Com uma das piores secas dos últimos 50 anos, que deixou prejuízo no campo, com perda da lavoura de sequeiro, venda de animais e baixos níveis de reservatórios, a expectativa do setor agropecuário cearense é de boas precipitações em 2013. Este ano, a média de chuva no Ceará foi de 427,8mm, 52,7% a menos do que a média do período. A média da quadra chuvosa (fevereiro a maio) foi de 349,4mm, um índice inferior de 51,2 em comparação com a média histórica para esses quatro meses.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), haverá manutenção de um padrão desfavorável ao regime de precipitações nas regiões Norte e Nordeste do País. A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) só divulgará previsões sobre a quadra chuvosa (fevereiro a maio) na segunda quinzena de janeiro do ano que vem. Entretanto, uma reunião técnica na Paraíba, no próximo míªs, analisará indicadores atmosféricos. Meteorologistas nordestinos, do Inpe e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) analisarão as condições de temperatura do Oceano Pacífico e do Oceano Atlí¢ntico, a formação e localização da Zona de Convergíªncia Intertropical (ZCIT), que é o principal fator determinante de ocorríªncia de chuva no Ceará, além de pressão atmosférica e dos ventos.
Atualmente, a temperatura do Oceano Pacífico e do Oceano Atlí¢ntico na altura da Linha do Equador está neutra. «O sistema permanece neutro, sem caracterização de efeitos El Niño ou La Niña, no Oceano Pacífico Equatorial», explica a meteorologista da Funceme, Dayse de Morais. «Em janeiro, esperamos ter uma definição de um desses sistemas», adiantou.
FATORES METEOROLí“GICOS
Para o prognóstico, tríªs fatores são acompanhados com mais atenção, pois tíªm fortes influíªncias na determinação da quadra invernosa no Ceará: as temperaturas dos oceanos Pacífico, Atlí¢ntico e a ZCIT. Tendo por parí¢metro a Linha do Equador, quando a temperatura superficial do Oceano Pacífico Equatorial está mais aquecida ocorre o efeito El Niño, que tende a provocar chuvas fracas e irregulares no sertão cearense. Se ocorrer o contrário, isto é, a temperatura do Oceano Pacífico Equatorial estiver resfriada, verifica-se o fení´meno La Niña, que favorece a ocorríªncia de precipitações no Ceará.
Utilizando o mesmo parí¢metro, a Linha do Equador, a temperatura do Oceano Atlí¢ntico vai definir quadro de dipolo positivo (temperaturas mais elevadas no Norte e resfriadas no Sul) e Dipolo negativo, que é o inverso (mais frias no Norte e mais quentes no Sul). Para o Ceará, a ocorríªncia do dipolo negativo, isto é, águas mais quentes no Sul, é favorável, pois tende a manter a ZCIT sobre o Estado, provocando chuvas regulares e intensas no período.
Neste ano, ocorreu um fato curioso. Durante a quadra invernosa, verificou-se o efeito La Niña, que a princípio seria favorável para que houvesse um bom inverno. Entretanto, a formação de um dipolo positivo fez com que a ZCIT fosse deslocada acima da Linha do Equador, fazendo chover sobre o oceano, e não sobre o Estado.
Há de se observar ainda que os fení´menos La Niña ou El Niño tíªm duração mais prolongada (dois, tríªs meses), enquanto que a formação de dipolo positivo ou negativo caracteriza-se por mudanças mais rápidas, de curta duração. Essas modificações podem alterar as previsões climáticas e foi o que ocorreu neste ano quando, segundo os modelos da Funceme, havia uma probabilidade maior (40%) para que as chuvas ficassem na média histórica que é de 715mm, e 25% acima. Abaixo da média eram 35%, mas ao final da quadra observou-se a seca.
Fonte: matéria adaptada do jornal Diário do Nordeste
