Medicamento desenvolvido pela Embrapa apresenta bons resultados no combate à inflamação
Um novo medicamento voltado ao tratamento da mastite bovina acaba de ser disponibilizado para empresas farmacêuticas do setor privado. O produto, que usa nanotecnologia e foi desenvolvido pela Embrapa Gado de Leite, MG, e Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), é a mais nova aposta da pesquisa agropecuária para enfrentar a doença que afeta rebanhos leiteiros em todo o mundo.
Acredita-se que uma em cada quatro vacas desenvolva a mastite, inflamação da glândula mamária, pelo menos uma vez ao longo de sua vida produtiva.
Nova solução – O pesquisador Humberto de Mello Brandão trabalha há dez anos no desenvolvimento de nanoestruturas capazes de tornar mais eficiente a ação dos antibióticos contra a mastite.
Brandão explica que nem todos os antibióticos conseguem atuar de forma ampla para combater os agentes que provocam a inflamação. Segundo o especialista, com o tratamento convencional, bactérias como o Staphylococcus aureus, grande responsável pela doença, costumam ser eliminadas fora das células de defesa do organismo, mas continuam vivas no espaço intracelular. Quando a célula de defesa morre, a bactéria fica livre e volta a se proliferar no interior do úbere da vaca, dificultando a cura dos animais tratados.
Isso explica por que essa inflamação é tão difícil de ser combatida. De acordo com Nunes, a possibilidade de se eliminar o Staphylococcus aureus durante o período de lactação, via tratamento intramamário, gira em torno de 30%. Com o tratamento da vaca seca (início do período entre as lactações) é possível ter êxito de até 80%. «Dificilmente a eliminação se dá totalmente», afirma o pesquisador.
Numericamente, os resultados clínicos obtidos com a nova formulação, resultaram num incremento de até 15% no combate ao Staphylococcus aureus em comparação ao medicamento convencional. Brandão ressalta que esses resultados foram obtidos com a metade da dose do antibiótico.
«Em nossas pesquisas, o número de animais portadores de mastite infecciosa diminuiu», comemora. «O medicamento também demonstrou potencial para prevenir novas infecções».
Como a nanoestrutura atua – A diferença entre o tratamento convencional e a utilização de nanoestruturas está basicamente em como o medicamento é carregado no organismo.
O antibiótico é encapsulado em uma nanopartícula menor do que a célula. Essa nanoestrutura possibilita que o medicamento chegue a compartimentos biológicos que formulações farmacêuticas convencionais não têm acesso como, por exemplo, o interior das células de defesa da glândula mamária.
A partir daí, é feita uma liberação controlada e direcionada do antibiótico diretamente no local onde o agente causador da doença fica protegido das formulações convencionais. Por ser mais eficiente e utilizar de forma mais racional os antibióticos, a nanoestrutura dificulta a seleção de bactérias resistentes, aumentando a vida útil do fármaco.
O projeto de pesquisa que deu origem ao produto, que será submetido às indústrias farmacêuticas por meio de edital público, teve início em 2007. As pesquisas contaram com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e foram desenvolvidas nos laboratórios da Embrapa e da Faculdade de Farmácia da UFOP. Nesse período, foram realizados diversos ensaios para garantir a segurança do medicamento.
Mastite – A inflamação da glândula mamária das vacas tem como consequência a redução da produção, a perda da qualidade do leite, o descarte prematuro ou até a morte do animal. O controle da doença se dá por meio de práticas de manejo corretas, entre elas, a desinfecção das tetas antes e após a ordenha. A prevenção e o tratamento são realizados em todo o rebanho no período de secagem das vacas, quando é administrado um antibiótico preventivo em todos os quartos mamários do animal. Esse é um dos momentos em que o antibiótico nanoestruturado alcança maior eficiência.
Fonte: Embrapa Gado de Leite
http://www.portaldbo.com.br/Mundo-do-Leite/Noticias/Nanotecnologia-no-tratamento-da-mastite/17475