Numa era de águas vitaminadas e bebidas energéticas, um declínio no consumo de leite nos Estados Unidos, que já dura décadas, tem se acelerado, preocupando os produtores de leite, laticínios e redes de supermercados.
A indústria «está começando a reconhecer isso como uma crise», diz Tom Gallagher, diretor-presidente da Dairy Management Inc., uma entidade de classe financiada por agricultores que promove produtos lácteos. «Nós não podemos simplesmente presumir que sempre teremos um mercado.»
O consumo per capita de leite dos EUA, que atingiu um pico em torno da Segunda Guerra Mundial, caiu quase 30% desde 1975, mesmo enquanto as vendas de produtos lácteos como queijo, iogurte e outros subiam, de acordo com estatísticas do Departamento de Agricultura dos EUA, o Usda. Entre as razões para o declínio está o aumento da popularidade de águas engarrafadas e da preocupação de alguns consumidores de que o leite é muito calórico.
Outro fator, de acordo com o Usda, é que as crianças, que tendem a ser os maiores consumidores de leite, representam hoje uma parcela da população americana menor do que antes.
Para reanimar as vendas, os grandes laticínios e varejistas estão oferecendo embalagens menores e mais convenientes e variedades orientadas í saúde, incluindo leite com mais proteína destinado aos fãs da boa forma.
A indústria de laticínios também está redesenhando seu marketing para defender a autenticidade do leite de vaca e atacar alternativas de rápido crescimento como o leite de soja e o de amíªndoa, categorizando-os como «leite de imitação».
A recente aceleração do declínio se deve, em parte, ao aumento do preço do leite no varejo, resultado de custos crescentes de grãos usados na alimentação das vacas, dizem executivos do setor. Mas a profundidade da queda este ano surpreendeu alguns membros da indústria de alimentos, já que os preços do leite no varejo não subiram tanto este ano, depois de uma alta de 9,2% em 2011, segundo dados do governo.
O entregador de leite, um personagem extinto
Os americanos beberam uma média de 76,4 litros de leite no ano passado, um declínio de 3,3% em relação ao ano anterior e o maior descenso ano a ano desde 1993, de acordo com o USDA.
Até agora, este ano, o volume de vendas no varejo de alimentos dos EUA para todos os tipos de leite líquido, incluindo variedades não lácteas, caiu 2,9% em relação ao mesmo período de 2011, e o faturamento total em dólar caiu 2,2%, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado SymphonyIRI Group Inc., de Chicago. O volume de vendas para a maior categoria de leite — os semidesnatados e desnatados — caiu 4%.
Já as vendas de leite orgí¢nico estão crescendo, mas são responsáveis por apenas cerca de 4% das vendas de varejo, segundo a Dairy Management.
O declínio prolongado é preocupante para os varejistas, que há muito estocam prateleiras de leite nos fundos das
lojas como um chamariz, forçando os clientes a cruzarem seus corredores. «O leite é uma categoria extremamente importante para nós», diz Alan Faust, diretor de produtos lácteos e congelados da Kroger Co., a segunda maior varejista de alimentos dos EUA em vendas depois da rede Wal-Mart Stores Inc.
O diretor-presidente da Kroger, David Dillon, disse recentemente ao The Wall Street Journal que os consumidores talvez não considerem o leite tão saudável como antes. Então, a Kroger, que tem seus próprios laticínios, planeja começar a vender em breve uma marca de leite chamada CARBMaster que contém 20% a mais de proteína e menos teor de açúcar do que o leite convencional.
A Shamrock Farms Co., produtora de leite do Estado do Arizona, começou recentemente a vender um «construtor muscular», sua versão de leite de alta proteína chamado Rockin Refuel, em parceria com a varejista General Nutrition Centers Inc. Com o produto, que combina leite com chocolate e proteína adicional, a Shamrock está tentando atrair os consumidores que compram bebidas não lácteas para fortalecer os músculos, diz a diretora de marketing da Shamrock, Sandy Kelly.
A indústria do leite também está tentando atingir as muito atarefadas famílias modernas com novos tamanhos e estilos de embalagens. A Shamrock, por exemplo, criou garrafas de 200 ml, 240 ml e 355 ml, fáceis de carregar que são vendidas em redes de lanchonetes e tíªm como alvo as crianças.
A Dean Foods Inc., maior produtora de lácteos dos EUA, por sua vez, apresentou no ano passado um leite achocolatado com baixo teor de açúcar para crianças chamado TruMoo, e vende leite sem lactose nas redes de supermercados.
Source: Online.WSJ