Prejuízos do leite

Os valores pagos aos produtores são os mesmos de dez anos atrás. Produtor compara uma pessoa, hoje, recebendo R$ 120 enquanto o salário mínimo atualizado é de R$ 788
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Os preços do leite nunca tiveram tão aviltados como agora. Os valores pagos aos produtores se comparam aos de dez anos atrás. Nivaldo Costa, com propriedade rural no município de Jaraguá, assinala que tem recebido o líquido por R$ 0,70/litro. Muitos falam em abandonar a atividade, mas suas estruturas apropriadas nas fazendas impedem gesto tão radical. Edson Alves Novaes, gerente de Estudos Técnicos e Econômicos da Federação da Agricultura do Estado de Goiás, observa que os preços do leite estão em queda não só no Estado, mas em toda a Região Centro-Sudeste e na Região Sul.

“(A queda) é ocasionada por uma conjunção de fatores que impactaram a oferta e a demanda de leite e derivados”. No comércio varejista, o consumidor não usufrui dessa queda nos preços pagos aos produtores. Hercy Borba, por exemplo, diz que como consumidora “jamais usufruí de qualquer vantagem de queda nos preços do leite pago ao produtor”. Em sua última compra, pagou R$ 2,80 pelo litro de leite semidesnatado numa grande rede de supermercado de Goiânia.

Nivaldo Costa está revoltado e diz lutar pela “sobrevivência”. E compara uma pessoa no tempo recebendo R$ 120 nos dias de hoje de salário mínimo quanto este valor atualizado é de R$ 788. Pedro Alves de Oliveira, criador de rebanho holandês típico para produção de leite, concorda que retirando o frete e o Funrural, taxa cobrada de forma irregular, o líquido beira os R$ 0,70. Gílson Costa, em Itaberaí, cria gado também apurado, assinala que os preços nas últimas semanas caíram mais de 20%. Para ele, a alegação das indústrias de laticínios de que existe excesso de leite “é conversa para boi dormir”. Em sua opinião, o argumento da seca prolongada não procede.

Edson Novaes, que acompanha passo a passo a questão, tem outras considerações. “Gostaríamos de comentar que essa queda de preços que começou no mês de setembro de 2013 e adentra 2015 estão muito acima do que realmente teriam que ser”. É frisa que, além do aumento dos custos de produção de mais de 20% que os produtores tiveram em 2013, outros elos da cadeia pouco reduziram suas margens, como é o caso do varejo em específico. As indústrias comercializam, por sua vez, o leite longa vida no atacado a preços que variam entre R$ 1,37 à R$ 1,87, os preços médios no varejo estão na ordem de R$ 2,43 em média, com promoções esporádicas.

O gerente técnico da Faeg observa ainda que os preços de leite pago aos produtores reduziram mais de 36% nos últimos quatro meses. Alguns com quedas de mais R$ 0,30 o litro. “Atualmente, temos produtores recebendo R$ 0,65 o litro, sendo que em setembro de 2013 esses mesmos produtores recebiam R$ 0,95 por litro. Os preços médios do leite comercializados pelas cooperativas caíram para em torno de R$ 0,76 o litro em algumas regiões”, dá seu testemunho.

Consequências

A queda acentuada dos preços poderá inviabilizar a atividade de inúmeros produtores, impactando negativamente não só na sua renda, mas na realização de investimentos para a próxima entressafra que se aproxima e para os demais anos. Pelo jeito, a vaca está indo para o brejo, para usar expressão comum no meio rural quando as coisas vão mal. Na visão do especialista alguns aspectos impactaram na queda de preços do leite, principalmente a partir do mês de outubro de 2013.

Apesar de algumas indústrias começarem a reduzir preços a partir de setembro daquele ano. Do lado da oferta, ocorreu um aumento da produção não só em Goiás, mas em todos os Estados da região Centro-Sudeste. Em Goiás, esse aumento foi da ordem de 6% em média, pressionando os preços pra baixo. Do lado da demanda, houve um arrefecimento do consumo e uma conseqüente queda dos preços dos derivados lácteos, especialmente do Leite Longa Vida (que é o principal balizador dos preços lácteos no mercado), fazendo com que houvesse um descompasso entre a oferta e demanda, com a geração de um excedente de leite no mercado.

Além disso, ocorreu queda significativa dos preços das commodities lácteas, em específico do leite em pó, no mercado internacional de mais de 50%, trazendo os preços que estavam em US$ 5 mil a tonelada para US$ 2,7 mil a tonelada, que mesmo com o dólar em alta favoreceram as importações. “Todos esses fatores conjuntamente fizeram com que tivéssemos um excedente de leite no mercado e uma conseqüente queda dos preços de leite. Mas reafirmamos, não nos patamares que estão sendo realizados”, aponta Novaes. Houve queda no preço líquido do leite em todos os estados da pesquisa realizada pelo Cepea. As maiores baixas foram registradas em Goiás, Paraná e Minas Gerais, de 13,12%, 10,70% e 10,04%, respectivamente.

Pesquisadores do Cepea explicam que os altos patamares de preços alcançados em 2013 elevaram os investimentos na atividade leiteira, que resultaram em maior produção em 2014 e seguindo 2015 e acúmulo dos estoques, principalmente no segundo semestre. Com a oferta elevada, as cotações recuaram, o que tem a concordância do Sindileite. A entidade observa também que o atraso das chuvas favoreceu a qualidade das pastagens, e conseqüente captação maior de leite. De outubro para novembro, o Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L/Cepea) teve aumento de 6,43%. O destaque no período foi para Goiás, São Paulo e Minas Gerais, onde os avanços foram de 11,09%, 11,03% e de 7,87%, respectivamente.

O grande problema é que mais uma vez o produtor é que está pagando a conta. Enquanto os outros elos da cadeia repassam as quedas de preços ocasionadas pela queda do consumo, num patamar maior do que realmente teria que ser, mantendo suas margens ou reduzindo pouco suas margens, os produtores amargam mais uma vez queda brusca na sua renda. Este fator interrompe o seu planejamento para poder aumentar e melhorar a produção. “Não podemos matar a galinha dos ovos de ouro”, concluiu Edson Novaes, endossando equilíbrio na relação entre pecuaristas e laticinistas.
http://www.dm.com.br/economia/2015/01/prejuizos-do-leite.html

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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