Região amargou quase dois anos de seca, prejudicando produtores.
Maiores prejudicados, agricultores familiares tentam retomar produção.
Apesar de irregulares, as chuvas que vem caindo na Bacia Leiteira do Sertão alagoano vem trazendo alívio para os produtores de leite da região, que amargaram quase dois anos seguidos de seca. Mesmo assim, o momento é considerado como de retomada, já que a mudança de clima é apenas o primeiro passo para a recuperação. Um processo que está só começando.
O presidente da Cooperação de Produção Leiteira de Alagoas (CPLA), Aldemar Monteiro, afirma que a crise atingiu tanto os produtores familiares como os médios e grandes produtores. “Todos foram afetados, mas o agricultor familiar sofreu mais porque o médio [produtor] consegue ter uma estrutura, uma coisa paralela, e o agricultor familiar não, ele depende totalmente do leite. Tanto que quando chove, automaticamente quem aumenta muito a produção é o agricultor familiar porque ele não tem como estocar os alimentos, então quando chove e tem o pasto o animal consegue comer melhor e produzir mais leiteâ€, explica.
Com cerca de 300 cabeças de gado e dono de uma fazenda na zona rural de Batalha, o produtor de leite Nado Nunes foi um dos que teve condições financeiras para suportar os momentos de aperto. Ele agora se prepara para enfrentar o período de estiagem que se aproxima.
Para isso, Nado investiu na produção de sorgo, planta que para se desenvolver, necessita de uma quantidade menor de água do que o milho. Ele está usando o sorgo na produção de silo para alimentar os animais durante o verão. Outra estratégia utilizada pelo produtor foi plantar a palma forrageira, para aumentar as reservas de alimento para o gado durante a estiagem.
“O período do Silo a gente tá colhendo agora, mas não foi 100% de aproveitamento, foi uns 60%, mas foi bom, melhorou. Agora a palma que eu plantei no início do ano, em fevereiro, teve aproveitamento de 100%â€, contou o produtor.
Investimentos
Para aumentar a produção de leite, o empresário também investe na melhoria da qualidade genética do rebanho. Muitos animais da propriedade são frutos da fertilização “in vitroâ€, técnica que consiste na implantação de embriões gerados em laboratório no útero de outras vacas.
“Quando eu comecei aqui, já foi fazendo a inseminação artificial. Agora, no início do ano, nós fomos a Mega Leite, em Minas, e eu comprei quatro animais de FIV [Fertilização in vitro], já que eu quero melhorar o rebanho. Estou pensando em comprar umas prenhes de FIV para aperfeiçoar ainda mais o rebanho. O custo ainda é alto porque nós não temos laboratório aqui, o pessoal vem de fora para fazer isso. Então fica na faixa de R$ 2.000 cada prenhe de FIVâ€, completa.
No assentamento Cajá dos Negros, também no município de batalha, as dificuldades ainda são grandes. No local, vivem 14 produtores de leite remanescentes de quilombolas organizados em uma associação. Cada associado possui cerca de quatro ou cinco animais e o leite produzido pela fica armazenado em um tanque de resfriamento para ser vendido para uma cooperativa ao preço de R$ 1,03 o litro.
A produção média de 250 litros de leite por dia, mantida nos bons períodos produtivos, caiu pela metade durante a seca. Com as chuvas, o mato cresceu e ajudou a amenizar a situação dos produtores, que amargaram um longo período sem pasto e sem reservas de alimento.
Os produtores de leite do assentamento contam que uma praga destruiu as lavouras de milho plantadas em maio para a produção de silo e a única reserva que os produtores dispõem no momento é o bagaço da cana, considerado de baixo valor nutricional.
Resistíªncia
O presidente da Associação dos Produtores Quilombolas do Cajá dos Negros, Cícero Leite da Silva, afirma que eles só conseguiram se manter graças í garantia da compra do leite por uma cooperativa parceira da associação. “Nós estamos esperando o período de chuva para fazer uma silagem, para ver se dá para manter o rebanho nesse verão que nós estamos esperandoâ€, revela.
No momento, apenas um laticínio se mantém em atividade em Batalha, considerada a terra do leite. O presidente da CPLA aposta na reativação da fábrica de laticínios Camila para alavancar o setor, que, segundo ele, voltou a crescer, mesmo que de forma lenta.
Símbolo do período áureo da bacia leiteira, a fábrica estava fechada há cinco anos após passar por crises de gerenciamento e interferíªncia política. Toda a estrutura física e os equipamentos foram adquiridos pela cooperativa em maio deste ano. A ideia é fazer o laticínio voltar a operar em 2014.
“A gente tem que cuidar de um planejamento para que realmente a a gente entre com uma indústria competitiva. Não podemos entrar em um mercado que tem multinacionais, que são muito profissionais, sem ter um planejamento. Fomos buscar a ajuda de vários parceiros para que a gente díª apoio a agricultura e aos empresários de Alagoas, e a gente consiga, com a união de todos os laticínios, todos os produtores, reativar essa indústria, para que ela alcance um nível muito importante no Nordesteâ€, finaliza Monteiro.
http://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2013/08/fim-da-estiagem-aumenta-producao-de-leite-na-bacia-leiteira-de-alagoas.html