Onde a economia sofre menos

Em meio ao cenário de recessão, o agronegócio é um dos setores que se sai melhor no Brasil. Dentro das fazendas, pecuaristas são os que mais têm motivos - e preços - para comemorar.
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São Paulo – Enquanto o Brasil vive dias de recessão técnica, uma das atividades mais antigas do País ainda tem algumas boas notícias a dar. É o agronegócio, cujo Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,8% no segundo trimestre deste ano sobre o mesmo período do ano passado diante de uma economia brasileira com recuo de 2,6%. Essa é a conta do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que considera apenas as atividades da lavoura e da pecuária. Se a soma incluir industrialização e distribuição no segmento, como contabilizam outros institutos, o cenário para o campo piora, mas ainda assim é quase de festa diante do que vive a indústria.

Preços de produtos agrícolas ainda estão altos

O que faz a diferença na economia dentro da fazenda e dentro do chão de fábrica? Há fatores conjunturais momentâneos puxando esse desempenho para melhor, mas especialistas lembram a lição de casa feita pelo agronegócio ao longo dos anos. “É um setor que investiu muito nos últimos 30 anos”, afirma a economista da Tendências Consultoria Integrada, Amaryllis Romano. Ela ressalta as inversões privadas e as pesquisas que deram ao segmento elevado grau de produtividade para cultivos como os de soja, café, cana-de-açúcar e milho.

O coordenador do Núcleo Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Renato Conchon, também aponta entre os fatores do bom desempenho a vocação brasileira para o agronegócio e as condições natas para produzir, como terras disponíveis e mão de obra. Mas ele cita ainda como impulsor os preços internacionais das commodities agrícolas, que seguem em patamares históricos. “No Brasil, essa desaceleração se deve muito à indústria”, afirma Conchon, sobre o que vive a economia brasileira como um todo.

Quem sustenta as boas novas da roça? Produtores de açúcar, café, celulose e papel, de carnes. São os setores que, segundo o executivo da CNA, vão bem. Amaryllis Romano também ressalta a pecuária, que deve ter queda de abates neste ano, mas preços melhores para a carne. A pesquisadora da área de Macroeconomia do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), Adriana Silva, também destaca a pecuária entre o que vai bem no campo.

Pecuária: setor vive bom momento

Os preços nominais (sem desconto da inflação) da carne bovina ficaram 21% maiores de janeiro a maio deste ano sobre o mesmo período do ano passado, segundo dados do Cepea. Também a cana-de-açúcar teve valores 3,5% maiores e o café, 13% mais altos. Já o preço da carne de frango recuou 1,5%, dos suínos 2%, soja e milho caíram 8%, trigo 22% e algodão 11%. Com essas contas em vista, Silva afirma que, no geral, os preços estão em patamares menores.

O Cepea faz, em parceria com a CNA, uma pesquisa que mede o PIB do agronegócio, mas a instituição leva em conta não apenas as lavouras e as criações de animais, o setor primário, mas também a produção de insumos, a indústria e a distribuição na agropecuária. E,para esse universo, o cenário econômico não é tão bom quanto apenas da porteira para dentro. O levantamento mostra que no acumulado do ano até maio houve queda de 0,23% no PIB sobre igual período de 2014.

Adriana Silva aponta um cenário incerto para o agronegócio, do qual dependem a variação do câmbio e o crescimento da China como mercado consumidor. “Grande parte da produção vai para o mercado externo, o câmbio incentiva a exportação”, afirma ela sobre o dólar valorizado no Brasil, o que dá ao produto mais competitividade no exterior. Mas nesta mesma balança estão as compras de insumos, feitas em dólares. Os adubos ficam mais caros para o produtor. A desaceleração do mercado chinês também pode atrapalhar a festinha dos agricultores e pecuaristas. “A maior parte das nossas exportações de soja vai para a China”, lembra a pesquisadora.

Amaryllis Romano não acredita que a economia chinesa, que deve crescer menos que o previsto neste ano, vá afetar muito o segmento. Ela afirma que a queda de preços das commodiites, por conta dessa desaceleração, já vinha acontecendo. A economista acredita que não haverá queda abrupta de preços da soja, por exemplo, em função da China.

 

Fertilizantes importados estão mais caros

Renato Conchon, da CNA, faz a conta do peso do dólar nas compras dos produtores agrícolas e acha que no atual patamar, a moeda pode atrapalhar a rentabilidade do segmento. Ele lembra que na última safra, o agricultor comprou os insumos lá pela metade do ano passado, com o dólar cotado na casa dos R$ 2,3 a R$ 2,6, e vendeu a colheita no começo deste ano, com a moeda norte-americana a R$ 3,2. “A rentabilidade foi boa”.

Já para a próxima safra ele está comprando insumos com o dólar valorizado e não sabe como estará a cotação quando for vender o produto. “Se estiver abaixo de R$ 3,20 ou R$ 3,30, é preocupante, a rentabilidade vai ser menor, o produtor corre o risco de entrar num processo de endividamento”, diz. Segundo dados da CNA, entre julho de 2014 e julho de 2015, os preços dos fertilizantes para o trigo subiram 33%, do inseticida usado para o cultivo de soja aumentou 16%, e o preço do diesel cresceu de 12% a 15%.

Outras comparações

Apesar de que quando comparado ao mesmo período do ano passado, o PIB da agropecuária brasileira cresceu no segundo trimestre deste ano, na comparação com os três primeiros meses anteriores ele caiu 2,7%. Isso porque no primeiro trimestre ele teve um bom desempenho, com crescimento de 4,7% sobre o período imediatamente anterior. A economia brasileira como um todo teve retração de 1,9% no segundo trimestre deste ano comparado ao primeiro. A indústria registrou recuo maior, de 4,3%, e o setor de serviços teve retração de apenas 0,7%.

http://www.anba.com.br/noticia_especiais.kmf?cod=21868838

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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