Ministro Blairo Maggi. Foto: Antonio Araújo/Mapa.

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, afirmou nesta segunda-feira, 23, que a tabela de fretes aprovada há quase duas semanas pelo Congresso é um “impasse” e pode causar prejuízos nas próximas safras. “Há um impasse nisso. Eu, como produtor, não aceito essa tabela. Não aceito os valores que foram colocados”, enfatizou o ministro após participar da abertura do Global Agribusiness Fórum, em São Paulo.
A Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas foi criada pelo governo federal como forma de atender às reivindicações dos caminhoneiros, que fizeram em maio uma greve com bloqueio de diversas estradas.
Segundo o ministro, em alguns casos, os preços estabelecidos estão consideravelmente mais altos do que os acordados anteriormente e, por isso, os produtores estão evitando assumir compromissos e atrasando o plantio. “Como ela [a tabela] está destoante do que o mercado operava, nem as empresas exportadoras, nem aqueles que não querem assumir novos riscos, ninguém está fazendo mercado futuro”, ressaltou.
Maggi disse que os atrasos podem causar queda na produtividade de lavouras como a soja. “Lá em Mato Grosso nós plantamos soja no meio de setembro até metade de outubro. Quando chega novembro, se você ainda está plantando, cada dia que passa significa um saco a menos, em média. As janelas que nós temos são muito pequenos, e o prejuízo pode ser bastante grande”, exemplificou sobre o setor e a região onde atua como empresário.
O ministro acrescentou que, além disso, tem havido disputas entre fornecedores e produtores para cumprimento de contratos feitos antes do tabelamento. Alguns fabricantes de insumos, que vendiam com o frete incluso no preço, têm tentado rever as entregas já acordadas, enquanto os produtores exigem o cumprimento dos acordos, disse Maggi. “Também há discussões jurídicas em acontecendo. No final, é só confusão.”
O Supremo Tribunal Federal (STF) deve voltar a analisar o tema no fim de agosto. O ministro Luiz Fux é o relator, no STF, de três ações diretas de inconstitucionalidade contra a medida provisória que estabeleceu a política de preços mínimos. As ações foram abertas pela Associação do Transporte Rodoviário do Brasil (ATR Brasil), que representa empresas transportadoras, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Rússia

Blairo Maggi também comentou o embargo russo à carne suína e bovina do Brasil. As restrições foram anunciadas em dezembro, quando autoridades sanitárias da Rússia afirmaram ter encontrado ractopamina – substância que promove o crescimento muscular dos animais – na carne suína brasileira. Os produtos são legais no Brasil, mas o acordo comercial com a Rússia prevê que a produção vendida para o país não contenha essas substâncias.
Uma comissão técnica brasileira chega nesta segunda-feira à Rússia para tentar reverter a interdição à carne brasileira. Maggi disse que pretende ainda fazer com que o presidente Michel Temer discuta o assunto com o mandatário russo, Vladimir Putin, durante a cúpula do Brics, marcada para esta semana na África do Sul.

Guerra comercial

Maggi foi taxativo ao avaliar o conflito comercial entre Estados Unidos e China. “Para o Brasil, guerra comercial não serve para nada”. Recentemente, os chineses aplicaram taxas adicionais a algumas commodities agrícolas norte-americanas, como a soja, em retaliação a medidas tarifárias adotadas pelo presidente americano, Donald Trump.
Maggi lembrou que os preços da oleaginosa na Bolsa de Chicago (CBOT) caíram de US$ 11 por bushel para o patamar de US$ 8,50 por bushel devido a especulações quanto a possível redução da demanda chinesa. “Sem os grãos dos EUA, os compradores vão importar mais do Brasil, mas jamais pagarão a diferença de preço que perdemos nas cotações da CBOT”, disse.
Além disso, o ministro avalia que o eventual aumento dos embarques de grãos brasileiros vai elevar os preços internos da ração para aves e suínos, que precisarão ser negociados pro valores mais altos e perderão competitividade no mercado global. O mesmo deve ocorrer com a indústria de processados de soja, que produz farelo e óleo. “Com o tempo, as relações entre os dois países vão se ajeitar e o Brasil vai ficar com os prejuízos”, enfatiza Maggi.
Fonte: ESTADÃO CONTEÚDO.