Empresário do ramo digital pretende investir em laticínios

Koolen começa a erguer neste ano, em Jaborandi, no sudoeste da Bahia, um projeto que nasce com a ambição de ser o maior laticínio do Brasil.
Share on twitter
Share on facebook
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email

 
Filho de produtores holandeses de leite, Kees Koolen deu as costas para os negócios da família aos 17 anos. Ele deixou a pequena cidade de Berkeijk, no sul da Holanda, foi estudar engenharia mecânica e acabou enveredando para o mundo digital. O Booking.com, um dos maiores sites de reserva de hotéis do mundo (comprado pela Priceline, em 2005, por US$ 133 milhões), foi sua maior criação.

Agora, além de investir seu dinheiro em startups, gringas e brasileiras, e de ser conselheiro no badalado aplicativo de transporte Uber, ele decidiu empreender em algo menos virtual, bem distante do cenário «pontocom».

Para construir as instalações da primeira fazenda, a Agri Brasil pretende arrecadar R$ 1,5 bilhão. Cerca de R$ 500 milhões devem vir do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), que é gerido pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). A autarquia já aprovou o pré-­projeto da empresa de Koolen. Entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões sairão do bolso dele, e o restante está sendo negociado com outros investidores.

A ideia é produzir 1 milhão de litros de leite por dia no primeiro ano de operação. É muito leite. A Fazenda Colorado, maior produtora do País (dona da marca Xandô), produziu em 2014, por exemplo, 53 mil litros por dia, segundo levantamento da MilkPoint. Executivos do setor acreditam que o projeto é de difícil execução.

A construção da primeira fazenda deve começar no segundo trimestre deste ano, e a produção de leite, em 2016. O plano é comprar as primeiras vacas dos EUA e iniciar as atividades com a produção de leite UHT. A meta é estender a produção para itens como leite em pó, manteiga e leite condensado. «O projeto nos encantou», diz José Márcio de Medeiros Maia, superintendente da Sudene.

A empresa planeja criar unidades de negócio – cada uma com quatro fazendas. Cada fazenda terá 30 mil vacas e, segundo a companhia, deve gerar 1,2 mil empregos. Koolen e seus sócios já compraram uma área de 31 mil hectares para abrigar a primeira unidade de negócio.

O interesse dele pelo Brasil não é recente. Começou em 2006, quando o fundador do Booking.com procurava um lugar para investir em grãos (o agronegócio não era um setor de todo desconhecido do empresário, já que sua família manteve uma fazenda de produção de leite na Holanda até 1987). Pesquisando na internet, Koolen fez contatos por aqui, alugou um jatinho e foi conhecer o interior do País. Em três semanas, visitou mais de 50 cidades. Roda Velha, a 990 km de Salvador, foi o município que ele escolheu para iniciar suas plantações de soja, milho e algodão.

Nordeste

A cidade fica no sudoeste da Bahia, conhecida no setor agrícola por seu excelente microclima ­ que oferece chuva e temperaturas mais amenas se comparadas às do semiárido baiano ­ e por suas terras baratas. Enquanto um hectare no Sudeste varia de R$ 30 mil a R$ 100 mil, no oeste da Bahia a faixa de preço é de R$ 7 mil a R$ 12 mil.

Com o empreendimento, as visitas de Koolen ao Brasil se tornaram frequentes. Entre idas e vindas, ele reencontrou um velho conhecido da família – o empresário holandês Willy van Bakel, que atua há mais de 30 anos no mercado de laticínios. É dele, aliás, a ideia de montar um grande negócio de leite no Brasil. Em janeiro do ano passado, os dois marcaram uma reunião no aeroporto de Guarulhos e acertaram os detalhes da parceria que deu origem à Agri Brasil.

Bakel já estava no País havia um ano para estudar a viabilidade da operação. Boa parte de sua experiência no setor vem de uma grande empreitada americana: ele desenvolveu mais de 50 fazendas produtoras de leite nos EUA entre 1999 e 2008. Seis delas fracassaram e a imprensa americana chegou a relatar a frustração dos fazendeiros.

Assim como foi lá fora, o projeto de Bakel (e agora de Koolen) é ambicioso. A empresa dominará todas as etapas da cadeia de produção. Isso significa que ela vai, no mesmo local, produzir o alimento para as vacas, retirar o leite, processar e fabricar outros produtos – que devem chegar ao mercado sob a marca Nassau Foods. Segundo Antonio Martins, sócio brasileiro do projeto e ex­-diretor do Banco Central, a Agri Brasil pretende produzir sua própria energia, por meio de biogás.

Projeto.

O destino da produção é o mercado externo. Hoje, o País exporta 1% do que produz e importa cerca de 1 bilhão de litros de leite em produtos lácteos por ano. «Queremos colocar o Brasil no mapa mundial da indústria do leite», diz Koolen ­ coisa que nenhuma
empresa brasileira conseguiu fazer até hoje, por questões sanitárias e até por falta de estímulos para se investir no setor, que é altamente pulverizado.

Existem cerca de 250 mil fazendas que produzem e comercializam leite no mercado formal no Brasil. A maioria delas está nas regiões Sul e Sudeste. Minas, Rio Grande do Sul e Paraná respondem por 53% da produção nacional, segundo dados do IBGE referentes a 2013.

Entre as maiores do País, no entanto, há uma baiana, também de Jaborandi. A Agri Brasil será vizinha da Fazenda Leite Verde, dona da marca Leitíssimo, que ocupou o 16º lugar no ranking da MilkPoint. Fundada por neozelandeses, a empresa trabalha com o sistema de pastoreio, em que a vaca se alimenta no pasto.

O modelo da Agri Brasil será o de confinamento, no qual as vacas se alimentam no cocho, dentro de um galpão. O ambiente, segundo a empresa, terá tecnologia de ponta para garantir o bem­-estar dos animais e a produtividade. Koolen já fala até em instalar webcams na fazenda para o consumidor acompanhar o processo – online, portanto, como tudo o que fez antes.

Crise.

Há 15 anos, o holandês Willy van Bakel identificou nos EUA uma boa oportunidade para produtores de leite canadenses e europeus iniciarem novos negócios: o investimento em solo americano seria menor lá do que naqueles países. No total, ele desenvolveu 54 unidades entre 1999 e 2008. Seis outros projetos, no entanto, não foram para frente. Com a crise financeira, os bancos interromperam o financiamento e a construção ficou pela metade, segundo Bakel.

Em 2010, o ‘Wall Street Journal’ publicou uma reportagem com depoimentos de fazendeiros possessos. A reportagem relata que a antiga empresa de Bakel, Vreba­Hoff Dairy Development, usava o dinheiro dos próprios fazendeiros para erguer as unidades. Mas, para os que não tinham dinheiro suficiente, ele providenciava financiamento com bancos. A companhia faturava com a cobrança de taxas de serviços e de uma porcentagem sobre o custo final do empreendimento, que poderia passar de US$ 10 milhões, segundo o jornal.

Bakel diz que os fazendeiros e ele perderam dinheiro. O empresário acabou não conseguindo vender as fazendas que ficaram pela metade. Segundo ele, apenas um dos produtores entrou com uma ação civil reclamando o dinheiro de volta. As 54 fazendas em operação nos EUA, segundo Bakel, vão bem. A média de produção de leite por vaca é de 13 mil litros por ano.

A reportagem é do Estado de São Paulo, adaptada pela equipe MilkPoint.

Mirá También

Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

Te puede interesar

Notas
Relacionadas