Queijo escancara excessos da agropecuária nos EUA

Nos Estados Unidos, há tanto queijo que cada um dos habitantes do país precisaria comer quase 1,5 quilo a mais este ano para equilibrar o mercado.
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Nos Estados Unidos, há tanto queijo que cada um dos habitantes do país precisaria comer quase 1,5 quilo a mais este ano para equilibrar o mercado.

A abundância de queijo, na verdade, é apenas um indício do excesso de leite, carne bovina, suína e de aves que os produtores americanos começaram a acumular dois anos atrás, quando os preços estavam em alta e os mercados de exportação pareciam se encaminhar para um longo período de crescimento.

Os estoques abundantes de grãos reduziram o risco ao diminuir o custo da ração animal. A alta duradoura do dólar, no entanto, tem desencorajado muitos mercados estrangeiros a comprar produtos dos EUA, o que tem provocado um acúmulo de oferta no país justo quando a produção vem atingindo níveis recorde. Isso levou os preços de muitos bens no mercado doméstico a desabar para seus níveis mais baixos em vários anos.

As exportações de queijos e coalhada do país já caíram, em volume, 14% no ano até o fim de fevereiro, enquanto as importações cresceram 23%, impulsionadas pela depreciação das moedas da Europa, Nova Zelândia e Canadá, informou a agência de estatísticas de comércio do Censo americano.

A América Latina tem amortecido um pouco a desvantagem americana. A existência de cotas de exportação em países como a Argentina, que normalmente atende os mercados da América Latina, melhorou a competitividade do queijo americano, diz Jeff Gilfillan, estrategista sênior de mercado da consultora financeira RJO Futures, em Chicago.

A produção de leite das sete maiores regiões exportadoras continua aumentando, embora a um ritmo muito mais lento em comparação com o início da expansão, em 2014, disse em fevereiro Gregg Tanner, diretor-presidente da gigante americana de laticínios Dean Foods. A União Europeia é quem mais contribui para a alta, com um crescimento anual de mais de 5% na produção de leite desde que as cotas de exportação foram eliminadas, em março de 2015.

“Os agricultores tinham todos os motivos para expandir devido à forte demanda global”, diz Shayle Shagam, analista de pecuária do Departamento de da Agricultura dos EUA (USDA, da sigla em inglês). “Mas agora temos muitos produtos em busca de compradores, em um número de lugares muito menor.”

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O governo americano informou recentemente que os estoques de soja poderiam cair quase 25% este ano, à medida que cresce a demanda no mercado internacional. Já as perspectivas para os mercados de outras commodities não foram tão otimistas. O USDA prevê que a oferta de trigo e de milho continuará crescendo. O órgão estima ainda que a produção americana de carne bovina, suína e de aves vai se expandir 3,1% neste ano em relação a 2015, para 44,3 milhões de toneladas, já que os agropecuaristas estão ampliando suas operações e criando animais mais pesados, graças aos baixos preços dos grãos.

O excesso de queijo começou a se acumular com produtores como Carla Wardin, de 38 anos, que, junto com o marido, Kris, é dona do Evergreen Dairy, um laticínio no Estado de Michigan. Em 2014, quando os preços do leite estavam subindo, o casal aumentou o rebanho de 250 para 400 vacas e construiu um novo estábulo. Hoje, ninguém está ganhando dinheiro, diz ela, mas os produtores respondem da mesma forma quando os preços sobem ou descem. “Eles fazem exatamente o mesmo, ordenham mais vacas”, diz ela.

A expectativa é que os produtores americanos coloquem no mercado mais de 96 milhões de toneladas de leite neste ano, um volume recorde. Grande parte disso é vendida para a indústria do queijo, que armazena sua produção à espera que a demanda cresça e os preços subam.

A queda nos preços dos lácteos este ano apresenta um novo teste para a indústria americana. Afinal, desde a aprovação de uma lei agrícola, em 2012, o setor já não conta com a proteção do governo, que acumulava estoques para sustentar os preços.

As câmaras frigoríficas comerciais armazenavam o volume recorde de 540 mil toneladas de queijo no fim de março, o último mês para o qual existem dados disponíveis. É uma alta de 11% em relação ao mesmo mês de 2015.

Os americanos consomem em média 16,3 quilos de queijo por ano, por pessoa, mas não o suficiente para arrefecer a oferta.

O excesso de queijo e outros produtos marca uma virada drástica para o setor agrícola nos EUA, que há apenas alguns anos lutava contra a seca e doenças que afetaram o abastecimento e fizeram disparar os preços dos produtos para o consumidor final nos supermercados.

Os mercados de commodities muitas vezes oscilam entre altos e baixos devido ao tempo necessário para ajustar a produção à nova demanda. As decisões de expandir rebanhos de carne e leite têm de ser feitas com bastante antecedência, levando-se em conta os nove meses de gestação das vacas e os mais de doze meses necessários para que elas atinjam a maturidade.

“Em todas as commodities, o pêndulo se move muito em ambos os sentidos”, diz Justin Reiter, que junto com seu pai e irmão operam uma fazenda no Estado do Iowa, onde produzem milho e criam gado. Em 2013, quando a oferta era escassa e o mercado começava a decolar, sua família investiu US$ 800 mil em um novo celeiro. “Agora que as galinhas voltaram ao poleiro, os preços têm estado muito ruins”, diz ele.

Para os consumidores americanos, isso representa um alívio. Os preços de varejo do queijo caíram 4,3% em abril em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo a firma de pesquisa de mercado IRI. O governo dos EUA estima que os preços ao consumidor da carne bovina cairão até 2% este ano, enquanto os da carne de porco podem cair 0,5%.

Scott Meister, membro da terceira geração de uma família proprietária da queijaria Meister Cheese Company LLC, no Estado de Wisconsin, diz que sua empresa investiu milhões de dólares na expansão de sua fábrica em 2014, quando os preços excediam US$ 4,4 por quilo e a empresa não conseguia atender toda a demanda (Hoje, o quilo de cheddar registra o nível mais baixo em seis anos, oscilando em cerca de US$ 2,80 o quilo.) A Meister tinha planejado dedicar a capacidade de produção adicional a queijos especiais, mas agora está usando o espaço para produzir mais cheddar, o queijo padrão, numa tentativa de amortecer o impacto dos preços mais baixos com um aumento nas vendas.

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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