Vale a pena tratar a mastite subclínica?

A mastite, uma das principais doenças do gado leiteiro, pode se apresentar de duas formas: a clínica e a subclínica. Na forma clínica, a doença é facilmente percebida, pois os sintomas de alteração do leite (grumos, coágulos, leite aquoso) ou do úbere são visuais.
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A mastite, uma das principais doenças do gado leiteiro, pode se apresentar de duas formas: a clínica e a subclínica. Na forma clínica, a doença é facilmente percebida, pois os sintomas de alteração do leite (grumos, coágulos, leite aquoso) ou do úbere são visuais.

Neste caso, a recomendação principal é o tratamento imediato do quarto afetado, pois o objetivo principal é proporcionar uma condição de bem-estar e saúde do animal, assim como buscar o retorno imediato da produção de leite. Na realidade, o produtor praticamente se vê obrigado a tratar a vaca, pois o leite não pode ser comercializado. E, sem o tratamento, corre-se o risco do agravamento da doença, que pode levar até à perda do quarto mamário.

Já as vacas com mastite subclínica não apresentam sintomas visíveis de alteração das características do leite ou do úbere. Para identificação desta forma da doença é necessário o uso de algum dos métodos de diagnóstico, como o CMT (california mastitis test) ou a CCS (contagem de células somáticas) do leite enviado ao laboratório.

Diferentemente da clínica, o leite de vacas com mastite subclínica pode ser comercializado normalmente. No entanto, dependendo da prevalência da doença no rebanho, há a preocupação de descontos quando o leite é remunerado com base na CCS do tanque. Os sistemas de pagamento por qualidade reduzem o preço do leite com alta CCS, cujo desconto varia entre as empresas de laticínios.

Atualmente, estima-se que cerca de 30% a 40% das vacas leiteiras apresentem mastite subclínica e que acima de 50% dos rebanhos leiteiros tenham CCS do tanque acima de 400.000 células/mililitro. Uma das principais dificuldades para o controle da mastite é a falta de rotina de diagnóstico da forma subclínica.

Na maioria dos rebanhos, essas vacas doentes permanecem sem nenhuma medida de controle durante toda a lactação, sendo que a maioria das vacas pode ser fonte de transmissão da mastite contagiosa para as vacas sadias. Para muitos produtores, a forma subclínica simplesmente não existe, pois não há uma rotina de diagnóstico. O principal prejuízo é a redução da produção leiteira e a manutenção de reservatórios de agentes contagiosos dentro do rebanho.

Sendo assim, uma das medidas mais recomendadas para o controle dessa mastite é adotar uma rotina de realização mensal da CCS ou CMT de todas as vacas em lactação. Com base nos resultados de CCS, pode-se então identificar quantas vacas têm mastite subclínica e as que mais contribuem para o aumento da CCS do tanque.

Para tomar decisões acertadas sobre o que fazer com animais com alta CCS, é necessário coletar amostras de seu leite para identificação da causa da mastite. Isso é feito por meio da cultura (mais informações sobre coleta de amostras: http://qualileite.org/). As principais medidas são: segregação do animal na linha de ordenha; descarte de vacas com mastite crônica; tratamento durante a lactação e aguardar o tratamento de vaca seca na secagem.

Na busca de soluções rápidas e imediatas, alguns produtores e técnicos podem tentar o tratamento durante a lactação, visando, assim, não somente reduzir a CCS do tanque e melhorar o preço do leite, mas também diminuir o potencial de transmissão de agentes contagiosos no plantel. No entanto, não é recomendável o tratamento da mastite subclínica somente com base nos dados de CCS individual das vacas sem conhecer as causas da mastite.

Esta decisão de tratamento deve levar em conta os benefícios e custos, e principalmente, se tal medida traz retorno econômico ao produtor. Sendo assim, numa situação em que a qualidade tem grande impacto no preço do leite, pode-se avaliar se o tratamento, mesmo de casos subclínicos, é uma estratégia viável, desde que criteriosamente utilizada.

A decisão de tratar ou não mastite subclínica deve ser feita com base nos possíveis benefícios e custos em cada situação específica e em relação ao tipo de agente causador envolvido, conforme o quadro.

Entre as vantagens do tratamento, podemos citar a cura das infecções intramamárias, a redução de CCS, de casos clínicos, de descartes e, além disso, a melhoria do bem-estar. Em relação ao rebanho, pode-se esperar que o tratamento reduza a transmissão da mastite contagiosa e melhore a qualidade do leite, o que pode significar maior remuneração. Contudo, deve-se considerar os seus custos: descarte do leite com resíduos de antibióticos (pode representar até 60% do total dos custos diretos), medicamentos, custos de exames laboratoriais e mão de obra. Sendo assim, a decisão de tratar ou não deve ser tomada com base nestes fatores e na probabilidade de cura.

Atualmente, a principal recomendação dos especialistas é para o tratamento de vacas com mastite causada por um tipo específico de agente contagioso, o Streptococcus agalactiae. Rebanhos que enfrentam problemas de alta CCS no tanque em consequência desse agente podem passar pelo tratamento intramamário (dois a três dias de tratamento, com antibióticos do grupo dos beta-lactâmicos: penicilinas e cefalosporinas) nas vacas positivas para tais agentes.

Tradicionalmente, este tipo de tratamento é chamado de “blitz terapia”, pois é possível atingir taxas de cura de até 95%, uma vez que essa bactéria é altamente sensível ao medicamento. Os benefícios diretos da blitz terapia são a redução da CCS do tanque, a redução (e até erradicação) de um agente altamente contagioso do rebanho, o aumento de produção de leite e melhoria da remuneração pelo leite. Desta forma, os resultados de pesquisa indicam que o tratamento da mastite subclínica causada por S. agalactiae é vantajoso e traz retorno financeiro no curto e médio prazos, mesmo considerando os custos de descarte do leite e medicamentos.

Para os demais agentes causadores de mastite, em particular para S. aureus, a recomendação é de que é mais adequado o tratamento da mastite subclínica no momento da secagem, usando-se a terapia da vaca seca em todos os quartos. Esta diferença de resposta ao tratamento ocorre principalmente pelas características dos agentes causadores de mastite e pelo local da infecção intramamária. Por exemplo, alguns agentes como S. agalactiae e Corynebacterium spp causam infecções superficiais, enquanto S. aureus e S. uberis são mais invasivos e se localizam em regiões mais profundas do úbere, o que dificulta a chegada dos antibióticos no local da infecção.

Mesmo que o tratamento de mastite subclínica causada por S. aureus possa reduzir a CCS do tanque e aparentemente eliminar o agente, os estudos sobre efeito do tratamento no médio e longo prazos indicam que as taxas de cura são baixas: 25% a 30%. Além disso, é importante destacar que as taxas de cura são ainda menores para as vacas velhas e com alta CCS antes do tratamento.

Outros importantes agentes causadores de mastite subclínica como S. dysgalactiae e S. uberis apresentam taxas de cura maiores, entre 75% e 60%, mas mesmo assim não têm recomendação de tratamento durante a lactação, pois os benefícios do tratamento ao longo da lactação não superam os custos envolvidos.

Nesta situação, é mais vantajoso segregar as vacas com isolamento de agentes contagiosos como S. aureus e aguardar a secagem para o tratamento de vaca seca. As vantagens do tratamento de vaca seca são evidentes, pois as taxas de cura atingem cerca de 80%, não implica descarte do leite, além do benefício da prevenção de novas infecções durante o período seco.

Desta forma, fica evidente que a escolha de se tratar ou não casos de mastite subclínica passa necessariamente pela análise da situação particular de cada rebanho, com relação aos prêmios de qualidade, preço do leite, prejuízos enfrentados pelo rebanho e em especial quanto ao tipo de agente causador.

As pesquisas científicas indicam que em algumas situações o tratamento de mastite subclínica pode ser uma estratégia que auxilia na redução de prejuízos e melhoria da qualidade do leite, desde que utilizada com critério e após avaliação dos custos e potenciais benefícios. Uma dessas situações é quando a fazenda tem vacas com mastite causada por S. agalactiae, pois a relação custo/benefício do tratamento é positiva para o produtor.

Por outro lado, para os demais tipos de agentes, este retorno econômico é questionável no médio e longo prazos. Além disso, o tratamento somente seria recomendado para animais com alta probabilidade de cura, como as vacas jovens (aquelas de primeira e segunda lactações), para as vacas em terço inicial de lactação e também para vacas sem histórico de mastite crônica.

O uso do tratamento continua sendo uma importante ferramenta de controle da mastite, mas as demais medidas preventivas para redução da transmissão de agentes contagiosos são sempre mais econômicas

*Matéria publicada na edição 77 da Revista Mundo do Leite, fevereiro/março de 2016
Fonte: Mundo do Leite

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