Preocupada com a situação da cadeia leiteira e o possível aumento do leite ao consumidor, a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), realizou na tarde dessa quinta-feira (13), uma coletiva de imprensa para alertar í população sobre o aumento. Os problemas decorrentes do período de estiagem, da frustração da safra de grãos americana e do alto custo de produção do leite farão com que o consumidor pague mais caro pelo litro do produto. No setor de produção de matéria-prima produtores já estão tendo dificuldades em manter seus rebanhos e começam a descartar animais.
Nessa quarta-feira (12), a Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV) divulgou nota aberta ao mercado alertando para a redução de seus estoques e reiterando que os reajustes nos preços do produto, ocorridos nas últimas semanas, devem continuar nas próximas. Neste míªs de setembro, o consumidor já está pagando uma média de R$ 2,26 pelo litro do leite no varejo.
Para a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) o cenário tende a se agravar. Com os Estados Unidos – maiores produtores mundiais de soja e milho – registrando quedas de produção de 27% no milho (101 milhões de toneladas) e 16% na soja (14 milhões de toneladas), a pressão do mercado internacional sobre os grãos brasileiros elevou em 30% o valor do milho e 42% o farelo de soja, nos últimos tríªs meses, em Goiás.
Custos de produção
O acréscimo nos preços tem impactado, substancialmente, no custo de produção da pecuária leiteira. Soja e milho são as matérias-primas básicas das rações ministradas aos rebanhos. Em Goiás, a ração do gado leiteiro representa 40% do custo da atividade. De setembro de 2011 para setembro de 2012, o custo do produto aumentou 60%.
Para se ter uma ideia do impacto deste custo, a cotação do farelo de soja em Goiás, no período de julho a setembro deste ano, teve um acréscimo de 42%; a tonelada do produto passou de R$ 910 para quase R$ 1,3 mil. No mesmo período do ano passado, a tonelada do farelo de soja valia pouco mais de R$ 580; aumento de 122%.
Com o milho ocorreu o mesmo. No período de julho a setembro deste ano o valor da saca do cereal aumentou 30%, saiu de R$ 20 para R$ 25, no Estado. No ano passado, a variação no mesmo período foi de apenas 6%. A elevação dos preços desses cereais fez com que o custo de produção do litro de leite, no estado, tivesse aumento substancial.
Hoje, os R$ 0,86 pagos, na média do míªs de setembro, pelo litro do produto, em Goiás, e o aumento na ração fazem com que a margem de rentabilidade do pecuarista de leite fique cada vez menor. Dos R$ 0,86 que o produtor recebe por um litro de leite, R$ 0,73 são gastos para aquisição de ração (veja quadro comparativo).
Como o governo deve atuar
De acordo com o presidente da Faeg, José Mário Schreiner, outro fator agravante é que as oscilações no mercado internacional de grãos chegam durante a entressafra do leite em Goiás, período do ano em que já há uma natural dificuldade com os custos de produção, devido í redução da pastagem – provocada pela falta de chuvas – e necessidade de suplementação do rebanho.
José Mário defende que o governo deve, neste momento, atuar como regulador de preços no mercado. Ele explica que está em tramitação no Congresso o Projeto de Lei (PL 3478/12) que desonera o mercado de rações para bovinos de PIS e Confins (incide sobre a ração taxação de 9,25%), porém o projeto segue para aprovação pela terceira vez, sem sucesso nas outras duas.
Outra medida necessária é a subvenção no transporte dos ingredientes das rações, por parte do governo, de forma que o custo do produto seja menor aos produtores que precisam alimentar seus rebanhos.
Também é preciso que o governo se atente para a retomada das negociações dos acordos de importação de leite em pó com Argentina e Uruguai. O acordo vigente com a Argentina, por exemplo, se encerra em outubro deste ano e novos patamares de importações devem ser estabelecidos para se evitar um surto de importação de leite Argentino para o Brasil, em pleno período de crise do setor leiteiro nacional.
Enquanto as medidas governamentais não chegam os produtores fazem o que podem. «Para reduzir custos, os produtores estão substituindo farelo de soja por caroço de algodão, milho por sorgo e vendendo animais para conseguir sustentar o restante do rebanho», revela José Mário.
Mas é preciso mais, defende o representante da Faeg, ele recomenda que mais do que nunca o produtor deve fazer as contas e usar todas as técnicas de gerenciamento disponíveis. Integrar-se em grupos para comprar os insumos em volume e em menor preço é uma das alternativas recomendadas.
Orientação técnica e gerencial
Para o superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Goiás), Marcelo Martins, é essencial que o produtor mantenha-se atualizado quanto í s capacitações técnicas e gerenciais da atividade. Ele ressalta que uma das principais ferramentas que tem auxiliado o produtor nesta empreitada é o programa Balde Cheio.
No Estado, o Senar já possui 22 unidades demonstrativas e nos próximos seis meses serão mais 39 unidades. O representante do Senar defende ainda que a qualificação da mão de obra que trabalha nessas propriedades leiteiras também é essencial quando se trata de redução de custos e aumento na eficiíªncia produtiva.
A mesma importí¢ncia também deve ser dada í atualização dos técnicos que atuam no segmento leiteiro e aos programas e ações que incentivam a sucessão familiar no campo.
Nessa linha de atuação, Marcelo Martins explica que o Senar possui uma gama de treinamentos de capacitação de produtores e trabalhadores que vão desde instruções sobre manejo, até empreendedorismo na atividade leiteira.
E para conter o íªxodo rural, a entidade está investindo em um extenso programa de capacitação de jovens para o Campo. Em parceira com o Governo Federal, o Senar finalizará 2012 com mais de 340 turmas do programa Pronatec e cerca de cinco mil alunos goianos do ensino médio envolvidos.
FAEG – Federação da Agricultura do Estado de Goiás
Autor: Francila Calica