O Brasil é uma das alavancas que começam a colocar o Uruguai no território dos grandes exportadores mundiais de leite. O vizinho sequer é citado nos rankings internacionais dos principais países produtores, com uma oferta que não deverá superar 2,2 bilhões de litros neste ano – volume equivalente í captação da maior processadora brasileira de leite, a DPA (associação de Nestlé e Fonterra) -, mas seus embarques já se aproximam dos da Argentina, maior exportador latino-americano.
Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a Argentina vendeu 328 mil toneladas de lácteos ao exterior em 2011. E conforme o Instituto Nacional do Leite (Inale), autarquia do governo uruguaio com participação do setor privado, o país comercializou no ano passado 202 mil toneladas, por US$ 699,3 milhões. Desse total, o Brasil representou quase 30%. Em 2007, quando as vendas eram metade disso, a fatia brasileira não passava de 5%.
Entre 2010 e 2011, as exportações uruguaias de lácteos para o Brasil passaram de US$ 90,8 milhões para US$ 187,6 milhões. O produto uruguaio entra no mercado brasileiro livremente, enquanto as exportações argentinas ao país estão sujeitas ao regime de cotas. Na semana passada, ao comentar o assunto com jornalistas, o ministro da Agricultura do Brasil, Mendes Ribeiro, descartou a adoção de barreiras ao produto porque «o Uruguai respeita as regras do Mercosul». Os produtores brasileiros, entretanto, tíªm reclamado.
Para este ano, apesar da queda dos preços internacionais, a perspectiva no Uruguai é que a expansão global se mantenha. No primeiro quadrimestre, o país vendeu 71,4 mil toneladas de lácteos, por US$ 246,2 milhões, com altas de 41% no volume e 32% no faturamento em relação ao mesmo período de 2011. A participação brasileira, porém, teve um pequeno recuo: representou 25% das vendas de janeiro a abril.
No comércio bilateral, o produto permaneceu em posição de destaque. A cadeia do leite representou 14,8% das vendas de US$ 540 milhões do Uruguai para o Brasil no primeiro quadrimestre. í‰ o segundo item, abaixo de cereais. Leite e derivados são o quarto setor em importí¢ncia na balança global de exportações uruguaias, que somaram US$ 8 bilhões em 2011. Ficam atrás dos derivados da carne bovina e soja.
Segundo Gabriel Bagnato, coordenador de estudos do Inale, o avanço no mercado externo mudou o perfil do segmento no Uruguai. «Cerca de 70% do leite entregue nas plataformas industriais é processado para a exportação, de modo que a remuneração do produtor é regulada pela cotação internacional dos produtos, e não por variáveis internas, o que nos últimos anos permitiu ganhos importantes», disse. Em dólar, a remuneração ao produtor quadruplicou nos últimos dez anos.
O fato é que mudou o perfil da pecuária leiteira no país. Segundo o Inale, entre 2001 e 2010 a atividade passou a ser exercida por menos produtores, com maior investimento em tecnologia: a área ocupada pelo rebanho caiu de 1 milhão para 857 mil hectares e a quantidade de vacas em ordenha por produtor subiu de 51 para 66. A produtividade foi de 13,9 para 16,3 litros por vaca.
«O aumento da rentabilidade permitiu investimentos em genética e alimentação. A base dos rebanhos é formada por gado holandíªs sem cruza e pelo menos 50% da nutrição víªm de forragens e concentrado alimentar», disse Bagnato. A redução do número de produtores em dez anos foi de 5,1 mil para 4,5 mil, o que conforme Bagnato, «especializou» o segmento. «Praticamente a totalidade dos produtores dedicam-se primordialmente ao leite. «, afirmou.
No setor industrial uruguaio, há um oligopólio. A cooperativa Conaprole recebe cerca de metade do leite do país por dia, e dois terços da receita de exportações vão para o grupo, de acordo com ela própria. Muito atrás fica a mexicana Induláctea e a Ecolat, que foi adquirido do grupo venezuelano Maldonado pelo grupo peruano Gloria, em uma transação de US$ 20 milhões, de acordo com notícia veiculada na semana passada pelo jornal uruguaio «El País».
Fonte: Valor Econí´mico