A madrugada de terça-feira compensou, em muitas regiões, a falta de chuva dos primeiros 20 dias de agosto em Santa Catarina. Com a condição de estiagem desde abril, agricultores do Estado estavam preocupados com a possibilidade de atraso na colheita ou que a safra do milho e feijão, grãos que precisam de chuva regular para crescer, pudesse ser prejudicada a partir de setembro. Apesar de ainda não haver certeza sobre o fim da estiagem, a previsão de chuva é motivo de comemoração para os agricultores catarinenses.
Alexandre Bergamin atua como coordenador da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf) e aguardava ansioso pelo retorno da chuva. Ele afirma que a condição de estiagem causou problema no crescimento da pastagem nos campos de gado, o que gerou preocupação com a alimentação dos animais e atrasou, por exemplo, a produção de leite.
— Por mais que o inverno seja sempre úmido, a falta de chuva acabou atrasando a produção, em especial a do leite, já que a pastagem não se desenvolveu como deveria.  O retorno da chuva nesse período anima muito, já que o agricultor está de olho no plantio — afirma Alexandre Bergamin, que também é agricultor familiar em Cordilheira Alta, município localizado a 17 quilômetro de Chapecó.
Além de melhorar a situação atual no campo, a chuva também traz tranquilidade para as próximas safras. Alexandre explica que em setembro começam as plantações de milho e feijão, que dependem de volumes pluviométricos constantes e significativos para o seu crescimento.
O coordenador da Fetraf acompanha a situação de outros produtores agrícolas e comenta que ainda no fim do mês, após a chuva, o produtor deve começar a preparação da terra para o plantio. Na semana seguinte, em setembro, o zoneamento agrícola já permite que os agricultores possam começar o processo de plantação, no qual alguns produtores iniciam a dessecação dos grãos e outros colocam grades pra mexer a terra e fazer o plantio.
— Eu mesmo estou planejando fazer o plantio já neste fim de semana. Se o tempo permitir, vamos plantar milho para fazer filagem para o gado de leite. A previsão é positiva porque ainda estava cedo para a safra e não estava chovendo, então nem tínhamos como plantar. Por isso penso que até a metade da semana que vem já podemos começar o processo — finaliza, animado, o agricultor.

Plantação de fumo e cebola deve ser normalizada

A situação no Alto Vale do Itajaí também era preocupante, principalmente por conta do início da plantação de cebola. Com pouca chuva e rios com nível baixo, alguns agricultores precisaram comprar equipamentos para realizar a irrigação das plantações e garantir que não houvesse perdas no campo. Ainda não é possível saber se o aumento de custo e o atraso na produção será repassado para o consumidor após a colheita.
Outra plantação que teve problemas foi do fumo. O analista de Desenvolvimento Rural da  Epagri João Rogério Alves explica que os agricultores não levaram as mudas para o campo por causa da seca e precisaram podar até três ou quatro vezes a planta, já que ela continua crescendo. Com a chuva, a planta deve ir para o campo e se desenvolver normalmente, sem causar perdas econômicas apesar do plantio estar atrasado.
— A gente tinha um quadro de estiagem que estava preocupando os produtores do Estado. Até então o quadro não estava alarmante porque as plantas estavam num estágio de desenvolvimento vegetativo, sem entrar em fase de reprodução ou frutificação. Além disso, ainda chovia num canto do município e do outro não havia estiagem generalizado. Mas essa chuva reverte o quadro, já que as culturas estão na fase de plantio e ainda é possível reverter qualquer possibilidade de perda — explica o analisa da Epagri.

Nível dos rios ainda é preocupante

Apesar da expectativa positiva com a previsão de chuva, ainda há incerteza com a situação dos rios em Santa Catarina. Nesta terça-feira, 18 estações hidrológicas estavam em estado de alerta ou emergência. O rio mais afetado é o Itajaí-Açú, no Vale do Itajaí, que tem estações em seis cidades com índice muito baixo.
As nove estações hidrológicas em situação de emergência, quando há risco de desabastecimento de água, estão em Guaraciaba, Alfredo Wagner, José Boiteux, Timbó, São João Batista, Joaçaba, Rio das Antas, Tangará e Rio Negrinho. Outras nove estão em estado de alerta, quando o nível está próximo do crítico, afetando os municípios de Forquilhinha, Canoinhas, Apiúna, Salete, Taió, São Martinho, São Carlos e Rio Negrinho.

Previsão é de muita chuva para os próximos dias

A chuva registrada na manhã desta terça deve continuar ao menos até a quarta-feira. Conforme o setor de meteorologia da Epagri/Ciram, as regiões Oeste, Meio-Oeste, Serra e Litoral Sul tiveram volume pluviométrico de 20 mm a 30 mm em apenas 12 horas. O Alto Vale do Itajaí, região que preocupava por causa da agricultura, teve intensidade um pouco menor durante o período, entre 15 mm e 20 mm.
Para as próximas horas, a expectativa é de chuva intensa para as regiões do Meio-Oeste, Serra, Litoral Sul, Grande Florianópolis e Alto Vale do Itajaí. A meteorologista da Epagri/Ciram Laura Rodrigues explica que o Estado deve ter chuva persistente e bem distribuída até quarta-feira, mesmo que no Planalto Norte e Litoral Norte o volume não seja tão expressivo.
— A condição atmosférica mudou no Estado. Se no mês de agosto e no inverno em geral a frente fria passou com atividade mais fraca, trazendo pouca chuva, agora as massas de ar começaram a atuar de forma mais intensa. A previsão de chuva deve fazer com que o índice do mês fique concentrado nesta segunda quinzena, atingindo a média histórica — afirma Laura Rodrigues.
A previsão da Epagri/Ciram é que volte a chover na sexta-feira, encerrando agosto com bom índice pluviométrico. Depois, a expectativa é que os meses de setembro e outubro tenham chuva na média histórica e até acima em alguns municípios, compensando os períodos de seca durante o outono e o inverno.
http://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2018/08/apos-quatro-meses-de-estiagem-agricultores-de-sc-comemoram-chuva-10545364.html