#Leite:China passa por mais um escândalo de segurança alimentar. Fornecedores estrangeiros estão na mira

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Embora sinais de alerta como esse estourem a cada poucos meses na China desde que o consumo de leite tóxico matou seis bebês e causou problemas de saúde em 300 mil pessoas

 
China passa por mais um escândalo de segurança alimentar. E desta vez até os fornecedores estrangeiros estão na mira.

Nos últimos cinco dias, clientes de restaurantes desde Xangai até Tóquio ficaram atordoados por revelações de que hambúrgueres, nuggets de frango e outros produtos adquiridos em algumas das mais famosas redes de fast food do mundo – como o McDonald’s, a KFC e a Pizza Hut, as duas últimas controladas pela Yum! Brands – foram feitos com carne estragada.

A carne veio de uma divisão chinesa do OSI Group, processadora de alimentos com sede em Aurora, no Estado americano de Illinois. Essa divisão, a Shanghai Husi Food, apareceu em reportagem na TV chinesa no dia 20 que mostrava trabalhadores reembalando carne velha e mudando as datas de validade antes de remetê-la às varejistas. Em suas investigações, a polícia de Xangai já deteve cinco pessoas envolvidas.

Embora sinais de alerta como esse estourem a cada poucos meses na China desde que o consumo de leite tóxico matou seis bebês e causou problemas de saúde em 300 mil pessoas, há seis anos, eles se concentravam, até agora, em fornecedores locais. As mais recentes acusações, envolvendo uma empresa multinacional que vende seus produtos a varejistas de Japão, Estados Unidos e outros países, sugerem que os problemas da cadeia de distribuição de alimentos chinesa são ainda mais profundos do que se pensava.

«Acho que não existe nenhum alimento seguro na China», disse Yang Xue, de 30 anos, um auxiliar de escritório de Xangai. «Se você escolher outros produtos, o mesmo problema vai voltar a ocorrer. O governo deveria assumir a responsabilidade por causa de sua falta de supervisão», afirmou.

A reportagem da TV estatal Dragon mostrou imagens feitas com câmera oculta de trabalhadores nas instalações da Husi em Xangai trocando as datas de validade de carnes de frango e bovina vencidas. Depois da divulgação da reportagem, Starbucks, Burger King e lojas de conveniência da rede 7-Eleven deixaram de vender produtos da empresa. O governo do Japão também suspendeu importações da Shanghai Husi após a FamilyMart ter recolhido os produtos da processadora de seus pontos de venda japoneses.

A Yum! informou na quarta-feira que encerrou seu relacionamento com a OSI, que produz itens que vão de bacon até palitos crocantes, ou grissinis, em mais de 50 unidades de processamento no mundo inteiro, entre as quais dez na China. O McDonald’s informou que continuará aceitando alimentos produzidos em outras unidades da OSI.

O presidente do conselho de administração da OSI, Sheldon Lavin, pediu desculpas aos clientes chineses em comunicado divulgado na quarta-feira no site da empresa. Ele acrescentou que a empresa já enviou seus melhores especialistas mundiais para trabalhar com a equipe chinesa na questão. «O que aconteceu na Husi Shanghai é totalmente inaceitável», disse Lavin. «Assumiremos a responsabilidade por esses erros e cuidaremos para que eles jamais voltem a acontecer.»

A desconfiança dos consumidores chineses com o leite e outros alimentos nacionais os atraiu para as marcas estrangeiras. As três maiores marcas de leite em pó infantil da China são de empresas estrangeiras. Dessas, a Mead Johnson Nutrition, empresa com sede em Glenview, também em Illinois, lidera o mercado, com uma participação de 11,1%, seguida pela Nestlé e pela Danone, segundo dados da empresa de pesquisa Euromonitor.

Essa preferência por marcas externas beneficiou redes de restaurantes estrangeiras no passado, percebidas pelos clientes chineses como as redes que serviam alimentos mais limpos, disse James Button, diretor da consultoria do setor Smithstreet, sediada em Xangai.

«Os consumidores tinham antes uma ilusão de segurança», disse Button. «Se a pessoa comer num pequeno restaurante de propriedade familiar, pode não confiar inteiramente que a casa usa óleo limpo ou se a carne é fresca. Essa mesma preocupação agora abarca todas» as comercializadoras de alimentos e bebidas.

Alguns estrangeiros, como a empresária Su Lim, natural de Cingapura que morou na China por nove anos, comem apenas em restaurantes consagrados e usam água filtrada. «Há um custo adicional, mas você paga mais pela tranquilidade», disse Su Lim, que comanda uma rede de salões de tratamento facial em Xangai.

O caso da Shanghai Husi é um dos mais destacados exemplos de um fornecedor de alimentos de controle externo pego numa crise de segurança alimentar na China.

«A maior parte das empresas de capital externo operantes na China têm medidas de precaução de segurança alimentar bem desenvolvidas, mas, mesmo assim, operam com pessoal do país», disse Sebastien Breteau, fundador e principal executivo da AsiaInspection, cuja empresa ajuda marcas, varejistas e importadores a realizar operações de controle de qualidade de alimentos no país.

«Na Ásia, a indústria alimentícia tem menos maturidade e menos tempo para dar ênfase ao controle de qualidade, que exige tempo e instrução formal».

As dificuldades de supervisão na produção e no controle de qualidade dos alimentos permanecem, disse Peter Ben-Embarek, alto funcionário de segurança alimentar da Organização Mundial de Saúde (OMS), da ONU. As produtoras de alimentos da China desconhecem seu papel em garantir segurança alimentar e estão dispostas a sacrificar a qualidade na busca por lucros, afirmou ele, que hoje trabalha em Genebra mas já foi alto funcionário da OMS na China.

Em tese, os padrões de segurança de alimentos na China são, muitas vezes, até mais rígidos que os seguidos por muitos países desenvolvidos, como os Estados Unidos, de acordo com Chen Junshi, professor-sênior de pesquisa do Centro Nacional Chinês de Avaliação de Risco de Segurança Alimentar. O problema é que as companhias chinesas produtoras de alimentos são apenas estimuladas, e não obrigadas, a adotar padrões de conformidade mundiais em seu processo de produção, disse ele.

Nos EUA, as fornecedoras de alimentos são obrigadas por lei a fazer vistorias em busca de possíveis infrações de segurança, identificar riscos potenciais e desenvolver planos para preveni-los.

Existem cerca de 500 mil empresas de produção e processamento de alimentos na China, e cerca de 70% delas têm menos de dez funcionários, segundo a empresa de pesquisa de mercado Mintel Group. Nos EUA, são 30 mil empresas do ramo em operação. Estimativas apontam que na China há um funcionário da área de inspeção para cada 420 famílias de produtores rurais.

A China está tentando fortalecer a segurança alimentar do país com mais punições por infrações, intensificação da fiscalização de informações sobre segurança alimentar e aumento dos valores das indenizações a consumidores, todas medidas previstas em novo projeto de lei.

«Não vou mais comer produtos de carne no McDonald’s e no KFC no futuro», afirmou um estudante de pós-graduação de 21 anos de sobrenome Yu. «Não consigo acreditar que eles chegaram até a usar essa carne vencida».
Fonte: Valor Econômico

 

 

 

 

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Así lo expresó Domingo Possetto, secretario de la seccional Rafaela, quien además, afirmó que a los productores «habitualmente los ignoran los gobiernos». Además, reconoció la labor de los empresarios de las firmas locales y aseguró que están «esperanzados» con la negociación entre SanCor y Adecoagro.

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