O empresário que pensa grande

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Paula Janay Alves. Lutz Viana, empresário e presidente da agroindústria Laticínios Davaca
Nascido em uma família pecuarista de Minas Gerais, o empresário e presidente da agroindústria Laticínios Davaca, Lutz Viana, escolheu a Bahia, mais especificamente a cidade de Ibirapuã, no extremo sul, para criar o seu negócio. «Viemos aproveitar as oportunidades que a Bahia oferecia. Sou baiano de profissão, o que é melhor. O Laticínios Davaca com certeza é uma marca baiana. É uma marca nordestina», diz o empresário. Criada em 1992, o Laticínios Davaca é hoje uma empresa com faturamento de R$ 250 milhões por ano que produz derivados do leite, como queijo e manteiga, em uma linha de 17 produtos. Além da produção própria de 11 mil litros de leite por dia, na fazenda Campo Grande, a agroindústria compra leite de 1,7 mil produtores, movimentando a economia da região. Nesta entrevista, continuação da série com grandes empresários da Bahia, Lutz Viana conta sobre sua trajetória empresarial e o melhoramento genético do rebanho bovino que promove entre os seus fornecedores.

Como surgiu o Laticínios Davaca? Quando tiveram a ideia de criar a fábrica?

O Laticínios Davaca começou em 1992, com (o processamento de) 2,6 mil de litros de leite por dia. Nós fazíamos queijo parmesão e manteiga e vendíamos esse produto todo para Recife. Com o passar do tempo, a empresa foi crescendo e nós diversificamos a produção. Passamos a atuar nas redes de supermercados e no varejo na Bahia. Com a evolução da empresa, que teve muito apoio dos produtores rurais e produtores de leite do sul da Bahia e, sem dúvida nenhuma, de nossos funcionários, a gente está trabalhando hoje com 450 mil litros de leite por dia. Ampliamos o nosso mercado para todo o Nordeste e também para o estado de São Paulo, nas regiões de Campinas, Presidente Prudente, Ribeirão Preto e cidades que têm influência de Campinas. E também, como está próximo de nós, do Espírito Santo. Nós temos a área de agroindústria, que é o Laticínios Davaca, e a pecuária de leite com um rebanho que a gente vem trabalhando há 28 anos. A nossa fazenda hoje é a maior fazenda individual de produção de leite da Bahia, que é a fazenda Campo Grande, também no município de Ibirapuã, com 11 mil litros de leite por dia.

O restante do leite para a produção é comprado onde?

O restante, 75% do leite, compramos no extremo sul da Bahia, para ser mais exato, da cidade de Camacan até a divisa do Espírito Santo e Minas Gerais. Os outros 25% compramos nos municípios vizinhos nossos aqui de Minas Gerais, que é no nordeste de Minas.

Qual a importância do Laticínios Davaca para a economia das cidades da região?

Nós temos em torno de 1,7 mil produtores de leite. São pequenos, médios e grandes produtores de leite. Temos um grupo de colaboradores de 503 funcionários, todos funcionários da nossa região, daqui da nossa cidade e das cidades vizinhas. A gente movimenta o setor leiteiro do extremo sul, nós é que movimentamos a maior parte de toda essa cadeia leiteira, que tem uma importância muito grande porque a gente compra o leite do produtor, fabrica os queijos, vende e traz esses recursos para a nossa cidade e região, para pagar aos produtores, aos funcionário, além do recolhimento de impostos e tudo o mais.

Vocês participam da Viva Lácteos, associação nacional da indústria de laticínios criada este ano. Qual é a necessidade de criar uma nova associação, de amplitude nacional? E qual a importância de uma marca que é da Bahia participar dessa associação?

Nós temos aqui o Sindileite Bahia (Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Estado da Bahia). E esse sindicato é filiado à Fieb e cuida das ações locais, estaduais, municipais e regionais. A Viva Lácteos é uma associação de empresas de laticínios focada em pontos de amplitude nacional e internacional. A Viva Lácteos não trata de assuntos particulares, de cada estado, como questões de organização fiscal. Ela trata da infraestrutura do país, discute isso com o governo federal, da energia, das estradas. Assuntos que podem melhorar a qualidade do leite, para que a gente possa concorrer no mercado interno com produtos de qualidade e também alcançar os mercados internacionais. Ela cuida de assuntos maiores, de logística, de reuniões com países que possam se interessar por produtos leiteiros. Ela vem somar com as ações dos sindicatos.

Qual a importância de uma marca baiana estar nessa associação?

A nossa marca é uma marca de destaque, não só pelo volume de leite que a gente trabalha na Bahia e no Nordeste, mas também pela qualidade dos nossos produtos. Nós somos hoje a maior indústria queijeira do estado da Bahia e a maior do Nordeste. Então a gente se associou à Viva Lácteos com a intenção de que pudéssemos usufruir do que ela conseguisse de melhor em termos de negociação de impostos federais, na exportação, na questão da melhora da qualidade do leite, das ações junto aos clientes nas áreas internacionais. O que a gente também almeja um dia é levar o nome do Laticínios Davaca para fora do Brasil e levar também o nome da Bahia.

O que poderia ser feito para aumentar a produção de leite na Bahia? Se existe demanda de importar leite de outros estados é porque existe oportunidades de negócios aqui. O que é que falta para que a Bahia invista mais no setor e a Bahia se torne um estado autossuficiente na produção?

Na Bahia nunca houve uma atenção do poder público ao segmento da cadeia produtiva do leite. Nesses últimos oito anos, essa situação mudou. A Bahia já mudou o seu perfil de produtor e indústrias. A Bahia hoje já tem indústrias à altura das indústrias de São Paulo e Minas Gerais. O estado está organizando a cadeia para poder chegar à posição de autossuficiência. A cadeia produtiva do leite é uma cadeia que demora a acontecer porque o ciclo dela é muito longo. Você tem que imaginar que você tem que formar pastagens e melhorar o rebanho geneticamente. Estamos falando de, no mínimo, quatros anos para uma vaca começar a produzir leite. Você vai inseminar ou vai fazer uma transferência de embrião e essa bezerra vai nascer, vai virar novilha, de depois vai virar vaca para começar a produzir leite. Então, é um ciclo longo. Esse ciclo, essa cadeia produtiva vinha muito bem incentivada, mas é do conhecimento de todo mundo que tivemos uma seca imensa na Bahia há dois anos. Realmente deu uma desestruturada no setor produtivo do leite. As regiões produtoras de leite foram muito afetadas. Nós temos que trabalhar muito com o apoio do poder público para que a gente possa andar mais rápido. A seca interrompeu esse ciclo de evolução. Mas já se fez uma retomada, já se recuperou em torno de 80% da produção que nos tínhamos na época. Estamos indo para anos com melhores chuvas. Estamos reestruturando o setor, está havendo crédito para isso e a gente entende que em pouco tempo podemos reverter essa dificuldade que a seca trouxe para o setor da cadeia produtiva do leite.

Em 2013 o Laticínios Davaca fez um investimento de R$ 40 milhões para a construção de uma nova fábrica. Como isso ampliou a produção da empresa? Quais foram as consequências da nova fábrica?

Fizemos o investimento em 2012, inauguramos em 2013. Com isso nós dobramos a capacidade de produção do Laticínios Davaca, com equipamentos modernos e uma fábrica atualizada. Saímos de 200 mil litros de leite por dia para 450 mil litros de leite por dia. Então, a gente mais do que dobrou a nossa compra de leite no mercado e no campo junto ao produtor. E com certeza dobramos a participação no mercado final, oferecendo o dobro de produtos que oferecíamos antes ao nossos consumidores, com uma qualidade sem sombra de dúvida de ponta, com muito cuidado e zelo com o controle de qualidade e a segurança alimentar.

Depois da ampliação da fábrica quais são as metas para o futuro? Como é que você vê a marca daqui a cinco, dez anos?

A gente tem um investimento previsto para 2015 em torno de R$ 35 milhões em uma torre de secagem, que vai trabalhar com secagem de soro, que é um subproduto da fábrica de queijo. A torre terá capacidade para secar 500 mil litros de leite por dia. Esta é a nossa próxima meta, é o nosso próximo investimento. Já estamos trabalhando nisso. Eu entendo que a nossa marca está crescendo. Participamos da feira de supermercados da Abase (Associação Baiana de Supermercados) aonde a gente comprovou que a nossa marca está forte, bem divulgada e bem aceita no mercado baiano.

Qual o salto que essa nova torre dá ao laticínio?

Quem fabrica queijo compra o leite, fabrica o queijo e sobra uma substância que se chama soro. Nós estamos montando essa torre de secagem para fazer soro em pó. Esse produto quando é transformado em pó entra na fabricação de biscoitos, macarrão, bebida isotônica, achocolatados. Vamos vender o soro desidratado para as indústrias que o utilizam na fabricação de seus itens. Hoje ele é concentrado, nós tiramos 70% da água e vendemos para laticínios de Minas Gerias. Com a torre de secagem, vamos tirar 91,5% da água e vamos trabalhar com o pó.

A maioria dos produtores da agricultura e pecuária na Bahia são de pequeno porte, ligados à agricultura familiar. Como é que está a situação da agroindústria no Estado? O senhor considera que há uma perspectiva de crescimento dos produtos que podem montar uma indústria para beneficiar seus produtos?

Eu entendo que essa questão de montar uma industria para beneficiar produtos pode ser feito através de cooperativas e associações. Mas para isso é preciso ter vocação administrativa porque é um negócio completamente diferente de produzir leite ou carne. Então precisa ter uma responsabilidade muito grande para tocar esses negócios de uma forma empresarial, com bastante produtividade, capacidade técnica e uso de tecnologia, além de bastante controle. Nem sempre o produtor é um bom industrial, nem sempre um bom industrial é um bom produtor. É preciso haver a vocação desses grupos e dessas pessoas para que não se faça investimentos de forma errada e investimentos que em vez de dar lucro dá prejuízo. Meu pensamento em relação à criação de outras indústrias passa por isso. Entendo que as agroindústrias podem tranquilamente ser feitas por cooperativas e associações. Isso depende muito da capacidade de organização que as pessoas e os líderes têm para tocar o negócio.

O que o Extremo Sul da Bahia pode ensinar ao agronegócio baiano em geral?

O Extremo Sul pode servir de exemplo nesse trabalho de melhoramento de pastagens, melhoramento genético do rebanho que nós fazemos por aqui, através de inseminação, através de transferência de embrião, e tambem, nos últimos três anos, através da fertilização in vitro. Há a fecundação de embriões em laboratórios com animais superiores, tanto da parte feminina quanto da parte masculina. Nós temos a oportunidade de 90% de escolher o sexo. É uma vantagem. No caso das nossas fazendas da cadeia do leite naturalmente a preferência é pelas fêmeas. Você coleta o material da vaca, leva para o laboratório e nesse laboratório você adiciona o sêmen do touro. Aí gera um embrião com sete dias que vem para as fazendas para ser implantada nas receptoras. É uma técnica utilizada no mundo todo. É é uma tecnologia que a Laticínios Davaca oferece aos seus produtores com custo baixo. É uma tecnologia que nós disponibilizamos para esses 1,7 mil produtores, pequenos, médios ou grandes. A gente faz nas nossas fazendas e disponibilizamos os embriões e tecnologia para implantar os embriões, com tecnicos. Nós fornecemos toda a tecnologia a um preço acessível para contribuir com a melhora genética dos rebanhos de nossos produtores.

http://atarde.uol.com.br/economia/noticias/1629871-o-empresario-que-pensa-grande

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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