Crise ameaça empregos em Mato Grosso

A crise desencadeada pela operação Carne Fraca, que ainda não conseguiu ser contornada pelo governo brasileiro, atinge toda a cadeia produtiva e ameaça milhares de empregos, especialmente no setor frigorífico.
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A crise desencadeada pela operação Carne Fraca, que ainda não conseguiu ser contornada pelo governo brasileiro, atinge toda a cadeia produtiva e ameaça milhares de empregos, especialmente no setor frigorífico. A indústria de bovinos, por exemplo, emprega cerca de 18 mil trabalhadores em Mato Grosso, em 23 unidades, conforme estatística do Sindicato da Indústria Frigorífica (Sindifrigo/MT), e se a situação não mudar em breve, poderá “cortar na própria carne” os custos para manter as atividades.
O setor estadual representou mais de US$ 1 bilhão em exportações no ano passado. Com a suspensão dos mercados importadores, esse volume deve ficar retido no mercado interno que, segundo especialistas, não tem capacidade para absorver a quantidade. O impacto pode resultar na redução do preço da carne no mercado, mas também na redução de postos de trabalho em um dos setores que mais contratou nos últimos meses.
O economista Vivaldo Lopes acredita que os efeitos da Operação Carne Fraca serão “catastróficos” para Mato Grosso, já que o agronegócio e os setores derivados dele, movem a economia local e o problema afeta vários segmentos. “Um problema como este afeta toda a cadeia produtiva, não somente os frigoríficos, mas também os produtores, que ficarão com a produção represada. Além dos funcionários dos frigoríficos, afeta todos os setores que mantêm essa cadeia ativa, como os transportadores, vendedores de insumos e rações, os exportadores, o setor de serviços e vai resultar na redução da arrecadação de impostos, como o ICMS”, exemplifica.
“Eu prevejo um ‘inferno astral’ econômico pelos próximos 6 meses em decorrência dessa crise que não foi controlada com a agilidade que deveria. O problema foi mal conduzido e superdimensionado. Mesmo que os mercados externos voltem a importar, eles irão rever os contratos com as empresas brasileiras e isso demora. Além disso, eles irão fortalecer os controles sanitários para sua própria segurança. Agora, provavelmente as empresas vão dar férias coletivas aos funcionários para aguardar o andamento das negociações. Depois, se o problema não for resolvido, virão as demissões”, antecipa Vivaldo Lopes.
Sidney Aparecido Rodrigues de Amorim, presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Mato Grosso, informa que a denúncia da PF pegou a todos os trabalhadores do setor de surpresa. “Estamos em choque com a notícia porque atingiu negativamente a todos, mesmo aqueles que não estão sendo investigados na operação. Esperamos um pronunciamento da JBS e das outras empresas e estamos aguardando uma definição melhor dos mercados importadores. Esperamos que as empresas não venham a demitir e que deem apenas férias coletivas aos trabalhadores, até que essa situação seja contornada”.
O presidente da Federação teme que se a crise da carne não for controlada a tempo seja necessário encerrar as atividades em mais plantas frigoríficas no Estado. No ano passado foram fechadas 4 plantas e demitidos mais de 3 mil funcionários. “Fora os trabalhadores indiretos que deve ter chegado a mil prejudicados”, calcula.
“Tentaremos negociar as férias coletivas até que se resolva a situação que se transformou em uma avalanche para o setor”.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Alimentação de Nova Mutum, Juarez José Brugnago, também afirma que o reflexo da operação no município foi muito negativo, principalmente porque das duas plantas frigoríficas existentes no local (One Foods e Natural Porks), pelo menos a One Foods exporta para o Oriente Médio e Ásia.
As duas empresas empregam cerca de 3 mil trabalhadores, sendo cerca de 2,2 mil na One Foods e 800 na Natural Porks. O número de trabalhadores nos frigoríficos representa quase 20% do total de trabalhadores da cidade, estimado em 15,163 mil pessoas, segundo último censo do IBGE, em 2010. Além disso, os setores agropecuário e da indústria de transformação são o 2º e 3º setores que mais empregam na cidade representando, respectivamente, 20% e 14% do total de empregos.
Os dados demonstram que os impactos econômicos em Nova Mutum seriam grandiosos em virtude do corte de empregos, conforme foi previsto pelo economista Vivaldo Lopes sobre os reflexos sobre Mato Grosso.
A empresa One Foods é subsidiária da BRF e sua produção de frangos é destinada aos mercados do Oriente Médio e Ásia, conforme divulgado no site da empresa, na apresentação da marca em janeiro deste ano. Segundo o presidente do Sindicato de Nova Mutum, as atividades e a produção da unidade estão sendo mantidas normalmente no local. “Trabalho há 40 anos no setor e posso dizer que a empresa cuida muito da qualidade dos alimentos. Mas, essa notícia pegou a todos de surpresa e estamos preocupados em sermos atingidos pela crise de imagem, que pode resultar no desemprego, que vai afetar toda a cadeia”.
Janailton Pereira, 36, analista de produção da One Foods de Nova Mutum, é natural de Santa Catarina e reside na cidade há 5 anos. Transferido da BRF de Capinzal, no estado sulista, ele veio trabalhar na nova unidade. Atua no setor há 16 anos e diz que gosta muito do trabalho. “Meus colegas ficaram preocupados porque 90% do que produzimos é exportado, mas eu acredito que isso é apenas uma fase que já vai passar”, confia ele já que a unidade continua produzindo normalmente.
Na região de Alta Floresta há 8 plantas frigoríficas, sendo 3 localizadas no município, uma em Nova Canaã do Norte, duas em Colíder, uma em Matupá e uma em Guarantã do Norte. Elas empregam, juntas, cerca de 3 mil trabalhadores, segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Carnes e Laticínio do Portal da Amazônia (Sintracal).
Destas, duas unidades pertencem à JBS e estão em Alta Floresta e Colíder, com cerca de 1,4 mil funcionários, quase metade do total de empregados nos frigoríficos da região.
O presidente do Sintracal, José Evandro Navarro, informa que os funcionários estão apreensivos e diz que uma das empresas já considera conceder férias coletivas. “Nesta crise, quem vai pagar a conta é o trabalhador. E vai trabalhar aonde?”, questiona Navarro.
“O sentimento de apreensão é muito grande. Os trabalhadores estão com medo de ser demitidos e perguntam se terão férias coletivas, mas ainda não tivemos posicionamento definitivo das empresas. Até agora, apenas a Frialto de Matupá confirmou ao sindicato que dará férias coletivas ao setor de abate da unidade”.
Paulo Bellincanta, sócio-proprietário do frigorífico Frialto, confirmou que a empresa está fazendo uma avaliação do mercado para definir se dará férias coletivas de 10 a 20 dias aos funcionários da unidade de Matupá, a partir de 3 de abril. A empresa possui 3 fábricas, uma em Nova Canaã do Norte e uma em Sinop. “Apenas a unidade de Matupá seria paralisada temporariamente. As outras serão mantidas. Mas não há previsão de dispensa ou paralisação maior do que essa”, afirma o empresário.
Ana Maria Gonçalves, 47, atua no setor há 18 anos. Começou na BRF, onde permaneceu por 17 anos. Atualmente trabalha na função de monitora de controle de qualidade no frigorífico Pantaneira, localizado em Várzea Grande.
Ela afirma que a crise afetou a todos, apesar de uma minoria ser investigada. “O clima no trabalho está pesado, desconfortável. Com a crise, as pessoas podem deixar de comprar carne, consequentemente, haverá redução no abate e, para reduzir os custos, cortarão empregos. Todos estamos com receio do que pode acontecer, mas continuamos trabalhando normalmente, com confiança de que a situação melhore”.
http://www.folhamax.com.br/economia/crise-ameaca-empregos-em-mato-grosso/119124

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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