# Ruminação, a mais importante manifestação de bem-estar da vaca leiteira

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A produção pecuária com animais “felizes” será, cada vez mais, uma demanda do mercado consumidor que se preocupa com a qualidade e origem do produto animal e respectivos derivados, e num futuro não muito distante, provavelmente, as propriedades leiteiras deverão ter certificação, também, para esse aspecto.

O efeito da dieta na ruminação

Na ruminação o animal regurgita o bolo alimentar fibroso í  boca, remastigando-o demoradamente de modo a propiciar maior fragmentação das partí­culas, o que favorece a ação dos microrganismos para o melhor aproveitamento do alimento no rúmen e propicia a passagem das partí­culas não digeridas para adiante no trato digestivo, exercendo, portanto, um grande efeito sobre a capacidade de consumo.

Ao mesmo tempo, pelos movimentos mandibulares dessa remastigação intensa, as glí¢ndulas salivares são estimuladas a produzir secreção. Este comportamento é inato a todos os ruminantes, seguindo-se aos perí­odos de alimentação, ou seja, distribuindo-se ao longo do dia em ciclos cuja duração dependerá, principalmente, do tamanho de cada refeição e da composição da dieta. Por exemplo, vacas leiteiras podem necessitar de 25 a 80 minutos de ruminação por kg de matéria seca de alimento volumoso consumido. Normalmente, o animal destina 1/3 do ciclo diário (em torno de 8 horas – 450 a 500 minutos) í  ruminação, o que a vaca leiteira procura realizar deitada confortavelmente, priorizando o perí­odo noturno.

Portanto, o ruminante tem uma necessidade natural em ruminar, e, na medida em que esta demanda não for atendida, poderão surgir alterações comportamentais.

Vacas deitadas em confinamento, provavelmente em ruminação

Então, uma dieta bem balanceada, com um teor adequado de fibra suficientemente estruturada, deverá resultar em ruminação prolongada e intensa de modo a estimular a secreção de um volume de saliva, que poderá chegar até 250 litros/dia. A saliva, com seu elevado poder tampão (rica em bicarbonato) é fundamental para a neutralização da acidez produzida pela fermentação dos alimentos no rúmen.

Quando a ruminação e a decorrente secreção salivar não são suficientes, faz-se uso de aditivos tamponantes na dieta, como o bicarbonato de sódio e/ou óxido de magnésio, de modo a diminuir o risco de acidose no rúmen (queda do consumo, diminuição do teor de gordura do leite) e consequentes problemas de casco.

Daí­ que, como primeira conclusão, podemos ressaltar o importante efeito do manejo alimentar (composição da dieta, tamanho de partí­cula, número e frequíªncia de refeições, manejo das sobras no cocho) sobre a ruminação, consumo de alimento e resposta produtiva.

O efeito do bem-estar na ruminação

O tempo dedicado í  ruminação é “sagrado”, mas poderá ser voluntariamente reduzido em situações de desconforto e estresse (falta de bem-estar ambiental, doença, sensação de dor, ansiedade materna pós-parto, tratamentos do manejo sanitário) ou de atividade excessiva durante o cio, proximidade do parto, necessidade de longas caminhadas ou reordenamento da hierarquia quando da alteração de lotes de alimentação.

O deficiente manejo ambiental, com o animal fora de sua “zona de conforto”, ou seja, num ambiente com temperatura e umidade relativa do ar geralmente excessivas, superlotação no confinamento, dificuldade de acesso aos bebedouros, maus tratos, baias de “free-stall” mal dimensionadas e com camas inadequadas, ou mesmo, pastoreio sem disponibilidade de sombra e água fresca, corredores com lama, pedregulho, etc., terão efeitos negativos sobre o tempo de ruminação.

Por ser uma atividade fisiológica vital, a diminuição da ruminação deve ser considerada como um claro sinal que a vaca emite, quando em qualquer situação de anormalidade.

Assim, o monitoramento dos perí­odos de ruminação permite a constatação das condições de bem-estar e saúde do animal, principalmente nas primeiras semanas do pós-parto, quando a vaca leiteira está submetida a um estresse considerável e sujeita a distúrbios digestivos, metabólicos e reprodutivos, com consequente maior propensão í s mastites. A duração do perí­odo ideal de ruminação deverá voltar ao normal ao fim da primeira semana pós-parto e ser mantida ao longo da lactação.

Passados uns tríªs a quatro dias após verificação de uma queda na duração da ruminação, geralmente poderá ser observada diminuição na produção de leite. Então, o monitoramento da ruminação permite a tomada de medidas preventivas em relação aos possí­veis agentes causadores da falta de bem-estar.

A automação no monitoramento da ruminação

Devemos ter em mente que a observação permanente da atividade de ruminação de uma vaca deve ser considerada como uma ferramenta importantí­ssima no manejo diário, mas que, face í  limitação de tempo e ao crescente custo de uma mão de obra cada vez mais especializada, não é fácil de implementar.

Os prenúncios de contí­nua demanda de laticí­nios, ao mesmo tempo em que os recursos naturais escasseiam, sugerem o incremento da exploração leiteira intensificada em ambientes confinados, com aumento do número de animais por rebanho, o que torna necessária a adoção de tecnologia de automação para o monitoramento do bem-estar da vaca leiteira individual.

No meu post sobre nutrição de precisão eu havia comentado sobre um dispositivo desenvolvido na Suiça, que monitora a atividade mastigatória da vaca por meio de uma espécie de buçal e que pode detectar alterações na ruminação (RumiWatch).

Recentemente, foram publicadas pesquisas realizadas na Itália, com o emprego de um sistema automático de registro de tempo individual de ruminação, e que permite a compilação dos resultados em intervalos de duas horas. Num dos experimentos, conduzido no verão em “free-stall», ficou demonstrado que o estresse sob temperatura ambiente elevada está associado í  diminuição do tempo de ruminação, alterando o padrão diário da atividade em favor de uma ruminação noturna.

Em outro trabalho da mesma equipe, com a mesma metodologia, as observações foram realizadas durante o perí­odo de transição das vacas. O monitoramento dos tempos de ruminação demonstrou que as vacas com mastite clí­nica apresentaram diminuição do tempo de ruminação, já alguns dias antes do tratamento da doença.

Os autores concluem que o monitoramento automático do tempo de ruminação auxilia na predição da hora do parto e na rápida obtenção de informações sobre as condições de saúde, especialmente durante um perí­odo crí­tico como é a transição da vaca leiteira.

Atualmente, parece que a tecnologia de monitoramento eletrí´nico está em uso crescente nos EUA, principalmente nos grandes rebanhos e naqueles com limitação de mão de obra, possibilitando, com base nas alterações comportamentais sinalizadas pela atividade de ruminação, a realização de ações preventivas em relação ao bem-estar e saúde geral das vacas, além da detecção dos cios.

Prezado produtor de leite: como estará a ruminação de suas vacas leiteiras?

http://www.milkpoint.com.br/mypoint/23709/p_ruminacao_a_mais_importante_manifestacao_de_bemestar_da_vaca_leiteira_5342.aspx

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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