De janeiro a setembro, a receita com os embarques dos dois produtos somou quase US$ 1 milhão. Foram 182 toneladas de manteiga e 118 de queijos. Ainda são volumes pouco significativos, mas o potencial é de crescimento, uma vez que a Rússia tem hoje poucas possibilidades de fornecedores no mercado e as vendas estão apenas começando. De acordo com Marcelo Costa Martins, diretor-executivo da Viva Lácteos, que reúne empresas do segmento, a expectativa é que as exportações de manteiga alcancem 450 toneladas este ano e as de queijos, 350. «Para o ano que vem, se tudo andar bem, temos espaço para pelo menos dobrar essa quantidade», afirmou.
Uma das empresas que estão prestes a embarcar queijos para a Rússia é a Laticínios Tirolez. De acordo com Cícero Hegg, diretor comercial e de marketing da companhia, o primeiro embarque da Tirolez ao país será nesta segunda-feira. Serão 22 toneladas de queijo gorgonzola. No dia 26 de outubro, haverá outro embarque, mais uma vez de 22 toneladas, de queijos variados. «Os russos são grandes consumidores de lácteos e não são autossuficientes», observa Hegg. A expectativa, afirma o empresário, é embarcar à Rússia de 40 a 50 toneladas de queijos por mês, «pelo menos», nos próximos 12 meses.
Já a mineira Itambé, joint venture entre Vigor e Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR), estima embarques mensais de 100 toneladas de manteiga à Rússia. Segundo Ricardo Cotta, diretor de relações institucionais da companhia, há demanda para volumes maiores, mas não há capacidade para atendê-la porque não há matéria gorda suficiente para produzir mais manteiga. Para isso, seria necessário ampliar a produção de leite desnatado, já que a gordura do leite é a matéria-prima para a manteiga.
Até o ano passado, o Brasil não podia exportar à Rússia, mas a impossibilidade de comprar de vários países por causa das sanções levou Moscou a rever as regras que norteiam a importação. Antes disso, a Rússia só permitia a compra de produtos lácteos (leite em pó, manteiga, queijo e outros) de países livres de brucelose e tuberculose no rebanho bovino. Mas pôs fim à exigência e assim foi possível firmar um certificado sanitário internacional com o Brasil, que ainda não é livre das duas doenças.
As negociações para o estabelecimento do certificado sanitário internacional para a exportação de lácteos à Rússia começaram em junho do ano passado, segundo Marcelo Costa Martins, da Viva Lácteos. Em um período de três meses, foram identificados os requisitos sanitários para a exportação e houve inspeção de unidades por parte dos russos. Então, em setembro do ano passado, foram habilitadas 12 unidades e os primeiros embarques começaram.
A BRF, que então ainda não tinha transferido sua área de lácteos para a Lactalis, teve planta habilitada, aproveitou seu conhecimento do mercado russo – para onde já exporta carnes – e vendeu volumes significativos de manteiga. Nos três últimos meses de 2014, quando a demanda russa já era forte em função das sanções, foram 838,4 toneladas. Além disso, a BRF também foi a responsável pela exportação, em maio, de 182 toneladas de manteiga àquele país. Em julho deste ano, outras 11 plantas de lácteos do Brasil foram habilitadas a exportar para a Rússia. Agora, são 23 autorizadas.
O diretor-executivo da Viva Lácteos admite que a recente valorização do dólar ante o real e a melhora dos preços dos lácteos no mercado internacional também favorecem os embarques brasileiros à Rússia. Ele avalia que o Brasil pode se tornar um fornecedor mais constante para a Rússia por conta do embargo do país a outros exportadores de lácteos. Ele afirma haver uma percepção de que os russos têm tentando diversificar seu leque de fornecedores. «Duas a três vezes por semana, recebemos consultas de importadores russos interessados em queijo e manteiga», afirma.
Hegg, do Tirolez, acredita que a demanda forte por produtos do Brasil «vai durar o tempo que durar o embargo» do Ocidente ao país. Mas o empresário se diz «realista» e observa que os lácteos produzidos nos países europeus, mais próximos da Rússia, têm preços mais competitivos.
Fonte: Valor Econômico.