Vacas usadas em estudos científicos da Universidade de São Paulo (USP) começaram a ser transferidas de uma fazenda experimental do Estado de São Paulo, em Ribeirão Preto (SP), para uma estação em Nova Odessa (SP).
Segundo a Agência de Tecnologia dos Agreonegócios (Abta), o remanejamento dos animais foi provocado por uma série de furtos registrados no local nos últimos três anos, e que se intensificaram nos últimos meses. Na região, pecuaristas também tiveram prejuízos.
Pesquisadores temem que a transferência atrapalhe o andamento dos estudos científicos, como o do chamado «leite vitaminado», enriquecido com vitaminas que podem aumentar a resistência das pessoas e previnir contra doenças.
«Eles falaram que é um problema de segurança, mas não sana o problema nosso de segurança. Só estão tirando os animais, porque o problema de segurança vai continuar», disse a pesquisadora da USP Márcia Salles, que participa de estudos para produção de leite biofortificado.
Pesquisa
Segundo ela, levar as vacas para a sede do Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa, pode prejudicar a pesquisa. «A gente precisa pasteurizar o leite, não tem como a gente tirar o leite lá, a 200 quilômetros de distância, e trazer para pasteurizar. Estraga o leite», comentou.
Outras pesquisas que são desenvolvidas na fazenda de Ribeirão e que podem sofrer com a transferência das vacas são um estudo da Universidade Estadual Paulista (Unesp), sobre emissão de gás metano, e um estudo sobre segurança alimentar, com uso de soja transgênica como ração.
«Essa transferência vai acabar fazendo com que o corpo técnico seja cancelado, porque nem todos vão ser transferidos», disse o presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (Apqc), Joaquim Azevedo Filho.
«A gente acha que têm outros interesses e que por isso estão forçando essa transferência, com base nos animais que estão sendo roubados e não tomam nenhuma atitude contra isso», afirmou Azevedo. «Quanto mais roubar, mais vai justificar essa transferência».
Roubos e justificativa
Em entrevista ao G1, o presidente da Agência de Tecnologia dos Agronegócios, Orlando de Melo Castro, ligado à Secretaria de Agricultura, negou que o remanejamento afete os estudos científicos e que os furtos de vacas aceleraram uma transferência que já seria implementada.
«Era uma ideia que a gente já estudava há anos quando começamos a discutir priorização de programas de pesquisa de diferentes institutos», disse. «Uma das áreas que a gente tinha carência de trabalho era na seleção de gado de leite».
Segundo a Abta, nos últimos três anos foram furtados 64 animais da raça Jersey e foram recuperados 17 animais, com apoio das polícias Militar e Civil. Os furtos, entretanto, ajudaram aprejudicar o andamento dos estudos.
«Isso acelerou nossa decisão, porque são animais de pesquisa. Você tem um experimento com 5 ou 6 animais e se você tem um roubo de um lote ou de outro, você está prejudicando a própria pesquisa», disse Castro.
Questionado sobre possíveis investimentos em segurança dentro da fazenda para evitar os furtos, ele afirma que o custo seria maior que a transferência. «A gente tem vigilância na sede, com sistema de câmeras, que de fato a gente não tem problema de roubo, mas o problema é no campo e o custo de se manter essa vigilância é de R$ 500 mil por ano, o custo é muito caro».
http://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2016/03/vacas-usadas-em-pesquisas-da-usp-sao-transferidas-apos-serie-de-furtos.html