Franceses driblam crise do leite com cooperativa de queijo especial

Sem aditivos químicos, produto tem qualidade reconhecida em toda a Europa e preços bem acima da média
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.Há pouco mais de um ano, a União Europeia (EU) decidiu acabar com as cotas que determinavam limites de produção e exportação de leite em todos os países do bloco. Com isso, cada nação passou a ter liberdade para produzir e vender o quanto quisesse. A medida causou um desequilíbrio no quadro de oferta e demanda local, que mais tarde foi agravado pela redução das compras de leite cru europeu por parte de importadores de peso, como a China. Com a demanda fraca e a oferta em alta, os preços pagos aos produtores passaram a despencar no velho continente.

Mas há quem veja essa crise passar longe de si. No chamado Maciço do Jura, uma região montanhosa, na fronteira da França com a Suíça, onde as vacas pastejam à moda antiga, com sinos pendurados no pescoço e aos 1.000 metros de altitude, criadores encontraram uma maneira de driblar os preços baixos, manter o mercado sempre equilibrado e rentável. Eles formaram a cooperativa do queijo comtè, o tipo mais consumido na França. O diferencial do produto é que ele possui o que os europeus chamam de AOP, sigla que em português significa ‘denominação de origem protegida’, uma certificação nada fácil de conseguir. É preciso respeitar uma sistemática desde a maneira de criar e alimentar as vacas até o processo de industrialização do leite. Com isso, o produto é vendido a preços superiores no mercado.

Enquanto o leite convencional é vendido de 280 euros a 320 euros a cada mil litros (entre 0,28 a 0,32 centavos de euro por litro) o produto certificado vale de 450 euros a 500 euros a cada mil litros (0,45 a 0,50 centavos de euro por litro). “A particularidade nesta cadeia é, sobretudo, que não temos problemas econômicos, porque conseguimos repartir o valor agregado. Além disso, o volume de produção é limitado e negociado entre todas as AOP´s da região. Este ano, por exemplo, o aumento permitido foi de 2 mil toneladas”, explica Claude Vermont-Desroche, presidente do Comitê Interprofissinoal do Comtè.

A preferência pelo queijo produzido nas montanhas é compreendida logo numa primeira degustação. Cremoso, com casca fina e salgada, o comtè conserva o máximo das propriedades do leite cru, coletado de vacas simental ou montbeliarde (não pode haver mistura dos leites dessas raças). Uma das regras de fabricação do produto é não conter aditivos químicos. “É leite, coalho e sal”, resume Desroche. Além disso, o tempo entre a coleta do leite nas fazendas e a industrialização não pode passar de 30 horas. Tudo isso está especificado na certificação. “Coletamos e fabricamos queijo todos os dias”, afirma o representante dos produtores.

A cooperativa recebe de dez fazendas associadas 40 milhões de litros de leite por ano, volume suficiente para render 65 mil toneladas de queijo. O produto é distribuído para 150 queijarias, responsáveis pelo atendimento de consumidores que buscam pequenas ou grandes quantidades. De acordo com a organização representativa dos produtores, 52% das famílias francesas consomem o queijo comtè, que está associado à classe média alta do país. Somente 9% são exportados para países vizinhos.

A denominação de origem protegida foi criada há mais de 80 anos na França e começou pela  vitivinicultura. Essa política valoriza a produção em regiões e condições específicas, tornando os vinhos franceses uns dos mais prestígiados em todo o mundo. A medida evitou ainda uma desertificação da zona rural, especialmente depois da Segunda Guerra, já que oferece alta rentabilidade aos produtores. “Não procuramos receita nem que seja bom pra saúde. O foco é exprimir o terroir [termo sem tradução que significa um conjunto de características exclusivas de uma região]”, dizem os representantes do queijo.

Tradição

Na região do Maciço do Jura não é difícil encontrar vacas simental e montbeliarde no campo, porque uma das tradições que a população local não deixa de seguir é a de pendurar sinos nos pescoços dos animais. Seja em terrenos planos ou grandes altitudes, como nos Alpes. Com isso, as vacas promovem uma verdadeira orquestra de sinos ao se locomoverem e se alimentarem. “As pessoas que se incomodavam com o barulho já desistiram de brigar conosco para que deixemos essa tradição de lado e adotemos o silêncio”, conta Desroche, que também é criador. Segundo ele, antigamente os sinos ajudavam os proprietários a encontrar os animais, hoje a ideia é só de preservar a história.

O gado nessa região fica ao menos sete meses por ano se alimentando ao ar livre e somente cinco meses em estábulos, comendo feno. A AOP determina que dois terços do pasto precisam ser plantados e o restante deve ser nativo. A produtividade de cada animal é de 20 litros ao dia, em média, e todas têm direito a férias de 60 dias por ano.

http://revistagloborural.globo.com/Noticias/Criacao/noticia/2016/07/pecuaria-francesa.html

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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