Diante da falta de leite e do aumento dos preços, a empresa importou da matriz 80% do produto vendido aos consumidores brasileiros
Em 2016, a filial brasileira comercializou 20.000 toneladas de leite em pó no país e aumentou o faturamento líquido (R$ 305,5 milhões) em 35,1%, mesmo diante do cenário atípico: baixa oferta de leite e consequente aumento dos preços pagos pelos laticínios aos produtores. A falta de chuvas prejudicou as pastagens e fez subir o preço da ração. “Em mais de 20 anos de Brasil, foi a primeira vez que vi a produção de leite parar de crescer e faltar produto no mercado, movimento iniciado lá em 2015”, diz Maraggi.
Para driblar o problema, o laticínio recorreu à matriz, na Argentina. Trouxe de lá 80% do leite La Sereníssima vendido aos brasileiros em 2016. “A falta de produto resultou na recuperação de preços e maior facilidade para colocar volumes, mas oportunidades não existem se você não estiver pronto”, afirma Maraggi. “O que nos permitiu aproveitar a conjuntura foi toda a estrutura de distribuição montada ao longo dos anos, combinada com a reputação conquistada pela marca.”
Não há chance de repetição do desempenho em 2017. “O cenário atual é exatamente o oposto daquele de 2016. O que faltou neste ano está sobrando agora”, diz o presidente. A produção de leite, segundo ele, reagiu e cresceu 100% em 2017. Mas o consumo ainda não se recuperou e o setor experimenta queda relevante de preços, com efeito em toda a cadeia.
“Para se ter ideia, o preço do leite longa vida, que influencia todos os preços da cadeia, caiu quase a metade em um ano. O setor sofre muito nessa conjuntura, e estamos inseridos nele.” Mesmo com seus preços caindo menos do que a média do setor, segundo Maraggi, a La Sereníssima deverá ter uma expansão de faturamento pequena em 2017, da ordem de 2% a 3%.
O lado positivo são os primeiros sinais de recuperação do consumo, e a empresa se considera preparada para atendê-lo. Com estrutura enxuta – 120 funcionários na fábrica em Bragança Paulista (SP) e em dois escritórios, um em Barueri (SP), onde funciona a sede, e outro no Recife –, o laticínio dedica-se inteiramente à produção, vendas, distribuição e relacionamento com os clientes, uma vez que todo o investimento em pesquisa e inovação de marca e produto fica a cargo da matriz, onde trabalham cerca de 4 mil pessoas.
Por aqui, a administração foca na inovação e no uso da tecnologia da informação voltados para a melhoria de processos de negócios, relacionamento com clientes e uso otimizado da estrutura interna. “São iniciativas invisíveis externamente, mas que aumentaram nossa eficiência e reduziram vários custos”, afirma o executivo.
2017 um crescimento bem menor, da ordem de 2% a 3%
A filial também está empenhada em seguir a política socioambiental desenvolvida pela matriz. A Mastellone aderiu recentemente ao Marco de Sustentabilidade Láctea (Dairy Sustainability Framework), um projeto do Global Dairy Action Program (GDAA) para promover colaboração entre indústrias de lacticínio de todo o mundo.
Lançado em novembro de 2013, o marco tem como objetivo promover o fornecimento de produtos seguros e nutritivos a partir de animais saudáveis, sem descuidar da preservação dos recursos naturais. Empresas que aderem à iniciativa devem atender a critérios relacionados com a emissão de gases de efeito estufa, nutrientes de solo, resíduos, água, biodiversidade, desenvolvimento de mercado, condições de trabalho, segurança e qualidade dos produtos e cuidados com os animais, entre outros. A Mastellone foi a primeira empresa de laticínios na Argentina a aderir à iniciativa. “No Brasil, que eu saiba, ninguém participa”, diz Maraggi.
La Sereníssima era o nome de uma esquadrilha italiana que, inspirada pelo poeta, político e herói italiano Gabriele D’Annunzio, sobrevoou Viena em agosto de 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, e distribuiu folhetos pacificadores com as cores da bandeira italiana, em vez de atirar bombas, como seria o normal na época. A ação sensibilizou o queijeiro italiano Antonino Mastellone, que usou o nome da esquadrilha para o seu primeiro negócio na Argentina, em 1929. “É uma origem inspiradora, compatível com a imagem e a credibilidade de que a marca desfruta hoje”, afirma Maraggi.
http://revistagloborural.globo.com/Colunas/melhores-do-agronegocio/noticia/2017/10/laticinios-la-serenissima.html