#Se a Nova Zelândia é um exemplo, que seja um exemplo completo!

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No final de novembro, a Comissão de Meio Ambiente do Parlamento Neozelandês publicou um relatório intitulado “Water quality in New Zealand: land use and nutrient pollution” (Qualidade da água na Nova Zelândia: uso da terra e poluição por nutrientes). A publicação traz uma série de informações sobre a história da pecuária no país, conceitos relacionados à produção animal e seus potenciais impactos nas águas superficiais, e sobre políticas, legislações e programas que estão sendo desenvolvidos a fim de melhorar a qualidade das águas. O foco do estudo é a atividade leiteira e o potencial risco que ela pode representar para os recursos hídricos.

 

A principal conclusão do Relatório é que a expansão da produção leiteira está degradando a qualidade das águas superficiais. Outras conclusões que se destacam:

 

– A principal fonte de nitrogênio para as águas neozelandesas é a urina dos animais;

 

– A Nova Zelândia enfrenta um dilema entre a economia clássica e a conservação ambiental; apesar dos milhares de trabalhos sobre a internalização dos custos ambientais no custo de produção, isso não é a prática; essa internalização é repleta de muitos desafios;

 

– De um lado, há iniciativas destinadas a reduzir o impacto da agricultura na qualidade das águas. De outro, programas que visam à obtenção de maior retorno financeiro o que pode intensificar o impacto das atividades nessa qualidade;

 

– As práticas da produção leiteira mudaram e continuam a mudar de duas maneiras que afetam a concentração de nutrientes nos cursos d’água. Primeiro, o aumento da produtividade é muitas vezes acompanhado por uma maior perda de nutrientes. Segundo, as ações mitigatórias reduzem a perda de nutrientes.

 

O Relatório propõe as seguintes medidas mitigatórias para melhorar e conservar a qualidade das águas: não permitir o acesso dos animais aos rios, cercando a área e construindo passagens quando necessário; fazer o correto uso dos fertilizantes químicos e do efluente da ordenha na agricultura; preservar e recuperar as matas ciliares; evitar a erosão dos solos. Estima-se que o uso correto do efluente como fertilizante e da água na irrigação e a retirada dos animais dos cursos d’água podem reduzir as perdas de nitrogênio em até 20%.

 

Um ponto a se destacar são as similaridades históricas daquele país com o Brasil. Antiga colônia agroexportadora, no passado, o objetivo era fornecer produtos para o Reino Unido, atualmente, é produzir commodities para o mercado externo, sendo a principal o leite em pó exportado para Ásia; a produção agropecuária inicia-se com a derrubada e queima das florestas para criação de ovinos e bovinos de corte, tendo como uma das consequências a perda dos solos por erosão; o uso da terra é determinado pelo valor econômico das commodities; intensificação das atividades agropecuárias, no caso do leite, pelo uso de fertilizantes, irrigação de pastagens e aumento da lotação animal por hectare. Essas similaridades nos permitem prever que as mesmas ações poderão gerar reações similares no Brasil, sejam elas reações sociais e/ou ambientais.

 

Fatos históricos importantes foram a campanha “Dirty Dairing” (versão traduzida, “Produção Leiteira Suja”), iniciada em 2002, que atribuía à atividade a maior responsabilidade pela poluição das águas. Em 2003 foi assinado o Dairying and Clean Streams Accord (versão traduzida, “Acordo Produção Leiteira e Rios Limpos”) entre a Fonterra, Ministérios do Meio Ambiente e Agricultura e Conselhos Regionais. A partir disto, legislações e ações foram implantadas a fim de melhorar a relação da atividade com a qualidade do recurso natural. Em 2012 a avaliação desse acordo verificou que alguns objetivos foram alcançados e outros não. Neste ano, novo acordo foi estabelecido “Sustainable Dairying: Water Accord” (versão traduzida, “Produção Leiteira Sustentável: Acordo das Águas”) que preconiza o uso de boas práticas e condiciona, por algumas empresas, a coleta do leite ao cumprimento das metas.

 

A história é uma ciência fundamental para o desenvolvimento de um país e de uma atividade econômica. Aprender com sua própria história e com a dos outros, garantirá um futuro mais seguro com bem-estar social e econômico e qualidade ambiental. Abrir mão desse aprendizado significará incorrer nos mesmos erros; avançar e retroceder ao mesmo tempo; investir tempo e recursos financeiros sempre nas mesmas ações, não tendo resultados concretos e duradouros; depender de ações drásticas, com elevados custos social e econômico, pois não há planejamento, somente correção.

 

O setor leiteiro brasileiro tem a história e a condição da produção neozelandesa como um exemplo a ser seguido, basicamente por sua excelência produtiva, que nos últimos 20 anos aumentou em 60% sua produtividade.

 

O Relatório mostra que essa excelência também gerou e continuará gerando impactos ambientais negativos e conflitos sociais. Infelizmente, essa história não é uma exceção. Todos os países com tradição em produção de proteína animal têm a mesma história. Cabe ao Brasil mostrar que a história pode ser diferente!

 

Que a história da produção neozelandesa seja um exemplo completo para o Brasil! Que aumentemos nossa produtividade de leite por animal e por hectare, mas ao mesmo tempo, devemos impedir o acesso de nossos animais aos rios, usar fertilizantes químicos e orgânicos de forma agronômica e ambientalmente corretas, ter o correto manejo dos resíduos e efluentes da produção, promover o uso eficiente dos recursos naturais e dos insumos e adequar nossas propriedades as exigências da lei.

 

A história está nos ensinando que o simples aumento da produtividade sem a consideração do manejo ambiental produzirá danos que irão afetar o desenvolvimento da própria atividade, pois não existe produção de leite sem água de qualidade, bem como intensificará os conflitos entre a atividade e a sociedade.

 

Precisamos começar a escrever a história ambiental da produção de leite no Brasil!

 

http://www.milkpoint.com.br/cadeia-do-leite/espaco-aberto/se-a-nova-zelandia-e-um-exemplo-que-seja-um-exemplo-completo-86965n.aspx

 

 

 

 

 

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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