do que é possível você fornecer. Outra coisa: o Estado, para comprar leite, tem que comprar leite em pó das indústrias, certo? A política que o Estado pode fazer para nos ajudar, mas ultimamente a coisa não está fácil, é justamente alavancar os programas oficiais, as compras institucionais.
Se tem um desequilíbrio de oferta do leite, é alavancar as compras para o seu consumo, nas áreas de saúde, hospitais, pro Exército, políticas de cesta básica etc. Na atual situação do governo, tá complicado. Aqui no Paraná tem uma política pública chamada Leite das Crianças. É o fornecimento de leite pasteurizado produzido na própria região para escolas e outras instituições. Além de suplementar a alimentação das crianças, o Estado compra quase 200 mil litros/dia. Isso também ajuda a criar o hábito do consumo de leite, ou seja, está ajudando o futuro da atividade.
Portal DBO: Como o senhor vê o futuro da produção?
Nos últimos três anos, o leite passou por uma situação muito complicada em termos mundiais: estava sobrando leite. Agora é que as coisas estão se ajustando, a oferta e demanda no mundo. Na Nova Zelândia, que é um grande exportador, os produtores sofreram demais. Na Europa, na Alemanha, por exemplo, há seis meses o litro estava a 20 centavos de euro.
Isso é muito menos do que nós estamos recebendo aqui. E o custo de produção na Europa com certeza é maior que o nosso. Então, as conjunturas estão difíceis, e a produção está aumentando, porque o produtor, para ganhar escala e ter equilíbrio tem que produzir mais, não adianta ficar produzindo um pouquinho só.
Portal DBO: Pelos dados que nós temos 20% dos produtores produzem 80% do leite. 80% são pequenos, sem acesso a tecnologias. Como o senhor vê essa realidade?
Esses 80% que produzem 20%, enquanto não tiver programas de qualidade mais rígidos por parte das indústrias, eles sobrevivem. Até porque eles não dependem desse leite para viver. É uma complementação da renda da família, a mulher tira um leitinho pra vender e comprar alguma coisa pra casa… A tendência é: ou o cara cresce e se torna um profissional ou desaparece. Na minha opinião, como produtor, nos próximos dez anos o número de produtores deve se reduzir entre 30% e 50%. Agora, a produção vai continuar aumentando pela escala de quem se profissionalizou.
Portal DBO: Esse pequeno tem alguma política pública voltada para ele?
Muito pouco. O grande gargalo da atividade ainda é a assistência técnica. Porque um produtor com 15 hectares, com boa assistência técnica, um bom nível de profissionalização, com o uso de bons instrumentos de profissionalização – e tem Senar no Brasil inteiro e outros órgãos tradicionais trabalhando nisso – o cara produz tranquilamente, hoje, 20 mil litros de leite por hectare. Em 15 hectares são 300 mil litros/ano, quase mil litros de leite por dia, quando a média, hoje, é de menos de 100 litros. Mas aí vem a profissionalização via assistência técnica para esse pessoal.
Portal DBO: E quanto às linhas de financiamento, como o senhor avalia?
Com a atual conjuntura do país diminuiu um pouco, mas para esses pequenos tem o Pronaf Mais Alimentos, com juros de 2% ao ano. Tem linha de crédito, agora, linha de crédito sem assistência técnica também não adianta nada.
Saiba mais sobre o Conseleite em entrevista inédita que será publicada na próxima edição da Revista Mundo do Leite.
Fonte: Portal DBO

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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