A interferência do homem na mastite de gado #leiteiro

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Causada por bactérias encontradas no ambiente onde vivem gado de leite, a mastite – ou mamite, é uma infecção que atinge a glândula mamária do animal. A contaminação por esta doença pode ocorrer tanto por conta da falta de boas práticas no ambiente, quanto por meio do contato com leite contaminado de outros animais no momento da ordenha.

Dados da EMBRAPA Gado de Leite apontam que, no rebanho brasileiro, a prevalência da doença seja de 20% a 38%, o que representaria uma perda de 12% a 15% da produção. Segundo o professor do Departamento de Zootecnia (LZT) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), Paulo Fernando Machado, a doença pode causar alterações visuais no leite, na glândula mamaria e no próprio animal. “A composição química do leite é alterada, o que reflete em suas características organolépticas e consequentemente em seus derivados”, explica.
O docente afirma ainda que a mastite afeta também o tempo de prateleira do produto e de seus derivados e aponta que, para que o Brasil tenha condições de exportar seu leite, é necessária a redução da mastite. “O papel dos pecuaristas e de seus funcionários é essencial nesta questão”, comenta.
Para compreender qual é a interferência do principal agente dentro deste processo – o homem – o colombiano Juan Camilo Esguerra desenvolveu, em sua dissertação de mestrado, realizada no Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens da ESALQ, com orientação do professor Machado, um trabalho voltado para este tema. “A influência do homem na mastite de gado leiteiro” avaliou por meio de questionários, 68 rebanhos comerciais do sudeste brasileiro, concentrados nos estados de São Paulo e Minas Gerais.
Segundo Esguerra, os rebanhos foram divididos em dois grupos. Um grupo com 34 rebanhos, que incluíam apenas propriedades onde era possível identificar no gado leiteiro baixas Contagens de Células Somáticas (CCS) – menos que 200 mil células por ml de leite, e um grupo com os 34 rebanhos restantes, onde o gado produzia leite com alto índice de CCS – mais do que 700 mil células por ml de leite, o que diagnostica a mastite. “Foram avaliadas as características gerais dos rebanhos, como por exemplo, número de animais em lactação, produção diária do rebanho, raça, entre outros fatores. Porém, o foco da pesquisa foi o ser humano inserido nestes ambientes. Neste caso, avaliamos o pecuarista e o empregado, mais especificamente, o ordenhador”, explica o pesquisador.
Esguerra aponta que a principal fonte de informações para a formulação do questionário, que foi desenvolvido com base na literatura acadêmica, foi o trabalho de Jolanda Jansen, de 2010. “Ela se aproximou do problema da mastite na Holanda, e principalmente do fator humano”.
Segundo o discente, o questionário compreendia 180 questões. “Por meio da aplicação dos questionários, pudemos avaliar o dono da propriedade e o empregado abordando assuntos como, atitude, autoconfiança, nível de pressão social, habilidades e conhecimentos técnicos, dificuldades gerenciais e o comportamento do produtor frente à mastite. Da mesma forma, foi avaliada a situação dos equipamentos disponíveis para o ordenhador, seu nível de competência, motivação, satisfação de suas necessidades e sua postura ante a mastite”.
O homem como fator de maior influência
Em termos gerais, a pesquisa identificou que as fazendas com alta prevalência da doença não se diferem das propriedades com baixa prevalência. “Porém, quando observamos o fator humano, identificamos que os produtores de rebanhos com baixa CCS apresentam uma atitude mais favorável para o controle da doença do que os produtores de rebanhos com altas contagens. Isto evidencia o melhor comportamento frente à doença que estes produtores adotam. Um exemplo de ação positiva seria o descarte de animais doentes com maior frequência, diferente do que foi identificado nos rebanhos de alta prevalência”.
No caso do ordenhador, Esguerra aponta que os resultados foram semelhantes. Os empregados nas propriedades de baixa CCS também demonstraram ações que remetem à postura de seus empregadores, favoráveis ao controle da doença. “Estes ordenhadores aplicam corretamente o desinfetante pós-ordenha e com maior frequência do que os ordenhadores de rebanhos com alta CCS, entre outras ações”. Mas o pesquisador ressalta que este comportamento depende das ferramentas e equipamentos adequados e de uma atitude positiva do ordenhador frente ao trabalho. “Portanto, se o produtor apresenta a atitude correta, o funcionário da fazenda vai apresentar comportamentos favoráveis para o controle da mastite”, afirma. “Se além de não descartar vacas doentes ele não faz a manutenção adequada do equipamento de ordenha o risco da infecção na glândula mamária do animal aumentará”.
Esguerra resume a conclusão do trabalho em relação à interferência do homem e as relações administrativas de uma fazenda pecuarista. “Se o meu chefe não se preocupa com a produção de leite, por que eu me preocuparia?”, e aponta que “não importa quantas máquinas existam na fazenda, se o produtor ou o ordenhador não apresentam a atitude e comportamento corretos tanto em relação aos animais quanto aos equipamentos, as situações de risco da mastite estarão sempre presentes”, comenta o discente.
Prevenção
Segundo o professor Paulo Fernando Machado, não há como erradicar a doença, mas é possível controlá-la. “Para isso, dispomos de metodologia capaz de atingir este resultado. O MASP-Mastite – Método de Análise e Solução de Problemas de Mastite, desenvolvido na Clínica do Leite da ESALQ, é composto por procedimentos operacionais, ferramentas e capacitações de técnicos para identificar a doença, bem como suas principais causas nos confinamentos de gado leiteiro”, comenta o professor.
Por outro lado, o pesquisador colombiano indica que, posteriormente, possa ser desenvolvido um questionário que sirva como ferramenta para o diagnóstico da mastite nos rebanhos. “Porém, este primeiro material tinha o propósito de explorar a situação destas variáveis e constituir a base para futuros trabalhos que permitirão sua depuração”, conclui.

Lucas Jacinto
Estagiário de Jornalismo

 

 

 

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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